O Onze e a Equipa de Jorge Jesus (artigo de João Oliveira)

Espaço Universidade O Onze e a Equipa de Jorge Jesus (artigo de João Oliveira)

ESPAÇO UNIVERSIDADE25.11.201917:24

Milhões de pessoas assistiram à Final da Taça do Libertadores, mas qual é o “onze” e a “equipa” de Jorge Jesus, para lá do que é visível?

Antes de responder a esta pergunta, uma breve, mas importante, nota. Perante os erros, há pessoas que culpam os outros, os “perdedores”, há pessoas que aprendem com os erros, os “vencedores”, há pessoas inteligentes, aquelas que, aprendendo com os erros dos outros, aprendem e há as pessoas sábias, que aprendem com o que os outros fazem de construtivo e útil, ou seja, aprendem com o sucesso dos outros.

A reflexão que irei fazer, enquadra-se neste último nível. Assim: O QUE PODEMOS APRENDER COM O “SUCESSO” DE JORGE JESUS? QUAL É A PRINCIPAL MENSAGEM DE JORGE JESUS?

Proponho a utilização, metafórica, do “onze” de Jorge Jesus, para enquadrar o que podemos aprender com ele e da “equipa” para a sua principal mensagem. Comecemos pelo “onze” de Jorge Jesus, utilizando designações Brasileiras, como homenagem. Prepare-se, poderá haver uma surpresa.

GOLEIRO

No “onze” de Jorge Jesus, aos nossos olhos, Jorge Jesus prefere o “jogador” – “todos podemos ir longe, independentemente de onde partimos.

Senão vejamos, Jorge Jesus (pelo que sabemos) não tem nenhuma licenciatura, mestrado ou doutoramento académico, mas mesmo assim conseguiu ir longe. Ou seja, os estudos académicos podem ajudar, mas se não for o caso, a primeira aprendizagem do sucesso de Jorge Jesus é que mesmo sem canudo, podemos ir longe.

LATERAL-DIREITO

À frente do goleiro, Jorge Jesus utiliza a humildade e aprender com os outros, como o “seu” lateral-direito preferido. É do conhecimento público a aprendizagem que Jorge Jesus fez junto do Barcelona de Johan Cruijff ou dos Treinadores de Basquetebol. A segunda aprendizagem do sucesso de Jorge Jesus é aprender com os mestres, como tantos outros o fizeram no passado, como Leonardo da Vinci ou Platão.

ZAGUEIRO CENTRAL

Nesta posição, o percurso do Treinador Jorge Jesus, que começou como Técnico no Amora, da 3ª divisão, a seguir, passou pelo Felgueiras, da 2ª divisão B, depois seguiram-se vários clubes da 1ª divisão, como o Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal e Vitória de Guimarães, (…) e mais “recentemente”, Benfica, Sporting e o Al-Hilal e agora, o Flamengo. Podemos aprender, com Jorge Jesus, que independente do nível a que qualquer pessoa comece, seja num Clube ou numa Empresa, é possível chegar ao topo.

QUARTO ZAGUEIRO

O estilo de jogo de Jorge Jesus é conhecido, porque tem ideias claras do que deseja ver em campo. Isto é, Jorge Jesus tem uma visão concreta de como quer que as suas equipas joguem. Esta é outra aprendizagem importante: a de, para criamos coisas significativas, as imaginarmos primeiro e as concretizarmos depois. Ou seja, o que vimos o Flamengo fazer na Taça dos Libertadores aconteceu duas vezes. A primeira, quando o Treinador imaginou. A segunda, quando pelo treino e a execução da equipa a concretizaram, em campo. Tal como todas as outras aprendizagens, esta também pode ter aplicações múltiplas. A de Treinadores, Dirigentes e Clubes, mas também Empresas – publicas ou privadas – ou Governos poderem ter visões claras do que desejam fazer.

LATERAL-ESQUERDO

Se o quarto zagueiro é essencial, o lateral-esquerdo de Jorge Jesus não é menos importante (aliás, todos os jogadores são importantes). Imaginar é o ponto de partida, executar pode ser o ponto de chegada, mas no meio, destes dois momentos, Jorge Jesus utiliza a combinação de acreditar e atrevimento. Efetivamente nada é concretizado, sem que as pessoas acreditem no que imaginaram e sem ousarem a atreverem-se. A aprendizagem que podemos fazer com o lateral-esquerdo de Jorge Jesus é que o sucesso exige crença e atrevermo-nos a tentar e a fazer diferente.

VOLANTE 1

São conhecidos os cuidados de Jorge Jesus com os detalhes, com o rigor, com a exigência. Desde o tamanho da relva, a proteger o treino dos drones, nada é deixado ao acaso. Tudo é pensado e executado. Nada de mais ou menos, quase ou parecido. Nesta posição, podemos aprender, com o sucesso de Jorge Jesus, que o sucesso também depende do trabalho detalhado, rigoroso e exigente.

VOLANTE 2

Poderemos pensar que o trajeto de Jorge Jesus, no Futebol foi “um mar de rosas”. Porém, a realidade revelou vários “espinhos”, como duas descidas de divisão ou os acontecimentos da Academia. Ou seja, Jorge Jesus refez-se de situações potencialmente “traumáticas”. A aprendizagem é clara: o sucesso exige uma atitude positiva perante os insucessos.

ARTICULADOR

Uns poderão dizer que é teimoso, outros persistente. Jorge Jesus “respira” futebol, dedica-se ao treino e competição, é “amado”, por uns, e criticado, por outros. Mas, podemos aprender que o sucesso, num campo de Futebol ou na Vida, requer esforço, porque a entrega é 95% da capacidade, e resiliência, sem ela tudo se podia ter desmoronado.

MEIA-EXTREMO DIREITO

Após a conquista da Taça dos Libertadores, Jorge Jesus referiu a importância dos amigos e do carinho dos Portugueses. Jorge Jesus fez-se acompanhar, no Flamengo, de vários Treinadores Portugueses. Pelo menos um, o Mário Monteiro (meu colega de curso), acompanha-o há muitos anos. Os relatos de apoio de jogadores e dirigentes são, igualmente, evidentes, tal como da torcida do Flamengo. A aprendizagem é evidente: Jorge Jesus criou o seu ambiente, porque o sucesso anda de mão dada com um ambiente de apoio. Quando as pessoas são apoiadas, tudo fica mais fácil.

MEIA-EXTREMO ESQUERDO

Houve quem dissesse que Jorge Jesus não tinha vencido nada (o que não é verdade) e já tinha 65 anos. Tal como na vida há quem tenha nascido num “berço de ouro” e outros tiveram que “subir a pulso”, o mesmo também pode acontecer aos Treinadores ou aos Gestores. Jorge Jesus não começou por treinar um grande, não nasceu num “berço de ouro”, como Treinador. Teve de subir a pulso. Para além disso, conquista a Taça dos Libertadores aos 65 anos e ao fazê-lo permite-nos fazer uma importante aprendizagem. A de que “velhos são os trapos”, não as pessoas. Por vezes, algumas pessoas poderão ser tentadas a pensar que “não vale a pena, sou demasiado velho”. O que o exemplo de Jorge Jesus nos pode ajudar a compreender é que cada um é tão velho quanto se sentir. Para além disso, se pensarmos que a vida produtiva de uma pessoa poderá começar aos 20 anos e terminar aos 70, então cada um poderá ter 50 anos de vida produtiva (pelo menos). Ao ter 65 anos, ainda faltam 5 anos para Jorge Jesus atingir o referido limite dos 70 anos. Ora, 5 anos, em 50 anos de vida produtiva, equivale a 10%. Repito 10%, ainda é muito. A mensagem é poderosa, a idade de cada um não é uma desvantagem, a não ser que a veja dessa forma. Se cada um fizer as suas contas, poderá chegar à conclusão que ainda poderá fazer muito.

CENTROAVANTE

Jorge Jesus não chegou ao Flamengo há 5 anos, antes 5 meses e os relatos de mudança são inúmeros. Sabendo que as mudanças são difíceis, são possíveis. Mas este exemplo, vai para além de mostrar que as mudanças são possíveis. Esta experiência permite-nos aprender que há algo que não só permite que as mudanças aconteçam, como facilita que as mesmas se façam em pouco tempo e com um enorme impacto. Diria que a aprendizagem mais misteriosa, desta situação, em que o Flamengo não vencia a Taça dos Libertadores há 38 anos e o Campeonato Brasileiro desde 2009, é identificar o fator que permitiu uma transformação quântica.

Passemos à segunda pergunta: QUAL É A PRINCIPAL MENSAGEM DE JORGE JESUS? QUAL É A “EQUIPA” JORGE JESUS?

A poder da “equipa” de Jorge Jesus poderá assentar em algo comum aos “seus jogadores”, às aprendizagens que podemos fazer com a sua experiência, é a mensagem importantíssima, a da ESPERANÇA. Parabéns Jorge Jesus e Parabéns Flamengo.

#tacadoslibertadores #jorgejesus #flamengo

João Oliveira

Doutor em Psicologia, Mestre em Ciências do Desporto, Licenciado em Ensino da Educação Física, Treinador de Basquetebol, Treinador de Equipas, professor de Psicossociologia das Organizações e do Desporto no Instituto Universitário da Maia – ISMAI e formador em Desenvolver Equipas Eficazes, Motivação e Gestão do Pensamento em Contexto Profissional, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.