— É impossível ignorar ou não falar no impacto e no sucesso de Paulinho no Toluca. Há muita informação sobre isso em Portugal, os golos que ele marca correm logo pelas redes sociais, era um jogador muito querido no Sporting. Como nos pode explicar o impacto dele?— Se fosse numa palavra, brutal! Brutal. Estou muito feliz por não me ter enganado na primeira conversa que tive com o Paulinho. Normalmente, um treinador, quando quer convencer um jogador, pinta um quadro muito bonito e o que fiz foi contar, realmente, o que era este país, este campeonato e o Toluca. E disse-lhe que pela forma de jogar da nossa equipa, que cria e cria situações de finalização, que tinha sido o melhor ataque do campeonato sem ter um 9 fixo… disse-lhe: ‘Tu aqui vais ser ainda mais figura do que foste no campeonato português, vais ser uma referência no clube ao longo do tempo, porque vais fazer muitos golos, porque a forma de jogarmos é de criar muitas situações de golo’. E ele é um finalizador. Portanto, a partir daí, nem foi preciso adaptar-se. Foi chegar, ver e vencer. Disse aos meus diretores: ‘Estão a contratar o futuro melhor marcador do campeonato.’ E confirmou-se. Não enganei o Paulinho nem os meus diretores, que também não conheciam muito bem o Paulinho, como é óbvio. Mas fizemos de vídeo e de convencimento técnico-tático do que era trazer um jogador destas características. E o impacto sobre os adeptos é brutal, brutal. É já uma referência da equipa, já se canta a música dele. Ele deu uma entrevista muito interessante há pouco tempo a uma televisão e disse: ‘Fantástico ter sido o melhor marcador, mas o que quero mesmo é ser campeão no Toluca.’ É isso que procurámos. Queríamos trazer um nove que conseguisse definir melhor e mais vezes de forma eficaz a nossa criação ofensiva. Isso marcou-nos quando fomos eliminados pelo Chivas, faltou-nos eficácia, o desperdício em relação ao que a equipa cria. Portanto, impacto brutal, estou supercontente porque não enganei o Paulinho, porque não enganei os meus diretores e ele está também superfeliz por estar aqui. — O que lhe disse Paulinho depois desta experiência toda?— A primeira coisa que ele me disse, no início, quando lhe liguei, porque ele trabalhou no SC Braga com o Ricardo Horta e o André Horta, com quem também trabalhei no Benfica e com quem tenho uma relação quase familiar… Falaram-lhe várias vezes como jogavam as minhas equipas na formação do Benfica, no Independiente, por aí fora… E ele disse-me: ‘Gosto muito da forma como o mister mete as suas equipas a jogar e isso beneficia muito as minhas características. Essa foi a primeira grande frase que impacta na primeira conversa com ele, que curiosamente até estava em Cancún de férias, aqui muito perto. O que ele hoje me diz é que não está absolutamente arrependido, está superfeliz, já está aqui com a família, vivemos tranquilamente. Está felicíssimo pelo grupo que temos, pelo clube que temos, com excelentes condições de trabalho, pelas pessoas que dirigem o clube e rodeiam o nosso dia a dia. As pessoas extraordinárias e com humanismo muito grande. Isso, às vezes, no futebol, é difícil encontrar. A forma de jogar impacta muito no Paulinho. Portanto, está superfeliz, nada arrependido e isto é só o início de uma bonita história do Paulinho no Toluca. — Falou-se muito da dependência que o Toluca tem de Paulinho. Lembrou que os Chicago Bulls também foram dependentes de Michael Jordan. Sente-se reconhecido?— Sinto, sinto bastante. Hoje, posso dizer que o maior título que conquistámos até agora é os adeptos dizerem que há muitos anos não sentiam uma ligação tão forte com a equipa. O estádio está completamente cheio, seja qual for o jogo, os diretores sentem muito esse ambiente, dizem o mesmo, que há muito tempo não tínhamos o estádio sempre cheio. Quando cheguei disse aos jogadores que queria fazer do estádio uma fortaleza, porque as bancadas são muito em cima [do relvado] e os adeptos são muito fervorosos. Disse que queria essa combinação e fazer do estádio uma fortaleza e dos jogos em casa um inferno para os adversários. A verdade é que só temos uma derrota em 17/18 jogos. O ambiente é fabuloso. Essa é, para já, a grande conquista que conseguimos. E disse também aos jogadores: ‘Isto é de dentro para fora. Pela forma como jogam, com resultados, pouco a pouco vamos trazer as pessoas ao estádio e enchê-lo.’ É o que acontece. O reconhecimento é claro. Não só por termos trazido o Paulinho, porque o ponto de ligação fui eu e a minha equipa técnica, mas pelo que a equipa joga. Os adeptos gostam e identificam-se pela forma como a equipa joga, claro que pedem sempre o título número 11. Mas o reconhecimento é claro, na rua, no estádio, seja onde for. Em relação ao Paulinho, há sempre nisto, em espacial nas redes [sociais], quem encontre tudo mal no muito bom. É dos ser humano e da sociedade, cada vez mais o escárnio, o incentivo ao ódio, o criticar de forma leviana estão presentes. Houve aqui uns quantos contra-corrente que disseram: ‘Se não fosse o Paulinho onde é que estávamos?’ O Paulinho fez 13 golos e temos 38. Se não fosse o Paulinho, coitados de nós. O Paulinho não estava e fizemos um campeonato exatamente igual, com os mesmos golos marcados. Lembrei-me dessa frase. Até me esqueci do Nápoles do Maradona. Fez o Nápoles campeão sozinho. Do Messi no Barcelona, do Cristiano Ronaldo por onde passou. É tão bom ser dependente de alguém que faça golos. Mas depois há quem tenha de os defender, que roubar bolas que fazer assistências. Há a visão do treinador, de quem percebe de futebol e tem boa fé. E há a visão de quem tem má fé, quer incentivar à violência e retirar mérito a quem o tem. É a sociedade que temos hoje.