Eram cinco nuvens negras a pairar na cabeça do dragão: Lazio (1-2), Benfica (1-4), Moreirense (1-2), Anderlecht (2-2) e Famalicão (1-1). Nas últimas cinco deslocações em todas as provas, o FC Porto somara três derrotas e dois empates. Era ainda o regresso ao relvado onde, há 27 dias, colapsara para a Taça de Portugal. Talvez o mais sensato fosse Vítor Bruno correr o mínimo de riscos. Porém, o treinador apostou forte. Ainda com Alan Varela à procura de regressar ao nível que encantou os portistas e, por isso, sentadinho no banco, Namaso saltou para o lado do argentino e no onze titular surgiu, pela primeira vez, o menino Rodrigo Mora. O jovem médio de 17 anos somara apenas 57 minutos na Liga e, por isso, não se esperava que, logo em jogo de elevadíssimo grau de dificuldade (Moreirense: 1-1 com o Benfica, 2-1 a FC Porto e Sporting), lhe fosse permitido, se assim poderemos dizer, entrar de início. Mas ele entrou, ele dançou, ele cruzou, ele assistiu, ele marcou, ele encheu o relvado. Este ele, ele, ele, ele, ele, ele, pode parecer um exagero, mas não o é. Foi ele quem começou a desbloquear o jogo e o resultado. O futebol não é, como se sabe, algo individual. É coletivo. Não foi, pois, Rodrigo Mora quem ganhou ao Moreirense. Foi o FC Porto. O FC Porto de Samu (golo e assistência), o FC Porto de Nico González (bela pré-assistência para o 1-0), o FC Porto de André Franco (entrou e marcou quatro minutos depois), o FC Porto de Eustáquio (pré-assistência para o 3-0) e, claro, o FC Porto dos restantes dez. E também de Vítor Bruno. Que vai dormir, feliz, na liderança. Provisória ou não, logo se verá. O ouro da casa, como tão bem lhe chamou Vítor Bruno, começou a luzir bem perto do quarto de hora. Diogo Costa, Martim Fernandes e Fábio Vieira estavam em campo, Vasco Sousa e Gonçalo Borges mantinham-se sentados ao lado do treinador, mas apareceu, então, a atual maior coqueluche do Olival: Rodrigo Mora de Carvalho. Recebeu bola longa de Nico González, dançou todas as danças possíveis e imaginárias em frente a Maracás e cruzou de pé direito. A bola voou dez metros e encontrou a cabeça de Samu. Podia ter encontrado a de Frimpong, mas o defesa neerlandês ficou pregado ao relvado e foi o avançado espanhol a saltar e, subtilmente, a desviar a bola rente ao poste esquerdo: golo. Aliás, golaço. Não pelo desvio de Samu, sobretudo pela dança de Mora. Era o ponto alto do FC Porto até aí e acabaria por ser o seu único ponto verdadeiramente alto até ao intervalo, embora tivesse dominado o jogo de ponta a ponta nos primeiros 45 minutos. O Moreirense fizera sofrer Benfica, Sporting e FC Porto já esta época, mas aquele não era esse Moreirense. Era mais dócil e menos perigoso. A vantagem mínima ao intervalo retratava o que se passara, embora mais um golito dos dragões também o retratasse. Na segunda parte, sim, pelo menos nos primeiros 15 minutos, entrou em campo o Moreirense que fizera sofrer Benfica, Sporting e FC Porto. A equipa de César Peixoto começou, então, a ter uma espécie de arrufos contra o maior domínio do FC Porto. Um dos arrufos teve de ser travado por Nehuén Pérez de forma no limite do amarelo. A série de miniarrufos foi, porém, sol de pouca dura. Quase de seguida, Rodrigo Mora voltou a colocar talento em campo: dançou, dançou, dançou, rematou e golo. Resultado praticamente fechado. Começou, então, a dança dos treinadores: substituições. E numa delas, na troca de Fábio Vieira por André Franco, a dança colocou este na frente de Kewin e não falha: 3-0. Resultado, agora sim, fechado a sete chaves.