Não há jogos iguais mas a proximidade temporal serve muitas vezes para as equipas usarem as memórias frescas e transportarem-nas para a preparação de uma determinada partida. No caso do Benfica, a deslocação a Chaves, amanhã, encerra uma recordação recente que poderia ter ajudado a manchar 2022/2023: a derrota por 0-1 que transformou um mau momento numa séria ameaça de crise. As nuvens negras apareceram antes, nos dois encontros anteriores: derrotas em casa frente a FC Porto (1-2), para a Liga, e Inter (0-2), nos quartos de final da Liga dos Campeões. Dois desaires que abalaram a confiança da equipa, cujo desempenho errático em Trás-os-Montes resultou no terceiro desaire consecutivo — três derrotas das quatro em toda a época. A 15 de abril, e depois de as águias falharem algumas oportunidades na grande área adversária, Otamendi teve uma escorregadela fatal e permitiu ao ganês Issah Abass marcar o golo do triunfo, aos 90+4’, o único do encontro, num jogo cujos números até justificariam um desfecho totalmente: 8-20 em remates, 32-68 por cento de posse de bola, 3-19 em cantos. No final, e entre protestos por um alegado penálti não assinalado sobre Otamendi, Roger Schmidt foi confrontado com uma realidade com a qual não estava habituado: o Benfica deixava de ser uma equipa que estava sempre por cima e a vantagem de 10 pontos que chegou a ter sobre o FC Porto (2.º classificado), passou para quatro e tendo ainda de defrontar SC Braga, em casa, e Sporting, em Alvalade. «Temos de demonstrar atitude de campeões», afirmou o técnico germânico, numa daquelas frases que fica para a história. Porque o que se seguiu foi o estancar da ferida. É certo que os encarnados se despediram da Champions com um empate em Milão (3-3), mas não mais perderam até ao final da temporada. Foram sete jogos entre o desaire frente aos flavienses e a vitória em casa diante do Santa Clara. Chaves foi uma espécie de último erro possível. Agora a margem também é muito curta face ao histórico recente.