Em vésperas de nova eliminatória europeia em que o Benfica defrontará o Marselha, Vata recorda a A BOLA o golo que marcou frente aos franceses, nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus em 1989/90, e que deu às águias a passagem para a final — que viria a perder contra o AC Milan, por 1-0. O icónico avançado dos encarnados, hoje com 63 anos, vive na Austrália, onde treina crianças numa escola. Acredita que as águias ainda podem conquistar o campeonato e a Liga Europa, deixa elogios a Di María e Rui Costa e pede aos adeptos que apoiem a equipa. — Pode recordar-nos o golo que marcou ao Marselha que, na época, valeu a qualificação para a final da Taça dos Campeões Europeus? Foi com a mão ou não?— Lembro-me muito bem, até hoje. Foi um golo que ficou na história do Benfica. Muita gente diz que foi com a mão, mas o próprio árbitro nunca disse que foi com a mão, e eu também digo que não foi com a mão, foi com o ombro. Mas pronto, cada um tem a sua forma de ver as coisas, eu não posso dizer o que cada um deve pensar, cada um interpreta como quer. Nunca vou dizer o contrário, porque fui eu que marquei. As pessoas interpretam até hoje como querem interpretar, mas quem fez o golo fui eu, a única pessoa que pode dizer se foi com a mão ou não sou eu. Já passaram 34 anos, e eu continuo a dizer a mesma coisa. Se tivesse sido com a mão, porque é que eu haveria de mentir? Não adiantava nada. Respeito a opinião das pessoas, mas não foi mão. — Recorda-se da joelhada que Mozer deu de propósito no Vítor Paneira nessa eliminatória?— Lembro-me, claro. O que posso dizer desse jogo é que o Mozer era nosso amigo, mas a equipa estava em primeiro lugar. Qualquer pessoa profissional, até pode estar a jogar contra a equipa do seu pai, se é adversário tem de ser profissional e jogar da maneira que garante que se ganha o jogo. Em relação a esse lance com o Mozer, a minha opinião é que foi uma entrada normal. É preciso compreender que, dentro do campo, a amizade é para esquecer. — Tem acompanhado a época do Benfica?— Sim, costumo acompanhar de vez em quando. Este ano, o ano passado… vou sempre acompanhando. As pessoas têm criticado muito esta época, mas acho que não é justo. Para mim, mesmo quando eu estava lá, quando ganhávamos 5-0, 7-0 ou 8-0, muitas vezes, no fim da época não ganhávamos nada, nem campeonato, nem taça. Outras vezes, se calhar ganhávamos com dificuldades, 1-0, 2-1 e, no final, ganhávamos algum troféu. Este ano, muita gente diz que o Benfica não está a jogar bem, mas as pessoas esquecem-se que no futebol até se pode jogar bem, mas, quando os resultados não aparecem, ninguém festeja, e eu ainda acredito que o Benfica vai festejar este ano. Apoiem o Benfica como nos apoiaram no nosso tempo. A força dos adeptos ajuda os jogadores a passarem a eliminatória. — O que está a achar do regresso de Di María ao Benfica? E como avalia a atuação de Rui Costa como presidente dos encarnados?— Di María é um jogador muito experiente, e está a fazer muitas coisas boas. Dizem que não corre muito no campo, mas as pessoas esquecem-se que o futebol não é só correr. Ele está sempre a marcar e a ser decisivo, isso é o mais importante. Quanto ao Rui Costa, acredito que ele está a fazer um excelente trabalho e espero que fique mais tempo. As pessoas esquecem-se que no futebol até se pode jogar bem, mas, quando os resultados não aparecem, ninguém festeja, e eu ainda acredito que o Benfica vai festejar este ano. — O que pode esperar o Benfica na eliminatória contra o Marselha e quais as suas ambições para a Liga Europa?— A meu ver, o Benfica tem 60% ou 70% de possibilidade de passar. Marselha é uma boa equipa, mas o Benfica é um clube muito grande. A maioria dos jogadores do Marselha sabe o que vai encontrar no Estádio da Luz, um grande ambiente. O Benfica tem de fazer os possíveis para ganhar o jogo na Luz, porque se o fizer, depois em França vai ser muito mais fácil. Mas acho que o Benfica vai passar. — Pensa vir a Portugal ver o jogo?— Gostava, mas é difícil. Estou na Austrália, que é muito longe, e aqui trabalho numa escola, treino os miúdos, tenho um contrato. É difícil. Mas vou assistir ao jogo em direto na televisão e vou torcer pelo Benfica. — Quer deixar uma mensagem para os adeptos do Benfica?— O que posso dizer é que apoiem o Benfica como nos apoiaram no nosso tempo. A força dos adeptos ajuda os jogadores a passarem a eliminatória. Sei que é possível, os adeptos do Benfica são fantásticos e nesse dia o Estádio da Luz vai estar cheio e vai ajudar a equipa. A última palavra é para todos os jogadores do Benfica: boa sorte para esse jogo e para o campeonato, e boa sorte para o Rui Costa, continuação de um excelente trabalho e esperamos ver mais vitórias da equipa do Benfica. — Foi colega de António Pacheco. Que memórias guarda dele?— Sinto muito pela morte de Pacheco. Foi um jogador que contribuiu para o meu sucesso no Benfica. Tenho muita pena de saber que já não está entre nós. Quero dar força a toda a família dele, espero que onde ele esteja, que esteja em paz. Desejo coragem à mulher, aos filhos e a todos. A vida continua, é o caminho de todos nós e ninguém pode fugir. É uma pessoa de quem não há nada de mal a dizer. Ajudou-me muito e tenho muitas boas recordações dele.