Bernardes Dinis é o ‘pai’ da Taça das Taças
Emblemático adepto leonino é o responsável pelas duas réplicas do troféu existentes nos museus leoninos em Lisboa e em Leiria; «Não imaginava que tinha de sofrer tanto para conseguir», confessa a A BOLA; Contributo decisivo de Dias da Cunha
É só mais uma história deliciosa e com a marca registada de… Bernardes Dinis. Mas, afinal, o que é que este quase octogenário ainda não fez pelo seu Sporting? Aceitam-se apostas…
Quando parece que já nada mais há para contar sobre a imensidão de repertório que se conhece deste fervoroso adepto dos leões, eis que surge sempre mais capítulo. E que, neste caso concreto, é relatado na primeira pessoa num rigoroso exclusivo de A BOLA.
Por detrás na novidade está a Taça das Taças. O único (mas altamente prestigiante) título europeu de futebol conquistado pelo Sporting. Corria a época 1963/1964 quando a formação leonina escalou ao topo da Europa e venceu brilhantemente a competição.
Mas ainda não se sabe tudo sobre este troféu. Ou melhor, sobre a réplica deste troféu. Sejamos ainda mais rigorosos: sobre as réplicas deste troféu. Porque o Sporting tem duas, de facto. E se tal é um facto, então há um responsável: Bernardes Dinis, o pai da Taça das Taças.
«Um certo dia, e por ocasião de uma visita que fiz ao Museu do Barcelona, deparei-me com uma réplica da Taça das Taças que o clube tinha conquistado. Nesse momento, decidi: eu também vou ter em Leiria uma réplica da Taça das Taças vencida pelo Sporting», começa por contar o fervoroso leão, não sem antes confessar: «Não sabia era que iria ter de sofrer tanto para conseguir!». «Agarrei na fotografia que tinha da taça e levei-a a um desenhador de uma fábrica na Marinha Grande. Daí a dois dias tinha o desenho em papel. Posto isso, falei com o falecido Carlos Vieira, que era o meu braço direito, e ele sugeriu-me irmos a uma empresa em Fervença [n.d.r.: no concelho de Alcobaça], cujo dono, Paulo Brunido, até era adepto do Benfica. Disse-me que não fazia aquele tipo de troféus, mas que tinha um amigo no Porto que faria com toda a dignidade. Era o José Abreu, adepto do FC Porto. Deixei lá o papel com o desenho e quando ele foi ao Porto levou-o ao José Abreu, de quem hoje sou muito amigo. Cerca de um mês depois, liga-me o José Abreu e diz-me que já tem a maquete para fazer a Taça e que o custo era de 5 mil euros. Ao que eu lhe respondo: peço desculpa, mas não tenho condições monetárias para suportar essa verba. E ele retorquiu: vou fazer, vou! Sabe porquê? Porque dragão rima com leão», explana Dinis.
E se a história está deliciosa, então prepare-se para o resto: «Ele não só fez, como veio do Porto a Leiria de propósito para a vir trazer. E sabe que mais, Eduardo? Ainda fomos almoçar e ele pagou o almoço! Que nobreza!»
Mas ainda não acabou… Afinal, quem iria pagar tão extraordinário trabalho? «Liguei ao dr. Dias da Cunha [n.d.r.: à época presidente do Sporting] a dizer que tinha mandado fazer uma réplica da Taça das Taças. Respondeu-me ele de imediato: mande fazer uma também para o Museu de Lisboa», explica, enquanto lhe caem mais umas quantas lágrimas pelo rosto. E Dinis fez o que Dias da Cunha pediu. Quem pagou? «Dias da Cunha, Ernesto Ferreira da Silva e Miguel Galvão Teles. Foram eles que custearam as duas réplicas que temos, uma em Leiria e outra em Lisboa», concluiu Bernardes Dinis, enquanto contempla pela milésima vez uma peça que está logo à entrada do Museu situado no coração da cidade do Lis e que é um ex-líbris do Sporting.
Heróis de Antuérpia eternizados em azulejo
O setor destinado à Taça das Taças tem várias particularidades. Sendo que, numa delas, emerge um azulejo em acrílico onde estão eternizados os rostos e os nomes dos heróis de Antuérpia. Os craques que no dia 15 de maio de 1964 ajudaram a escrever a mais gloriosa página europeia da história do Sporting Clube de Portugal.
Júlio, Carvalho, Ferreira Pinto, Pedro Gomes, Bé, Lúcio, Alexandre Baptista, Augusto, Louro, José Carlos, Hilário, Monteiro, Pérides, Alfredo, Lino, Figueiredo, Oswaldo Silva, Fernando Mendes, Mascarenhas, Morais e Géo – bem como a equipa técnica liderada por Anselmo Fernández – ficarão para todo o sempre perpetuados no livro de honra dos leões e nem esse pormenor Bernardes Dinis deixou ao acaso. Porque as memórias são as memórias…
A caminhada triunfal começou com a eliminação da Atalanta (Itália), mas os leões também deixaram pelo caminho APOEL (Chipre) – cujo resultado da primeira mão (16-1) ainda hoje continua a ser a maior goleada da história do futebol europeu -, Manchester United (Inglaterra) e Lyon (França). O jogo da final, diante do MTK Budapeste (Hungria), realizado em Bruxelas, a 13 de maio de 1964, terminou empatado (3-3), mas, dois dias depois, também na Bélgica, mas já em Antuérpia, o Sporting derrotou a formação magiar (1-0), com o célebre golo de canto direto apontado por Morais.
Estava tudo contado. O leão rugia na Europa. O esforço, a dedicação e a devoção culminavam, enfim, na glória. E Bernardes Dinis, à época com 19 aninhos, desabou em lágrimas…
Base em madeira… só em Leiria
Há uma diferença entre a réplica da Taça das Taças que existe no Museu do Sporting em Leiria e a outra que está exposta em Lisboa.
É que na cidade do Lis, a base dessa mesma réplica é em madeira. Algo que a UEFA só decidiu aplicar alguns anos depois de o Sporting ter conquistado o troféu.
Bernardes Dinis não se conformou e quis ter tudo… direitinho. Vai daí, mandou também fazer a referida base em madeira. Resultado? A perfeição em forma de taça. Ah, leão!