«Deixem os artistas passar», a crónica do Arouca-Benfica
Aos mais virtuosos até faz bem jogar com o peso de Eusébio nas costas; Musa assina golo digno do ‘king’; Quinta vitória seguida do Benfica
A bonança parece ter chegado ao Benfica, depois de ultrapassada a tempestade de maus resultados e pobres exibições, de contestações e intervenção de Rui Costa para serenar os ânimos mais exaltados de adeptos que pediam a cabeça de Roger Schmidt.
Os encarnados estão no melhor momento desde que regressaram para defender o título, somaram, pela primeira vez esta época, cinco vitórias seguidas em provas diferentes, têm um onze-base, controlam os jogos_(mesmo com alguns sustos pelo meio) quando não os dominam e emergem os melhores intérpretes. Em Arouca, os génios de Rafa, Di María ou João Neves, a quem o nome de Eusébio não pesou nas costas (numa homenagem ao king, que desapareceu há dez anos), soltaram-se quando foi preciso e até Musa marcou um golo digno no Pantera Negra.
O Benfica, não sendo uma equipa completa, por andar a ainda jogar com laterais improvisados, recuperou a serenidade na solidez do equilíbrio defensivo (dois golos sofridos nos últimos cinco jogos, nenhum nas duas últimas partidas), recuperou a confiança e o controlo quando tem a bola no pé e pela frente está uma equipa organizada, recuperou as circunstâncias para que possa emergir, mesmo em momentos de pressão, a qualidade individual de Di María, Rafa ou João Neves e, não menos importante, para que Arthur Cabral ou Kokçu se possam afirmar. E a expectativa, considerando o potencial dos intérpretes, é a de que a equipa ainda está a percorrer um caminho de evolução longe de estar completo.
O final da primeira parte (42’), com o Arouca a desperdiçar, por Mujica (grande intervenção de Trubin) e Cristo, o empate de forma incrível após oferta de Kokçu, não abalou a equipa de Roger Schmidt. Até esse momento o Benfica tinha sido a melhor equipa, apesar de o Arouca ter chegado ao intervalo com mais remates (7 contra 4). Marcou aos 39’, por Rafa, depois de passe magistral de Di María. O avançado português, antes, tinha marcado duas vezes, mas os lances foram bem anulados por fora de jogo. Notável no primeiro, porém, o lançamento de João Neves para Arthur Cabral, que depois ofereceu a finalização de Rafa; e notável, também, a recuperação, em pressão perto da área, e passe de Aursnes para o segundo lance.
Mas, ainda nos primeiros 45 minutos, o Arouca, que procurou sempre fechar o jogo num reduzido espaço de terreno, com os jogadores muito perto uns dos outros (expondo-se, no entanto, a passes de rotura), conseguiu explorar alguma fragilidade dos encarnados na recuperação defensiva.
A segunda parte abriu com o segundo golo do Benfica (47’), que começou numa recuperação de bola de Arthur Cabral e acabou com finalização de Kokçu, com participação de Di María e Rafa (sétima assistência na Liga).
A vantagem de 2-0, que, como se sabe, não é definitiva no futebol, reforçou a tranquilidade das águias. O Benfica começou, então, a gerir o jogo, deixou de ser tão afirmativo, algumas vezes até foi condescendente, mas não deixou de criar oportunidades. Ao contrário, explorando o espaço que o adiantamento do Arouca abriu, até chegou mais vezes à baliza do Arouca com perigo. João Mário (58’), depois de serviço por Arthur Cabral, Di María ( 58’), na tentativa de canto direto, e Rafa (62’), isolado mas traído por um ressalto da bola na relva, estiveram perto de marcar.
O espírito de Eusébio, aliás, deve ter descido, novamente, sobre Di María, quando o argentino tentou fazer um chapéu a Arruabarrena (82’), mas a bola saiu por cima da barra. E talvez tenha estado na bota direita de Musa, quando o avançado croata, num golpe artístico, desviou para a baliza um passe de Kokçu e fez o terceiro golo (85’).
Os adeptos dos encarnados, nessa altura, já faziam a festa nas bancadas e, no final, não perderam a oportunidade de lembrar o objetivo principal — a conquista do 39.º título. O sol volta a brilhar sobre o Benfica, fica, porém, por saber tempo durará.