«O tempo passa a voar, sim», desabafou Paulo Madeira, antigo central e capitão do Benfica, depois de desafiado por A BOLA a recordar o dia 23 de setembro de 2000. Passaram 24 anos desde que José Mourinho entrou em cena como treinador principal do Benfica. Ficou pouco tempo no clube, apenas 11 jogos, deixou a Luz depois de um triunfo no dérbi com o Sporting. Mas deixou marca, como se perceberá pelas palavras de Paulo Madeira. «As memórias desse jogo não são muito boas nem famosas, perdemos o jogo», começa por dizer Paulo Madeira, referindo-se à derrota (0-1), em jogo da 5.ª jornada do campeonato. Antes da partida, ao estilo dele, Mourinho disparava: «Quem tem medo fica em casa.» Depois de consumada a derrota, lamentou a falta de confiança da equipa e acrescentou: «Acredito na chicotada metodológica e não na chicotada psicológica.» «Mal começámos a treinar percebemos que estava ali um treinador ambicioso e jovem, diferente no discurso e forma de treinar. Notámos que poderíamos estar na presença de um treinador com um futuro brilhante. A estreia com o Boavista não foi muito boa, mas, a partir daí, demonstrou todo o potencial e, passados 24 anos, posso dizer que, para mim, continua a ser o número 1», argumenta Paulo Madeira. O antigo internacional português, 54 anos, também não esquece Carlos Queiroz, «um dos mais importantes treinadores na carreira», mas prossegue na análise a Mourinho e até faz uma revelação: «Tenho o privilégio de 24 anos depois ter uma ligação próxima com ele. Fui um dos principais responsáveis, na minha área, pela ida dele para a Turquia [Fenerbahçe]. Estive com ele, aconselhei-o e acredito que tomou uma boa decisão, apesar de ser treinador para patamares muito mais altos.» «Mourinho», para Paulo Madeira, «foi alguém que revolucionou o futebol português» e que tem «conhecimentos brilhantes do futebol internacional». «Acompanhei de perto o trabalho dele na Roma, que só com ele conseguiu ganhar. Mourinho é feito para ganhar. Depois de conquistar a Liga Conferência, um jornalista perguntou-lhe se sabia quem tinha sido o último treinador a levantar um troféu europeu numa equipa italiana. Foi ele, quando ganhou a Liga dos Campeões pelo Inter. Talvez algumas pessoas não simpatizem muito com ele, mas não pode agradar a todos», acrescentou. Paulo Madeira recorda ainda um episódio depois de uma derrota com o Marítimo (0-3) no Funchal: «Ficou revoltado pela forma como jogámos e perdemos. Foi muito duro e crítico comigo, com Marchena e com o Meira, os três centrais, na altura. Foi mais para nos abrir os olhos, para estarmos alerta e trabalharmos mais que os outros. A partir daí começámos a ganhar [quatro vitórias seguidas] e saiu depois de vencermos o Sporting.» Primeira equipa de José Mourinho no Benfica: Enke; Dudic (Calado, 55), Paulo Madeira (c), Ronaldo e Rojas; Fernando Meira e Maniche; Carlitos, Poborsky (Miguel, 65) e Sabry (João Tomás, 65); Van Hooijdonk.