Crónica: podemos falar do Arouca em hora de bater no dragão?
Eficácia tremenda nos primeiros momentos, seguida de empate; nem sempre a explicação está no demérito do mais forte; dragão longe do título, mas falemos do Arouca
Trinta e seis segundos de jogo, 31 toques na bola por parte do Arouca, 17 passes e golo. Correu bem, é certo, e provavelmente na maior parte das vezes não vai correr assim. Mas não é só sorte, e muito menos acaso. O Arouca trabalha diariamente com o mesmo conhecimento disponível - os mesmos livros e filmes e podcasts e vídeos - de qualquer outra equipa da Liga, incluindo o FC Porto. Trabalha com o mesmo profissionalismo e a mesma dedicação. O que lhe falta para ser campeão? Obviamente o dinheiro, obviamente a qualidade global do plantel, obviamente a expressão popular e o nível de atenção mediática.
Num só jogo, porém, quase tudo em futebol é possível. Na serra da Freita, ontem, foi possível equiparar duas boas equipas e - pasme-se - foi possível a mais pobre vencer a mais rica ou, se quisermos amenizar, a menos apetrechada vencer a mais robusta. Mas isto é futebol, acontece e nem sempre temos de procurar deméritos no gigante abatido. Ou pelo menos não devemos enviar todas as justificações, comentários e análises para o lado do grande clube, neste caso o FC Porto.
Já se viu que o Arouca entrou a ganhar, mas falta lembrar que o FC Porto empatou muito pouco depois. Aos dez minutos, na prática, o jogo estava a começar com o empate da ordem e a ligeira diferença de ser 1-1 em vez de 0-0.
Deixemos, portanto, a sorte ou o acaso do Arouca de lado, ao marcar no primeiro minuto.
Seguiu-se um jogo bem disputado, no qual os donos da casa não acusaram por aí além o golpe do empate portista e os dragões não conseguiram ser ameaçadores.
À passagem da meia hora Pepe foi imprudente, não escondeu a mão e foi assinalado penálti. Chegar ao intervalo a vencer foi um bom tónico para os Lobos da Freita. Ver o FC Porto desperdiçar um livre no último minuto de compensação da primeira parte, trocando a bola em vez de bombear para a área, se calhar também.
A verdade é que os donos da casa aguentaram a autoridade do FC Porto durante os primeiros minutos da segunda parte, souberam estender o jogo quando foi preciso e chegaram ao 3-1. A partir daí o dragão esmoreceu. Lutou, mas sabia que já não conseguia. Deixou o título muito mais longe, sim. Mas deixem-nos lá falar do Arouca.