António Silva, o capitão sem braçadeira no Benfica
O gesto no dérbi com o Sporting, o dedo em riste na Champions e muito mais; jovem central é um líder silencioso nos encarnados
O atual capitão da equipa do Benfica é o argentino Nicolás Otamendi (e não há dúvida de que tem sido um bom capitão), o subcapitão é João Mário e em terceiro lugar na hierarquia surgem vários nomes, como o do médio norueguês Fredrik Aursnes ou.... o de António Silva.
O jovem defesa-central de 20 anos até já usou a braçadeira, quando ainda tinha 19 anos, e, ficando no clube por mais tempo — são vários os sinais de que nas próximas janelas de mercado devem chegar propostas fortes para a contratação do jovem defesa —, mostra ter algumas características que entusiasmam os benfiquistas, que nele veem potencial para ser o próximo grande capitão formado nos encarnados. Desde logo, o facto dele se confessar benfiquista ferrenho, de viver com visível intensidade o clube.
Acho que, enquanto líder, posso sempre dar um pouco à equipa, também pela minha juventude, também posso ajudar a equipa. Gosto de sentir essa responsabilidade.
Na cabeça de muitos adeptos ainda está, provavelmente, a imagem de António Silva a ir buscar os companheiros aos festejos do 1-1 nos últimos minutos do Benfica-Sporting de dia 12 de novembro, no Campeonato, dizendo-lhes que o momento não era para festejar o empate mas sim para ir atrás da vitória, que acabou mesmo por surgir, num golo do avançado dinamarquês Tengstedt, ao cair do pano do importante jogo que teve por palco o Estádio da Luz e vale às águias a liderança na tabela classificativa da Liga.
Mas, recuando um pouco no tempo, por exemplo, a fevereiro deste ano, no 3-0 ao Casa Pia da época passada, já víamos António Silva a dar sinais de liderança. Nesse desafio com os casapianos, João Mário marcou dois golos e quando num deles se ajoelhou para o festejar foi percetível a aproximação de António Silva, que pediu ao agora subcapitão para fazer o festejo de Gonçalo Ramos (as pistolas a fumegar depois de disparadas), ponta de lança que se encontrava a recuperar de uma lesão. «Faz o do Gonçalo!», pediu António a João Mário. E João acedeu ao pedido.
No futebol não se liga a nomes, o mais importante é defender o Benfica e foi o que tentei fazer.
Um pouco mais atrás, num dos duelos com a Juventus, na fase de grupos da Champions, também se viu António Silva, em época de estreia no plantel principal dos encarnados, em pleno palco da maior competição de clubes do planeta, a crescer para Bonucci, veteraníssimo dos italianos — António tinha só 18 anos, mas num golo apontado por João Mário, e perante a aproximação do italiano, o benfiquista, de dedo em riste, colocou-o no lugar. «No futebol não se liga a nomes, o mais importante é defender o Benfica e foi o que tentei fazer», justificou, na altura, António Silva. Comentário que revelou personalidade e sublinhado pelos que fez quando, num jogo particular de pré-época, no passado verão, no Algarve, frente ao Al Nassr de Cristiano Ronaldo, usou pela primeira vez a braçadeira de capitão das águias: «Na formação cheguei a usar muitas vezes a braçadeira e acho que, enquanto líder, posso sempre dar um pouco à equipa, também pela minha juventude, também posso ajudar a equipa. Gosto de sentir essa responsabilidade e os meus colegas depositaram essa responsabilidade em mim e estou muito feliz por isso.»
Peço desculpa pelo cartão vermelho. Saio deste jogo mais crescido.
Personalidade e ao mesmo tempo humildade, revelada já em 2023/2024, quando foi expulso nos minutos iniciais do 0-2 com o Salzburgo, na Luz, no primeiro jogo da fase de grupos da atual edição da Liga dos Campeões: «Peço desculpa pelo cartão vermelho. Saio deste jogo mais crescido.»
António Silva representa, pois, uma espécie de líder silencioso para a equipa, que faz a ligação entre o profissionalismo e a emotividade de representar o Benfica enquanto clube do coração, que António e João Neves, também formado no Seixal, personificam atualmente com grau de excelência. António Silva, 20 anos, titular desde o início da temporada passada, já com 60 jogos pela equipa principal das águias, 42 vitórias, 10 empates, 8 derrotas, 5.344 minutos de competição, campeão nacional em 2022/2023, já é uma referência do Benfica. E ganha espaço igualmente na Seleção Nacional, em representação da qual jogou o último Campeonato do Mundo, no Catar, no final do ano passado, e preparando-se para ser também escolhido para jogar o Europeu de 2024.
De Inglaterra já chegaram várias sondagens para o contratar, em Espanha o defesa é constantemente ligado a um potencial interesse do Real Madrid e, sabe A BOLA, há muito tempo que o PSG o tem na lista de jogadores a contratar. No verão passado, António Silva escolheu continuar no Benfica e mostra que tem tudo para ser o próximo grande capitão da Luz.