Alexandre Baptista: partiu um 'gentleman'
Alexandre Baptista morreu domingo, aos 83 anos (Foto ASF)

Alexandre Baptista: partiu um 'gentleman'

NACIONAL04.03.202419:11

Antigos companheiros recordam qualidades humanas

A morte de Alexandre Baptista no domingo, aos 83 anos, deixou um vazio na família sportinguista e com quem ele conviveu, pois na opinião dos companheiros de sempre, era diferenciado. «Era muito culto, levava sempre livros para o estágio para ler», recorda Pedro Gomes, seu antigo companheiro de equipa no Sporting. «Para mim, era o melhor amigo», diz pesaroso.

Alexandre Baptista jogava futebol mas nunca descurou os estudos, formando-se em Economia durante a carreira. «Ele provinha duma família já com algumas posses», recorda Mário Lino, seu antigo companheiro de equipa e, posteriormente, treinador, que relembra, também, a aptidão para outros desportos, como o ténis de mesa ou o basquetebol. «Era um desportista nato, sempre com uma correção acima da média», anota. Pedro Gomes recorre a um anglicismo para definir o amigo. «Era muito educado, um gentleman, nunca fazia uma falta violenta, apesar de jogar a defesa central. Era um daqueles centrais que gostava de sair a jogar, com a bola controlada», garante. «A mim ajudou-me muito porque ainda, por influência dele, tirei o décimo segundo ano já em idade adulta», revela.

A preocupação com os companheiro de equipa era uma constante. «Preocupava-se em ajudar toda a gente e preparar os companheiros psicologicamente para os jogos seguintes. Aconselhava-os», diz Pedro Gomes, com a voz embargada.

Da formação

Alexandre Baptista, natural do Barreiro, entrou com apenas 16 anos no Sporting para os principiantes. «Jogámos juntos nos principiantes, nos juniores e depois nos seniores. Ele tinha mais um ano do que eu mas éramos profundamente amigos», relembra Pedro Gomes.

«Fez parte de mais uma fornada do futebol de formação do Sporting, de onde já nessa altura brotavam talentos. Já nos seniores, no início da década de 60.,fez parte da regeneração da linha defensiva quando saíram nomes como o Lúcio ou o David Julius. O Hilário, defesa esquerdo, foi o único que se manteve», recorda Mário Lino, que não esquece, em 1963/1964, a caminhada até à conquista da Taça dos Vencedores das Taças, na qual Hilário não jogou a final e a finalíssima, diante do MTK Budapeste, por ter partido uma perna.

A solidificação na equipa sportinguista valeu-lhe a chamada à Seleção Nacional, pela primeira vez em 1964, no apuramento para o Campeonato do Mundo de Inglaterra, no qual marcou presença na fase final, participando em cinco dos seis jogos que levaram Portugal ao terceiro lugar na prova. «Estreei-me com ele na Seleção, mas não estive em Inglaterra porque , nessa altura, parti uma perna», lamenta Pedro Gomes.

Esta ligação a Alvalade conferiu-lhe outra característica: «Era profundamente sportinguista.»

Alexandre Baptista despediu-se dos relvados na época 1970/71, com 30 anos, quando foi para a Guerra Colonial. No currículo ficaram dois campeonatos nacionais (1965/66 e 1969/70), uma Taça de Portugal (1970/71) e uma Taça dos Vencedores da Taças (1963/64), onze internacionalizações e o terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1966.