Do ex-alvo do Benfica ao regresso depois de meses de suspensão: histórias do Newcastle campeão
A festa do Newcastle após a conquista da Taça da Liga Inglesa 2025 (IMAGO)

Do ex-alvo do Benfica ao regresso depois de meses de suspensão: histórias do Newcastle campeão

Bruno Guimarães, Alexander Isak, Dan Burn e Sandro Tonali foram quatro dos jogadores-chave para o primeiro troféu conquistado pelos 'magpies' em 56 anos

Depois de 56 anos sem medalhas, o Newcastle sagrou-se vencedor da Taça da Liga Inglesa. Um troféu que, para os habitantes das margens do Rio Tyne, lá bem no norte de Inglaterra, é «como ganhar um Mundial», pelas palavras do capitão Bruno Guimarães.

O calvário dos adeptos do Newcastle, que estiveram 70 anos sem qualquer troféu nacional desde a conquista da Taça de Inglaterra em 1955, chegou finalmente ao fim com a vitória por 2-1 sobre o Liverpool na final em Wembley. E não foi só para os adeptos que o momento foi de grande emoção. As lágrimas correram também dentro do relvado após o apito final e espelham o processo atravessado por esta equipa que, em 2022, foi comprada pelo fundo de investimento saudita e, desde aí, atravessou uma renovação que culminou com o tão ansiado prémio. E alguns jogadores são, também eles, reflexo disso.

Dan Burn: cada um tem o seu pico

Dan Burn, defesa de 32 anos, terá, certamente, vivido a melhor semana da carreira. Depois de ser chamado por Thomas Tuchel à seleção de Inglaterra, a primeira convocatória da carreira, foi autor do primeiro golo da final, com cabeceamento certeiro em cima do intervalo.

Burn, adepto do Newcastle desde pequenino, sofreu um desgosto quando a paixão que tinha revelou-se incorrespondida: foi dispensado pelos magpies aos 11 anos. O reencontro estava marcado para 2022, depois de quatro épocas no Brighton, já com 29 anos e depois de ter passado várias épocas no Championship e na League One. Foi ganhando, aos poucos, espaço na equipa de Eddie Howe, tanto a central como a lateral-esquerdo e, com ajuda do tamanho, bateu Mac Allister nas alturas para a primeira erupção em Wembley. Após a partida, deixou uma confissão: «Já tive semanas piores que esta. Estou desconfiado que o sonho pode acabar, tenho medo de acordar e de ser tudo uma mentira», afirmou, visivelmente emocionado.

Dan Burn, do Newcastle 'desde pequenino', ergue o primeiro troféu do clube de coração em 56 anos (IMAGO)

Sandro Tonali: a verdadeira redenção

Ninguém diria que Sandro Tonali estava entusiasmado com a ideia de reforçar o Newcastle quando, em julho de 2023, o italiano deixou o Milan para rumar a Inglaterra, naquela que afirmou ser «a decisão mais difícil» da carreira. Dotado de inteligência acima da média, qualidade na construção e de capacidade de choque, foi a grande contratação do clube nesse verão, mas depressa se esvaiu o entusiasmo: em outubro, foi condenado até agosto seguinte por ter quebrado regras de apostas mais de 50 vezes, tanto em Itália como já em solo inglês.

O Newcastle não abandonou o jogador, que revelou que passou «meses em trabalho mental com psicólogo e psiquiatra» e que não podia tomar medicação por poder acusar positivo em testes antidoping, e, no início desta época, lá estava o médio de 24 anos a brilhar no vértice mais recuado do miolo composto pelo próprio, por Joelinton e por Bruno Guimarães. Voltou a fazer um jogaço na final, apagou Szoboszlai da partida e até Micah Richards, ex-jogador e comentador, deixou palavras de apreço: «O jogo é totalmente diferente com Tonali em campo!» Uma história de redenção de quem teve um problema, tratou de o resolver e, um ano depois de estar no ponto mais baixo da carreira, é protagonista de um acontecimento histórico para os magpies.

Sandro Tonali, com a medalha de vencedor da Taça da Liga Inglesa ao peito (IMAGO)

Não há dúvidas: Isak é superestrela

A seleção sueca perdeu Ibrahimovic, mas parece ter ganho dois avançados de calibre mundial. Além de Viktor Gyokeres, goleador do Sporting, Alexander Isak, de 25 anos, já há muito que promete e ainda não desiludiu. Esta época, já leva 23 golos em 33 partidas, é o melhor marcador da equipa em todas as competições, incluindo na Premier League, onde marcou 19 e assistiu cinco em 25 partidas e, na final, voltou a ser decisivo.

Avançado do Newcastle é o segundo melhor marcador da liga inglesa. #DAZNPremier
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O ex-Real Sociedad, que caiu muitas vezes pelo lado esquerdo do ataque, foi uma dor de cabeça do início ao fim frente ao Liverpool, graças à combinação de velocidade, força e técnica. E a frieza esteve novamente presente: três minutos depois de ver golo anulado, aproveitou uma bola a sobrar na área para, de primeira, fazer o 2-0 aos 53’, celebrando a apontar para Van Dijk, como que a perguntar: «É ele que me vai parar?» Não foi Van Dijk e não parece ser ninguém: custou 70 milhões de euros vindo da Real Sociedad e recusa-se a deixar Gyokeres tomar o trono de rei da Suécia.

O festejo de Alexander Isak após marcar o 2-0 frente ao Liverpool (IMAGO)

Bruno Guimarães: a consagração do 39

A história de Bruno Guimarães no futebol profissional começa com 18 anos, numa altura em que teve de decidir se seguiria ou não o sonho de uma carreira no desporto-rei. Filho de pai taxista, que conduzia o táxi 039 no Rio de Janeiro, foi convencido por Fernando Diniz, ex-selecionador brasileiro, a continuar. «Faças o que fizeres, vais ser muito bom, porque tens muita determinação e foco. Tens a alma de um grande jogador.» Foram palavras que ficaram com o jogador, que, ao rumar ao Ath. Paranaense, já tinha um número: o 39. Um número que parece destinado a mudar a vida de Guimarães, que, em 2020, esteve perto de rumar... ao Benfica.

Bruno Guimarães ao serviço do Ath. Paranaense (IMAGO)

Antes de ir para o Lyon, o brasileiro confessa que pensou que ia parar à Luz. «Estava tudo conversado», diz o médio, mas pedidos de última hora do Ath. Paranaense não permitiram a luz verde. Juninho Pernambucano entrou na conversa, fez a ponte entre Brasil e Lyon e, por 20 milhões, Bruno Guimarães rumou a França. Destacou-se, chegou a Newcastle em 2022 e, em três anos, consolidou-se como líder dos magpies e teve a honra de ser o primeiro capitão a levantar um troféu para o clube em 56 anos.

«É tudo para estes adeptos. Eles merecem tudo. Quando cheguei aqui, disse que queria colocar o meu nome na história. Agora podemos dizer que voltámos a ser campeões... Não tenho palavras. É o melhor dia da minha vida. Para eles (os adeptos) é como se fosse o Campeonato do Mundo», disse, em lágrimas, após a conquista. E como as dele, muitas havia no relvado e nas bancadas. Todos entenderam o peso deste título para o clube.

Bruno Guimarães, capitão que ergueu o primeiro troféu do Newcastle em 56 anos (IMAGO)
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