Com Oscar Wilde
O que o empate do Benfica em Barcelona tem a ver com Wilde, D. Quixote (e mais...)
Meu caro Jorge Jesus:
TENHO a certeza de que, se, por exemplo, lhe falasse do Kadu Barone do Ituano ou do Rubens Coura do Tombense, você saberia tudo sobre eles mas talvez não saiba que Oscar Wilde viveu a vida como se fosse uma obra de arte numa mistura de anjo e diabo ou que a tragédia foi a paixão que lhe atiçou Alfred Douglas, o filho do marquês de Queensberry que entrara para a história por criar as regras do boxe. Ao saber da íntima ligação entre ambos, o marquês denunciou Wilde como sodomita - e algures por 1895 um tribunal de Londres condenou-o a dois anos de prisão por imoralidade. Cumpriu a pena, para fugir ao escândalo exilou-se em Paris, mudou o nome para Sebastian Melmoth, miserável morreu, tendo descoberto antes:
— Todos nós vivemos a vida no fundo de um poço, mas só alguns de nós são capazes de olhar de lá as estrelas...
Imagino que já esteja com a pulga atrás da orelha, questionando-se:
— … mas por que é que este gajo me está para aqui a falar do Oscar Wilde, em vez de me falar do Kadu Barone ou do Rubes Coura?
e, eu respondo-lhe: por que vi que, em Barcelona, você voltou a ser o grande treinador que é por ter arranjado forma de os seus jogadores jogarem no seu espírito a olharem para as estrelas, libertos de todo o tipo de comportamentos tóxicos, sem nunca se sentirem menores, inadequados ou intimidados - e por ter arranjado forma de, na sua ideia de jogo (e na sua tática e na sua estratégia), todos eles terem feito sempre bem o que precisavam para não o perderem…
Deixe-me dizer-lhe ainda: foi o Wilde que descobriu que a desgraça de D. Quixote não era a sua fantasia, era ter sempre o Sancho Pança a roubar-lhe o sonho como um vampiro. E se você, às vezes, aparece a matar o Sancho nos seus delírios, em Camp Nou só não o matou na sua esperteza porque o pé do Seferovic o atraiçoou - roubando-lhe a vitória que você merecia por ter jogado o seu jogo ao nível do que Otamendi jogou o dele...