Desporto: fenómeno social e o problema da responsabilidade (artigo de Vítor Rosa, 239)

Espaço Universidade Desporto: fenómeno social e o problema da responsabilidade (artigo de Vítor Rosa, 239)

ESPAÇO UNIVERSIDADE01.09.202321:55

Ilíada (um dos principais poemas épicos da Grécia Antiga), que é atribuída a Homero, é o primeiro “monumento” literário que descreve e glorifica os atletas e as suas proezas. Mas só no século V é que o desporto foi erigido na Grécia num pedestal. Como diz justamente Coubertin, é na Grécia que a “religião do Atletismo nasceu”. É aí que encontrará as suas cerimónias periódicas e os seus Templos para os cultos quotidianos. O desporto, nessa época, é dominado pela ideia de glória.

O desporto evoluiu desde então. Tem sido objeto de novos comportamentos. O lugar do indivíduo na sociedade mudou, dando origem a práticas mais autónomas. A relação com o meio ambiente levou ao desenvolvimento de novas práticas. Uma nova relação com o corpo conduziu a uma necessidade de bem-estar individual (físico e mental) e uma esperança de vida mais longa gerou necessidades ainda mais diferentes.

Poderemos dizer que todos os desportos são desportos, e esta definição não precisa de um decreto ou de uma circular para existir, dado que exprime uma vida social desportiva única e indivisível. O desporto já não é apenas desporto! É um fenómeno social que deve ser, mais do que nunca, um fator de coesão social. Assistimos a uma diversificação das práticas e dos públicos. No entanto, continua a existir um défice social em termos de participação, nomeadamente em termos de feminização do desporto e na integração de grupos desfavorecidos. O princípio da igualdade de oportunidades, fundamento do encontro desportivo, deve ser plenamente aplicado para as pessoas com dificuldades. O desporto é uma atividade que favorece a mistura social. As pessoas reúnem-se livremente, independentemente da sua origem social, posição ou idade.

A evolução das associações desportivas levou também os seus membros a assumir responsabilidades crescentes, sob o impulso dos legisladores, sob a forma de missões de interesse geral, que apelam à abertura dos clubes à erosão das solidariedades, à precariedade, à discriminação social e ao despovoamento rural.

Sociólogo, Pós-Doutorado em Sociologia e em Ciências do Desporto, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática.