Benfica-V. Guimarães: A crónica
João Mário, Di María, Rafa Silva, Petar Musa / Benfica / Bruno Varela

Benfica-V. Guimarães: A crónica

NACIONAL02.09.202323:46

Brio vitoriano evitou males muito maiores - Benfica, num regresso ao passado, foi intenso ao longo de toda a partida; Depois da expulsão (justa) de João Mendes (19), sina do jogo ficou traçada; Aursnes, insuperável na entrega...

Ao contrário do que é habitual em equipas que estejam habitualmente fora dos quatro primeiros lugares da Liga, o Vitória Sport Clube apresentou-se na Luz disposto a discutir o jogo com o Benfica, apoiado num 3x5x2 versátil que lhe permitiu comandar as operações nos minutos iniciais, graças a uma pressão alta corajosa. Porém, do outro lado estava um Benfica empenhado em dar um bom espetáculo aos mais de 60 mil adeptos que demandaram a Luz (que recebia o jogo oficial número 500), e passado o impacto inicial tratou de colocar em sentido os forasteiros, primeiro com uma diagonal longa de Otamendi para Di María - coisa de campeões do Mundo - que o Fideo não foi capaz de concluir com sucesso (5). E logo a seguir, aos 11 minutos, Di María fez magia com uma trivela de ouro que Jorge Fernandes desviou para o fundo das redes de Bruno Varela

O Vitória ainda tinha atirado uma bola ao poste da baliza benfiquista, num lance em que o auxiliar assinalou fora-de-jogo a André Silva, e o árbitro mandou jogar para obedecer à lei da vantagem, já que a bola ficou na posse do Benfica.

Os dados estavam lançados e muito cedo percebeu-se que o jogo estava a partir-se, com vantagem do Benfica, que tinha sobretudo Rafa, Di María e João Mário a jogar entre linhas, com um espaço a que não estão habituados. Ainda com onze contra onze, Musa (16) foi egoísta e desperdiçou uma oportunidade soberana, mas três minutos depois dar-se-ia o momento que ia marcar de forma indelével a partida. João Mendes foi imprudente, pontapeou a cabeça de Otamendi e foi bem expulso por Nuno Almeida.

A partir daí aconteceram, de imediato, duas coisas: o Vitória acantonou-se num 5x4 que tornou Samuel Soares um mero espetador, e o Benfica passou a aproveitar a largura do campo para asfixiar pura e simplesmente, os forasteiros que iam resistindo como podiam.

Com Musa a trabalhar ao estilo de Gonçalo Ramos, e dentro das coordenadas estratégicas que eram pedidas ao agora jogador do PSG, Rafa endiabrado, Di María sempre disponível para receber a bola, e João Mário a fazer com Aursnes uma ala esquerda que o que perdia em profundidade, ganhava em pressão, a única dúvida estava em saber quando surgiria o segundo golo, que acabou por ser obra do trio que joga nas costa de Musa , com Di María a finalizar um passe açucarado de Rafa, muito bem assistido por João Mário. Com o jogo a ficar com muito mau aspeto para as suas cores, Paulo Turra mudou a tática de 5x4 para 4x4x1 aos 40 minutos (Manu Silva subiu para o meio-campo e André Silva passou a ser um tímido ponta-de-lança), na tentativa de defender mais à frente e sair do sufoco em que estava a viver.

Mas Kokçu, mesmo à beira do descanso, levantou a Luz com um golo de bandeira a passe de Di María e o que estava sentenciado, mais sentenciado ficou ainda. Ao intervalo Turra decidiu meter gente fresca (Zé Carlos e Tomás Handel), mas logo no primeiro minuto após o reatamento Aursnes fez o 4-0, deixando no ar a sensação de que o Vitória ia sair do anfiteatro benfiquista com um cabaz histórico.

E isso só não sucedeu porque os jogadores que têm D. Afonso Henriques no emblema foram homens de caráter e, mesmo com o jogo mais do que perdido, perante um belíssimo Benfica que só tirou o pé do acelerador à hora de jogo (o que fez Schmidt lançar João Vítor e Neres), foram capazes de evitar sofrer mais golos, com o senão de terem sido ofensivamente inofensivos (exceto no lance de possível golo, aos 76 minuto, que foi anulado por mão). Mas a prioridade, com o jogo perdido, passava sobretudo por sair da Luz com o mínimo prejuízo possível.

A equipa de Schmidt

Roger Schmidt voltou a deixar Neres no banco, optando pelo equilíbrio que João Mário dá à equipa. Manteve Aursnes a defesa esquerdo - algo que deverá mudar depois da paragem para as seleções quando Bernat estiver disponível - e escolheu João Neves, que tem o condão de manter sempre o jogo vivo, para companheiro de Kokçu, que lentamente se vai aproximando daquilo que pode e sabe. Assim, sem mudanças substanciais, nem coelhos tirados da cartola, o técnico alemão manteve fidelidade às suas ideias e apresentou um conjunto que diferiu bastante do que a equipa tinha feito nas jornadas anteriores, na intensidade na velocidade de recuperação da bola. Também foi sinal de que Schmidt é impermeável a pressões, o facto de ter optado por Musa em detrimento de Arthur Cabral, jogador em quem os encarnados investiram bastante. Em suma, depois de algumas dúvidas deixadas pelas exibições em determinadas fases dos jogos das três primeiras jornadas, o Benfica parece ter regressado à dinâmica que fez dele campeão e o levou longe na Champions...

O árbitro - Nuno Almeida (nota 5) Mal auxiliado na Luz, deve agradecer a André Narciso a ajuda preciosa que lhe chegou da Cidade do Futebol no golo anulado ao Vitória e no penálti revertido a favor do Benfica.