Não será fácil a tarefa de David Jurásek no Benfica. A razão é simples: foi contratado para substituir Álex Grimaldo, o mais marcante lateral-esquerdo dos últimos 30 anos do futebol encarnado. O espanhol deixou a Luz rumo a Leverkusen com um lastro de qualidade e de provas ganhas quase inigualável: quatro Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e três Supertaças Cândido de Oliveira. Fruto de 294 jogos e 26 golos com a camisola das águias. Está bem ao nível de Pietra, Veloso e Álvaro. Após a vitória no Campeonato Nacional de 1993/1994, época durante a qual Veloso e Kenedy foram alternando a titularidade, o lado esquerdo da defesa atravessou período de menos fulgor na década seguinte. Excluindo Dimas (entre 1994 e 1996), Pedro Henriques, El Hadrioui, Scott Minto, Bruno Basto, Jorge Ribeiro, Escalona, Rojas, Diogo Luís, Pesaresi e Cristiano não fizeram esquecer, por exemplo, Álvaro Magalhães e até o sueco Stefan Schwarz. Só em 2003, com a chegada do grego Takis Fyssas, o Benfica voltou a ter lateral-esquerdo de muito boa qualidade. O campeão da Europa de 2004 esteve apenas duas temporadas na luz, período no qual ganhou uma Liga e uma Taça de Portugal, ajudando os encarnados a quebrarem jejum de títulos que vinha desde 1994. Seria, porém, no início da época 2005/2006, com a entrada do brasileiro Léo, que o Benfica voltou a ter um lateral-esquerdo seguro a defender e bom a atacar. Léo, com 127 jogos (mas apenas dois golos), é o canhoto com mais jogos realizados pelo Benfica no lado esquerdo da defesa. Por entre mais contratações não muito conseguidas para o lugar (Dos Santos, Miguelito, Sepsi ou Schaffer), o Benfica, através de Jorge Jesus, fez recuar o extremo Fábio Coentrão para a defesa e teve, aí sim, um lateral de classe mundial. Após dois anos de Coentrão na Luz, Real Madrid contratou-o, em 2011, por nada menos de 30 milhões de euros. Seguir-se-iam mais algumas experiências sem grande sucesso (Fábio Faria, Carole, Capdevila, Emerson, Luís Martins, Melgarejo, Luisinho e Bruno Cortez), com o equilíbrio a chegar com a entrada do brasileiro Siqueira, vindo do Granada. Mas Siqueira ficou apenas um ano no Benfica e para o seu lugar viram dois homens que, com qualidades bem diferentes, marcariam as temporadas 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017: Eliseu (97 jogos e 4 golos) e Grimaldo (26 jogos e 2 golos). E em 2018/2019, com a reforma de Eliseu, Grimaldo tomou conta do lugar e não deixou margem para mais ninguém nas cinco épocas seguintes: 240 jogos e 24 golos. Nuno Tavares (40 jogos), Ristic (10), Yuri Ribeiro (7) e Sandro Cruz (2) quase nem sombra fizeram ao espanhol. Agora será a vez de Jurásek tentar fazer esquecer o quase inesquecível Grimaldo. Mas não esqueçamos Ristic, que até começou a pré-época a marcar.