Academias Sporting: uma viagem ao segredo mais bem guardado do leão
Projeto começou em 2006 com 4 escolas, hoje são 32 e acolhem 6500 jovens; formar, promover a marca mas também detetar talentos; 350 miúdos já chegaram aos escalões de competição
Quando em 2006 nasceu o projeto Academias Sporting, quatro anos depois da inauguração da casa-mãe, o centro de treinos de Alcochete que hoje tem o nome de Cristiano Ronaldo, foi como que uma pedrada no charco, um projeto-piloto numa altura em as academias de futebol em Portugal se contavam pelos dedos das mãos.
No início eram apenas quatro com o selo leonino, hoje são 32, se juntarmos as nacionais e internacionais, que acolhem cerca de 6500 jovens. E mesmo que os objetivos sejam diferentes dos escalões de competição, tendo em mente sobretudo a expansão da marca e permitir a prática desportiva sob o emblema do leão a qualquer criança independentemente do nível de aptidão técnico-tático, estas escolas permitiram já a mais de 350 jogadores chegar à esse patamar maior a nível competitivo.
Olhemos à distribuição geográfica. O mapa ao lado mostra que a maior concentração é na Área Metropolitana de Lisboa, onde se encontram, nomeadamente, as academias Aurélio Pereira, Olivais Sul, PaRK e Setúbal — geridas na totalidade pelo Sporting. O mesmo acontece com a academia de Esmoriz, no concelho de Ovar. As restantes 27 são franchising e que têm uma gestão autónoma, sendo uma extensão dos valores de formação dos leões. Importa ainda destacar as duas academias que colocam o nome do Sporting além-fronteiras. São as escolinhas internacionais situadas em Toronto, no Canadá, e Pretória, na África do Sul. Dois locais estratégicos em dois continentes diferentes capazes de produzir diamantes em bruto.
Esta rede de futebol de formação foi construída em torno da casa-mãe e não são os quilómetros que impedem uma ligação quase umbilical. Há mesmo quem diga que estas academias são a «base da pirâmide» da formação leonina e há dados que o comprovam. Rodrigo Ribeiro, João Palhinha ou Lucas Dias, certamente já ouviu falar. Todos eles nasceram para o futebol nestas escolinhas do Sporting. São a campanha ideal para o sucesso do projeto e um incentivo para os mais novos que também querem vingar.
Os dados estão lançados, mas convidamos a saber mais sobre as Academias Sporting, projeto que visa três objetivos: formação desportiva através da metodologia Academia Cristiano Ronaldo; expansão e fidelização à marca Sporting; descoberta de talentos. Uma realidade para ficar a conhecer nas próximas páginas.
A base da pirâmide da formação
André Lourenço é o coordenador dos projetos nacionais dos leões e destaca a importância desta ideia; os objetivos e os modelos
É difícil encontrar alguém que conheça melhor esta rede de academias. André Lourenço faz parte do departamento de projetos desportivos do Sporting há oito anos, é o coordenador dos projetos nacionais do clube de Alvalade e ajuda a gerir as escolas de futebol, uma «expansão», como o próprio diz, da Academia Cristiano Ronaldo e da marca Sporting.
«É uma escola de futebol direcionada para meninos e meninas, independentemente do seu nível de aptidão técnico-tático. Procuramos através da metodologia que é aplicada na Academia Cristiano Ronaldo dinamizar o serviço de futebol numa prática descontraída», explica André Lourenço, a propósito de «um projeto pioneiro e inovador porque não era muito normal os clubes estarem organizados com escolas de futebol».
A adesão foi imediata. De tal forma que, logo no primeiro ano, esgotaram as vagas das quatro academias existentes. Agora já são 32. Todas funcionam no período pós-laboral, depois da escola, geralmente entre as 18 e as 21 horas de segunda a sexta-feira. O planeamento é feito de modo a que os mais novos possam treinar mais cedo. Para o fim de semana estão reservadas as competições formais ou informais, dependendo da academia, mas já lá vamos.
Os objetivos
O projeto das Academias Sporting tem três objetivos, que une em simbiose todas as escolinhas nacionais e internacionais em torno da Academia em Alcochete. O primeiro passa, como já seria de esperar, pela formação desportiva, através da metodologia Academia Cristiano Ronaldo, ajustado a cada criança. Mas a metodologia não se aplica apenas aos atletas. Existe um programa de formação mensal comum ministrado por funcionários da casa-mãe, sendo que cada mês é dedicado a uma área específica.
E fora dos relvados? André Lourenço alarga o espetro e introduz-nos as formações complementares, que transmitem alguns princípios para quem educa as crianças. «Neste momento, nós ajudamos a educar os pais para que eles em casa possam ser uma expansão daquilo que abordamos nas Academias Sporting», revela a propósito de uma formação que inclui, nomeadamente, a área da comunicação e nutrição.
O segundo objetivo consiste na expansão e fidelização à marca Sporting, para «que cada vez mais crianças estejam identificadas com os seus valores e princípios».
O terceiro e último passa pela descoberta de talentos. «Apesar de ser direcionado a todos, o Sporting procura que este projeto seja uma primeira montra para que as crianças que tenham um nível de aptidão mais elevado possam integrar as equipas de competição». É daqui que vem a tal «base da pirâmide» mencionada por André Lourenço. Não é só nas academias que o Sporting vai recrutar, mas o seu peso é significativo. No total, foram já 350 atletas que transitaram para Alcochete.
Mas como é que o clube encontra os talentos no meio de tantas academias espalhadas pelo país e pelo mundo? André Lourenço destaca momentos de recrutamento locais, de norte a sul de Portugal. Há um que se destaca dos restantes. Talvez o mais conhecido, até porque o palco é no Estádio José Alvalade: a Agriloja Cup. O coordenador dos projetos nacionais dos leões apresenta-nos um torneio «com crianças dos 5 aos 11 anos a poderem jogar no palco onde jogam os seus ídolos». Os jovens entre os 13 e os 15 anos já disputam a Agriloja Cup na Academia Cristiano Ronaldo.
«Procuramos, sempre que possível, termos alguns elementos da equipa A ou o presidente que também já participou», explica, até porque a visita de jogadores da equipa principal às academias é cada vez menos frequente.
«Já o fizemos no passado, mas hoje em dia com os calendários não é muito fácil», argumenta, mas ao mesmo tempo introduz os jogos em que as academias vão ao estádio ver o Sporting a jogar: «Na chegada dos autocarros temos um espaço onde os meninos estão lá, tiram fotografias com os seus ídolos, recebem autógrafos...»
Os modelos
Olhemos agora para os dois modelos gerais que distinguem as Academias Sporting. Algumas estão ligadas a competição federadas, dentro de clubes já existentes, e que por isso não são geridas na totalidade pelos leões. É assim estabelecido um protocolo que beneficia ambas as partes: os jovens jogadores treinam equipados à Sporting e no fim de semana entram em competição federados e com a camisola do clube que os acolheu. André Lourenço fala numa «forma de os clubes terem acesso à formação desportiva, mas sem perderem a sua identidade».
Há também as Academias onde não há competição federada. As metodologias do Sporting são aplicadas em colégios e escolas onde se forma uma academia e no fim de semana se disputam encontros informais.
Modelos à parte, partilha-se a ideia de «que a competição é fundamental para o processo de desenvolvimento destas crianças», quer seja federada ou através de torneios informais. Os valores da marca Sporting são também transversais.
Olhos postos no futuro
O projeto das Academias Sporting já está bem posicionado mas há margem de crescimento para o futuro. De tal forma que André Lourenço tem as ideias bem definidas quanto aos próximos objetivos: «Podemos prometer que vamos desenvolver e capacitar mais os recursos humanos que estão no terreno e operacionalizam o dia a dia.»
Entretanto, já se trabalha no terreno para melhorar as condições do projeto. «Estamos a fazer um conjunto de atividades que vamos desenvolvendo ao longo do ano e que vão melhorar cada vez mais este serviço das escolas de futebol», afirma.
No estrangeiro
A rede estica, e de que maneira, se olharmos para as Academias Sporting internacionais – a extensão da marca na América e no continente africano. Temos a Academia Sporting em Toronto, no Canadá, a mais de 5000 quilómetros de Lisboa. A de Pretória, na África do Sul, está a mais de 11.000 quilómetros.
A distância física é considerável e o Sporting procura manter sempre alguma proximidade, apesar de se ter a noção que trabalhar em Pretória ou em Toronto não é igual a Portugal. São feitas, por isso, visitas anuais por elementos do departamento de projetos desportivos para verificar se as ideias gerais do Sporting estão a ser implementadas, e vice-versa, com as academias internacionais a deslocarem-se a Alcochete onde chegam a disputar jogos de treino contra as equipas leoninas. «Aquilo que nos interessa é que estas academias possam ter uma expansão para que cada vez mais pessoas em Portugal e lá fora conheçam a marca Sporting», sublinha André Lourenço.
Agora são apenas duas, mas o Sporting já teve mais academias internacionais. O objetivo é claro: «Focar na qualidade ao invés da quantidade.» Toronto, por exemplo, já deu diamantes a Alcochete. Foi de lá que chegou Lucas Dias, aos 12 anos, que agora, com 20 anos, conclui a sua formação no Sporting já com jogos na equipa B e nos sub-23.
No feminino
Tal como no futebol sénior, há cada vez mais raparigas a correr com a bola nos pés. Mais que futuro, a formação de futebol feminino já faz parte do presente. «Nas Academias Sporting temos sentido um crescimento enorme. Dos 350 recrutados, 50 são meninas», revela André Lourenço, que recorre aos números para mostrar esta evolução: «Enquanto antigamente era uma menina ou duas distribuídas nas equipas dos meninos, agora há equipas exclusivamente femininas.»
Um boom que se tem verificado sobretudo nos últimos três/quatro anos. De tal forma que já têm sido desenvolvidas estratégias de comunicação para chegar às jovens jogadoras. As Academias Sporting são direcionadas para «meninos e meninas» sem distinção. Todos têm o mesmo lugar dentro do projeto.
Alfena: um caso de sucesso
Academia da cidade nortenha não pára de crescer; também, e cada vez mais, no feminino; treinar à Sporting e competir pelo Alfenense
Nasceu em 2007 e com ela o sonho de muitos jovens em poder lutar por um lugar na Academia em Alcochete. Durante a semana treinam equipados à Sporting e no fim de semana competem pelo Atlético Clube Alfenense, que milita na AF Porto.
«O nosso principal objetivo é educar e formar atletas desde o escalão sub-6 até aos sub-15. Dar um apoio escolar e educá-los para a vida», explica-nos Renato Costa, diretor da Academia Sporting Alfena. Uma escolinha com carimbo Sporting situada no município de Valongo, distrito do Porto. O coordenador técnico é Pedro Andrade, que teve a oportunidade de crescer dentro do projeto, ainda esteve fora, mas regressou há dois anos. Entre as suas funções está gerir a dinâmica de treino, organizacional, a formação e recrutamento dos técnicos. «Tentamos também manter a estratégia do Sporting, que é a preocupação da formação e o desenvolvimento do atleta», vinca.
Os treinos são das 18.30 até às 20.45 horas e o crescimento da academia tem sido notório. De tal forma que Pedro Andrade realça a «melhoria de infraestruturas para o próprio clube» e a capacidade de investimento do próprio Alfenense no projeto. Um modelo em que tanto o Sporting como o clube de Alfena saem a ganhar.
Os mais novos também saem a ganhar sempre que há a possibilidade da visita de jogadores da equipa principal. «Todos os anos fazemos a Jubascup em Alfena. No ano passado era para estar o Rodrigo Ribeiro, mas foi convocado para o Europeu de sub-19», explica Renato Costa.
Rodrigo Ribeiro, João Palhinha…
Prova do sucesso do projeto das Academias Sporting é Rodrigo Ribeiro, que fez o percurso todo desde as escolinhas até Alcochete e passou por Alfena. O jovem avançado de 18 anos começou a espalhar o talento em Viana do Castelo e passou para o projeto desportivo do Alfenense. Todo um processo de transição acompanhado de perto por André Lourenço: «Desde muito cedo era um atleta que tinha um nível de aptidão superior aos outros.» De Alfena também se guardam boas recordações. «O Rodrigo era um menino muito humilde e trabalhava muito. Tanto se destacou que fez a mudança para Alcochete ao final de um ano», destaca Renato Costa.
Uma forma de as jovens promessas se mostrarem é em competição. «Temos o torneio Cinco Violinos, onde são feitas seleções dentro das próprias academias do Sporting para fazer um minitorneio de integração com as equipas dos núcleos do Sporting», conta Pedro Andrade.
Cada vez mais meninas
O futebol feminino é, tal como nas restantes academias, uma prioridade em Alfena. «Começámos o futebol feminino há dois anos e este ano temos a primeira equipa em competição [sub-15, AF Porto]», sublinha Renato Costa, que ainda pensa em abrir mais escalões.
Já Pedro Andrade destaca outros trunfos: «No ano passado tivemos uma atleta que fazia parte dos sub-12 e foi convocada para a seleção da AF Porto de sub-13.»
O futebol feminino é de tal forma uma certeza que Renato Costa explica como os talentos começam a vir bater à porta da academia, por iniciativa própria: «Têm sido as meninas a procurarem-nos para iniciar a atividade no futebol.»
O futuro passa muito por aí, «manter as equipas e proporcionar melhores condições aos atletas e crescer, principalmente, no futebol feminino», explica ainda.
Pedro Andrade vai mais longe nas ambições. «Iniciámos agora um projeto de treinos de potencialização de rendimento dos atletas. Queremos iniciar a especialização de treino em algumas posições específicas», revela.
Alfena é apenas mais um ramo da extensa rede de academias. O coordenador técnico indica o caminho a seguir: «Potenciar os jogadores para poderem pertencer aos quadros do Sporting.»