Com o carimbo da DAZN, José Mourinho é a peça central da nova série que retrata a carreira do treinador português, atualmente no comando técnico da Roma. O ponto de partida do primeiro episódio de The making of José Mourinho recua 20 anos, para nos levar à temporada 2003/2004, na qual Mourinho conduziu o FC Porto à conquista da Liga dos Campeões. Tem como ponto de partida o jogo da segunda-mão dos oitavos de final, com o Manchester United, em Old Trafford, realizado a 9 de março de 2004. O FC Porto tinha vencido a primeira mão em casa, por 2-1, e bastava-lhe o empate para seguir em frente, tarefa ainda assim hercúlea. Os dragões acabaram por sair de Old Trafford com um 1-1 que lhes permitiu seguir em frente na prova, para continuarem a escrever uma das mais brilhantes páginas da centenária história portista, mas esse jogo ficou marcado por erro de arbitragem que acabou por prejudicar os red devils, que fizeram o 1-0 por intermédio de Paul Scholes ainda no primeiro tempo e viram o mesmo Paul Scholes, ainda antes do descanso, bater Vítor Baía pela segunda vez. O golo, todavia, não seria validado, algo que, reconhece José Mourinho, nunca teria acontecido se existisse VAR à altura. «Com VAR nesse jogo, teria sido golo, mas com VAR na minha carreira, em vez de 25 títulos, tínha ganho 50, porque fui tanta vez prejudicado, inclusive na Champions League... Prejudicado com decisões de árbitros... Liverpool-Chelsea [2004/2005], eu no Chelsea, na meia final da Champions, fui eliminado com golo em que a bola não entrou... Se houvesse tecnologia da linha de golo, o Chelsea tinha jogado a final e eu provavelmente teria sido o primeiro treinador a ganhar a Liga dos Campeões em dois anos consecutivos com dois clubes diferentes, FC Porto e Chelsea», testemunha Mourinho no primeiro episódio, que parte desse jogo diante do Manchester United de Sir Alex Ferguson para contar o lendário início de carreira do treinador português. «A primeira coisa que me vem à cabeça é que o tempo passa depressa, porque parece que foi ontem, mas não foi ontem, foi há praticamente 15 anos. Este duelo contra o Manchester é quase como um teste, queríamos medir forças», recorda Mourinho, que tinha então às ordens jogadores como Ricardo Carvalho, Deco, Benny McCarthy, Alenichev, Maniche, Vítor Baía ou Costinha. «No ano anterior tínhamos ganho tudo, o Campeonato, a Taça de Portugal, a Taça UEFA, e entrámos nesta época e somos líderes do Campeonato...», conta, antes de missão que parecia impossível para quem via de fora. «Tradicionalmente e historicamente as equipas portuguesas com as equipas inglesas eram eliminadas, sem praticamente nenhum tipo de oportunidades de apuramento». Do outro lado estavam jogadores da craveira de Paul Scholes ou Ruud van Nistelrooy, liderados, claro, pelo inevitável Sir Alex Ferguson. O FC Porto tinha ganho o jogo da primeira mão, no qual Roy Keane foi expulso, falhando por isso a partida no Teatro dos Sonhos. «Vínhamos de um jogo em casa onde tínhamos ganho por 2-1, e curto, não é ganhar 2-1 com grande felicidade, foi curto e sentíamos que podíamos ir a Old Trafford e naquele jogo conseguir ser apurados. Sabíamos das dificuldades, obviamente, mas íamos perfeitamente convencidos que íamos conseguir», lembra o Special One. «Jogámos em 4x4x2, com um losango no meio campo. Tínhamos uma equipa que jogava junta há ano e meio, tínhamos uma equipa que estava perfeitamente trabalhada para jogar no sistema tático que era sempre o que utilizávamos nos jogos das competições europeias, já vinha dos tempos em que estávamos na Taça UEFA na época anterior». Confiante, Mourinho até deu a conhecer o onze dos dragões antes da partida: «E quando chegámos a este Manchester-FC Porto não havia muito o que esconder, ou se mentia ou se dizia a verdade.» A responsabilidade estava toda do lado dos red devils e Mourinho sabia-o perfeitamente. «Será muito dificil para nós virmos aqui empatar 0-0 ou qualificar-nos só pela eficácia defensiva, não éramos esse tipo de equipa. Tem o facto de eu ter jogado contra um grande Manchester United sempre, grandes equipas, grandes jogadores, um estádio com este envolvimento, onde toda a gente vai e perde, onde toda a gente vai e sofre. Depois, como treinador, apanho um Manchester diferente, numa fase diferente da sua história, onde não era dominador, não era a equipa com os melhores jogadores do Mundo, mas num estádio que tem esta auréola, este fundo mítico...», sublinha. «A nossa preparação do jogo partiu de um pressuposto muito básico, que era: é muito difícil vir a Old Trafford e não sofrer golos, portanto, se sofrermos, nada mudará. Sabíamos que o golo podia aparecer, que uma equipa com Scholes, Giggs, Nistelrooy, com toda a dinâmica que tinha, com a própria pressão de um Old Trafford ganhador...» Scholes adianta o Manchester United no marcador aos 32 minutos após cruzamento de John O'Shea do lado esquerdo do ataque, após tirar Paulo Ferreira do lance, batendo Vítor Baía com golpe de cabeça. «Sabíamos perfeitamente que tínhamos de marcar, se marcássemos antes, poderíamos sofrer um golo e qualificar-nos, se nos marcassem primeiro, teríamos de marcar um golo para nos qualificar-nos», aviva Mourinho no final deste primeiro episódio, cuja segunda parte irá contar os segundos 45 minutos dessa partida que valeu a passagem do FC Porto aos quartos de final da Liga dos Campeões.