Duarte Gomes explica o processo para avaliar foras de jogo através das linhas tecnológicas

Duarte Gomes explica o processo para avaliar foras de jogo através das linhas tecnológicas

NACIONAL26.09.202322:11

No Sporting-Rio Ave da 6.ª jornada, golo anulado aos vila-condenses (6 cm) deu que falar. O nosso especialista em arbitragem explica o processo das linhas tecnológicas

Como é realizado o processo para avaliar foras de jogo através das linhas tecnológicas? 

Tendo em conta o que se ouve e lê por aí, as dúvidas parecem ser muitas. A verdade é que nunca houve até à data uma explicação oficial sobre como funciona um sistema que decide algo tão importante para a verdade desportiva num jogo de futebol. 

Vamos então ao esclarecimento: 

1 — O lance de fora de jogo passível de revisão (por exemplo, de validação ou anulação de um golo) é identificado pela equipa de vídeoarbitragem; 

2 — O AVAR, geralmente é um árbitro assistente que assume essa função, indica a um dos operadores de imagem que está em sala (somos das poucas ligas que tem dois em permanência) onde deve colocar os três pontos que permitirão avaliar a legalidade da jogada. 

Que pontos são esses e qual a ordem da sua colocação? 

São os que servirão de referência visual à criação automática da linha de fora de jogo que todos vemos na transmissão televisiva. 

Um dos técnicos (geralmente o que aparece à esquerda do ecrã no processo de revisão) tem apenas essa função, a de ampliar a imagem e fixar cada um deles, recorrendo a uma espécie de mira, para que nada falhe. 

Quanto à ordem da colocação

A. O primeiro é fixado no frame correspondente ao início do toque na bola (o que corresponde ao último passe); 

B. O segundo é posto na parte mais adiantada do corpo do avançado em questão (sem contar com os braços, naturalmente); 

C. O terceiro na parte mais adiantada do corpo do defesa em questão (de novo, sem contar com os braços). 

3 — Este processo é repetido pelo menos duas vezes, com câmaras distintas: uma é a que está colocada no enfiamento do fora de jogo, a outra é a master, ou seja, a principal, que acompanha todo o jogo. 

4 — Da triangulação dessa informação nasce automaticamente a linha tecnológica do fora de jogo. Nessa não há nunca intervenção humana. 

Quando a linha aparenta estar torta ou a cortar jogadores ao meio, é mesmo uma questão de aparência, porque o processo é sempre realizado pela ferramenta, que a fixa ao nível do solo/relvado. 

A haver falha será na eventual colocação manual daqueles três pontos. Às vezes, basta um só frame mais à esquerda do ombro ou à direita da cabeça para gerar erro no número de centímetros apresentados, ou seja, na própria decisão de validar ou anular lance relevante. Mas, apesar de todos os cuidados em sala e das duplas verificações geralmente feitas quando as distâncias são curtas, isto é algo que ninguém consegue contornar neste sistema. 

O fora de jogo semiautomático que vimos no Mundial do Catar é mais evoluído e quase infalível, mas custa muitos milhões de euros e exige uma logística superior, nomeadamente estádios que permitam fixar câmaras especiais no topo/teto. Por cá são ainda poucos os que permitem essa inovação.