Viva Portugal (artigo de José Neto, 141)

Espaço Universidade Viva Portugal (artigo de José Neto, 141)

ESPAÇO UNIVERSIDADE03.04.202217:46

Foi com o jubilo a verter traços duma alegria apoteótica, que nestas duas jornadas do play-off no belíssimo Estádio do Dragão, acudimos à festa das festas onde o Futebol faz despertar paixões pela presença de quem o pode respirar, dentro do estádio ou no destino da distância, permitindo-nos curvar perante as belas imagens interpretadas por um foco irresistível duma libertação coreográfica, irradiando o belo por sinais duma magistral existência.
 

Qualquer jogo da nossa seleção assume-se como um fenómeno de enorme cumplicidade, alicerçando de forma verdadeiramente abrangente todo um povo sem limites de tempo e vontades, envolvendo-se por uma labareda de emoções verdadeiramente contagiantes, onde as dinâmicas impostas pela competição se conjugam com a interdependência, indeterminação, variabilidade, imprevisibilidade, aleatoriedade, relação de forças, cooperação e oposição constantes, fazendo de cada lance uma oportunidade de exaltação.
 

Portugal diz presente mais uma vez num mundial. Mas não podemos esquecer que esta presença está inscrita no manancial de responsabilidade acrescida pelas conquistas que o tempo tem vindo a consagrar. Sempre o tenho referido que, gerir comportamentos após os êxitos obtidos é completamente diferente do que gerir frustrações após os fracassos registados, pois as estratégias para administrar o sucesso tornam-se por vezes muito mais difíceis do que enfrentar as oportunidades para eliminar o fracasso, tendo em conta que a recompensa dum trabalho bem feito estará sempre na oportunidade de o repetir ou porventura melhorar.
 

 Importa agora registar em apreço algumas notas de referência a ter em conta:
 

- O apoio absolutamente exemplar do público no Estádio do Dragão, pela exaltação da sua força contagiante que gritaram e vibraram com a leveza da bandeira de Portugal, numa profunda e sempre continuada relação de afetos no apoio participativo, fazendo renascer em cada momento um estado de crença amplamente consentida.
 

-  O carisma ilustrado pela identidade coletiva dos nossos jogadores, transportando na alma as pegadas da experiência vivida e no rosto o certificado bem ilustrado pelos valores da coragem, lealdade, humildade e coesão. Os fiéis interpretes da dinâmica que o desenvolvimento do jogo promoveu a todo o instante. Não obstante algumas opiniões discordantes, parece-me absolutamente justo realçar a figura do nosso capitão Cristiano Ronaldo. Resistindo a impiedosa marcação, continua a demonstrar uma magnitude comportamental de liderança. A períodos que parecem adormecidos, naturalmente sem o constante fulgor exposto no início da carreira, ainda nos surpreende aquela linguagem de amor e raiva no toque da bola com que se debate com os adversários, transformando momentos de momentânea impaciência em transbordante inspiração, onde a harmonia do gesto se combina com uma eficácia emocionalmente experimentada. Então no capítulo liderança cada vez mais se afigura a sua mestria de responsabilidade partilhada. Nesta referência histórica da carreira arranca com a mesma ambição e vontade de presença para o 5º campeonato do mundo e 12ª fase final duma grande competição internacional, ostentado a bandeira do compromisso, porventura não tanto na função de goleador, mas de certeza com ainda mais classe de jogador absoluto que a competência dum saber experimentado lhe concedeu, e o mundo lhe continua a tributar  numa justa aclamação e aplauso.

- O capital de magistratura do nosso selecionador Eng.º Fernando Santos que explora a arte de ser por um código de valores onde habita uma sólida estabilidade emocional, que permite encorajar e estimular, e através duma generosa convicção para o êxito, vai transferindo para o grupo uma renovação permanente de estímulo, transformando a crença num desejo, fazendo renascer a vontade para a conquista do sucesso. No seu discurso simples, mas pleno de convicção, e sempre pedagógico, encontramos inscrito a transmissão dos valores da honestidade, a firmeza das ideias fundamentadas na seriedade e otimismo, intransigente na defesa da equipa como um todo, sintonizado com a formulação de objetivos positivos, que são aqueles que mais nos permitem obter aquilo que mais pensamos atingir e esquecer aqueles que mais devemos evitar, desafiadores, mas sempre realistas e abençoados por uma sagrada esperança.
 

- A significante referência ao nosso Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, ilustre e distinto amigo Dr. Fernando Gomes. Uma notável personagem onde muito bem se enquadra a civilidade do homem na nobreza do cidadão. O verdadeiro arquiteto da consciência federativa autenticamente responsável e responsabilizadora e que fez erguer dez anos passados o castelo dos sonhos com obra exemplar nacional e internacionalmente reconhecida. Revelador duma imagem forte, atenta e serena, cujos traços de identidade sobressai a fidalguia de trato, negligencia a apatia, fortalece o entusiasmo e porque também acredita, vai ajudando a reconstruir a história do tempo com astúcia, inteligência e perseverança, colocando o Futebol português na rota do continuado sucesso.
 

Portugal mais uma vez presente, pela oitava vez, num Mundial (sexta consecutiva), com a brilhante conquista dum Europeu e uma Liga da Nações e que se disputa entre 21 de novembro e 18 de dezembro próximo no Catar, resultando do sorteio de grupo a passagem para os oitavos de final a competição com Futebol de três continentes (quatro com a Europa): Gana, Coreia do Sul e Uruguai, tendo apenas uma semana de preparação. Contudo iniciamos da melhor maneira, pois competimos a 24 de novembro, tendo por isso mais 3 dias para melhor nos prepararmos (migalhas também é pão).
 

Outras vicissitudes a ultrapassar, como seja o facto do campeonato a ser realizado em tempo de inverno, mas com temperaturas a ultrapassar os 25 graus; a mudança de rotinas pelo facto dos jogadores que regressam dos clubes de origem, com outros perfis de exigência liderados por diferentes equipas técnicas; dependentes de resultados e rendimentos que estão ou não de acordo com os objetivos de conquista; a incómoda ultrapassagem de fusos horários e consequente adaptação ao jet-lag que como já referi, conduzem a dessincronizações de ritmos biológicos, podendo gerar maiores manifestações de fadiga, dificuldades de concentração, maior irritabilidade ao desagaste, etc .
 

Neste âmbito também podemos ficar descansados, dada a existência na Federação Portuguesa de Futebol de equipas superiormente lideradas quer técnica, quer médica, autenticadas pelo rigor e competência técnica e científica, que se tem assumido como baluarte na readaptação dos jogadores para a obtenção da excelência (a exemplo o Gabinete de Unidade de Saúde e Performance da F.P.F. liderado pelo meu distinto amigo Professor Doutor José Carlos Noronha).
 

E para além de tudo o mais, devemos rememorar  esse estado de crença do nosso selecionador Eng.º Fernando Santos, arreigado dum valente espírito de conquista, abençoado por um Deus criador que, recordam-se na preparação da histórica final do Euro 2016, tão bem expressou uma frase retirada dum texto bíblico (Mateus 10:16), quando Jesus Cristo se referia aos discípulos: «Eis que vos envio como ovelhas para o meio dos lobos - sede simples como as pombas e prudentes como as serpentes, isto é, precavidos, sensatos e cautelosos, mostrando a simplicidade, sem arrogância, sem prepotência, exercendo o bem e dando o máximo em amor e humildade».
 

O que aconteceu nessa célebre noite de 10 de julho 2016? O nosso despertar para a vida, cantando até à rouquidão entre lágrimas de exaltação e louvor: CAMPEÕES … CAMPEÕES … NÓS SOMOS CAMPEÕES!...
 

Na antecâmara do próximo Mundial no Catar muito ainda haverá a refletir. Contudo na dança espiritual das minhas ideias já repousam os sinais duma generosa e jovial esperança: VIVA PORTUGAL

Sabe-se que a corrente do sucesso com vitórias conseguidas perdura mais no tempo e permite encarar os níveis da consciência competitiva com mais inteligência e redobrada vontade. Veremos até onde nos leva a esperança. Eu acredito!...


José Neto: Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores F.P.F./U.E.F.A.; Docente Universitário – Universidade da Maia.