Sporting pode ser campeão no Dragão e repetir um 'penta' do FC Porto
30 de abril de 2016: a última vitória do Sporting no Dragão (Helena Valente)

Sporting pode ser campeão no Dragão e repetir um 'penta' do FC Porto

NACIONAL27.04.202408:30

É pouco provável, mas os leões podem vencer a Liga em casa de um velho rival. Aconteceu apenas por cinco vezes e todas por intermédio do FC Porto

O Sporting tem, este fim de semana, a possibilidade de se sagrar campeão nacional na casa de um rival direto, o FC Porto. Será preciso, porém, que dois factos se juntem: o SC Braga ganhar neste sábado ao Benfica na Luz e o Sporting bater o FC Porto, no dia seguinte, no Dragão.

Ambos os resultados são bastante improváveis de acontecer, se olharmos ao balanço dos resultados dos minhotos em casa dos encarnados e dos leões no terreno dos dragões. Em 68 jogos de Liga, o SC Braga apenas ganhou na casa do Benfica em três ocasiões. Para quem gosta de estatísticas, aqui fica a percentagem: 4,4 por cento. Menos difícil, mas igualmente complicado, é o triunfo do Sporting no terreno do FC Porto. Em 89 jogos de Liga, venceu por 14 vezes. Ou seja, 15,7 por cento.

Iuri Medeiros marca na Luz, no último triunfo do SC Braga em casa do Benfica, em novembro de 2020

A conjugação das duas probabilidades (4,4% e 15,7 %) dá, grosso modo, olhando apenas para os resultados passados, uma possibilidade de apenas 0,7 por cento de os dois resultados (vitória do SC Braga e do Sporting na jornada 31) acontecerem. É esta, muito a frio, claro está, a probabilidade de os leões serem campeões na casa do FC Porto.

Outra conjugação de resultados tornaria o Sporting virtualmente campeão: empate na Luz entre Benfica e SC Braga e vitória leonina no Dragão. Sporting passaria a somar 83 pontos e o Benfica teria 74. Ou seja, nove pontos de avanço a três jornadas do final e vantagem de, pelo menos 17 (empate na Luz e vitória no Dragão pela margem mínima), na diferença de golos.

Para o Sporting não ser campeão teria de perder nas últimas três jornadas (Portimonense em Alvalade, Estoril fora de casa e receção ao Chaves) e o Benfica vencer nessas mesmas três rondas (deslocação a Famalicão, Arouca em casa e jogo fora com o Rio Ave).

Além disso, as águias teriam de recuperar a desvantagem de (pelo menos) 17 golos para os leões. Exemplos: ganhar os três jogos por 3-0, 3-0 e 3-0 e esperar que o Sporting perdesse os três jogos igualmente por 0-3, 0-3 e 0-3. Inverosímil, claro está, mas não impossível.

Em 89 edições do Campeonato Nacional, apenas por cinco vezes uma equipa se sagrou campeã em casa de um rival direto. E foi sempre o FC Porto: 2021/2022, 2010/2011 e 1939/1940 em casa do Benfica e 1998/1999 e 1994/1995 no terreno do Sporting. A última aconteceu há quase dois anos…

O golo de Zaidu na Luz (2021/2022)

Quando o FC Porto visitou o Estádio da Luz, a 7 de maio de 2022, em jogo da jornada 33, tinha seis pontos de avanço sobre o Sporting, segundo classificado: 85 contra 79. Se perdesse os dois jogos finais (Benfica fora e Estoril em casa) e o Sporting vencesse nas duas últimas jornadas (em Portimão e em Alvalade com o Santa Clara), terminariam ambos com 85 pontos e, como houvera empate nos dois jogos entre ambos (1-1 em Alvalade e 2-2 no Dragão), o Sporting seria campeão.

Porém, bastaria empatar na deslocação ao Estádio da Luz para que o FC Porto se sagrasse, de novo, campeão nacional. O 0-0 manteve-se até se entrar no período de compensação de tempo perdido e tudo apontava para que os dragões voltassem a sagrar-se campeões nacionais em casa de um rival. E, para o confirmar, Zaidu marcou aos 90+4 o golo do triunfo dos azuis em casa dos vermelhos…

Zaidu festeja golo na Luz que confirmou vitória na Liga 2021/2022

O Benfica (treinado por Nélson Veríssimo) alinhou com Vlachodimos; Gilberto, Vertonghen, Otamendi e Grimaldo; Gil Dias, Weigl, Taarabt e Lázaro; Darwin Núñez e Gonçalo Ramos. O FC Porto (Sérgio Conceição a treinador) entrou com Diogo Costa; João Mário, Pepe, Mbemba e Zaidu; Pepê, Grujic, Vitinha e Otávio; Taremi e Evanilson. No final, o herói Zaidu analisou assim o jogo: «É o dia mais feliz da minha vida. É o meu primeiro campeonato e ficará para sempre gravado na minha memória. As emoções que senti quando marquei o golo são difíceis de descrever.»

Celebrar título com a Luz apagada (2010/2011)

Antes desta, a 3 de abril de 2011, dia em que se deslocou à Luz na jornada 25 com 13 pontos de avanço sobre o Benfica, o FC Porto já se sagrara campeão na Luz Se ganhasse, passaria a vantagem para 16 pontos, o que impossibilitaria os encarnados de, a cinco jornadas do final, ultrapassarem o FC Porto. Os donos da casa (com Jorge Jesus a treinador) alinharam de início com Roberto; Airton, Luisão, Sidnei e Fábio Coentrão; Javi Garcia; Salvio, Aimar e Gaitán; Jara e Saviola, enquanto o seu adversário (orientado por André Villas Boas) entrou com Helton; Fucile, Rolando, Otamendi e Álvaro Pereira; Guarín, Fernando e João Moutinho; Hulk, Falcao e Varela. O resultado (2-1 para os portistas) ficou fechado ainda antes da meia hora, após Roberto (9, p.b.), Saviola (17, g.p.) e Hulk (26, g.p.) terem marcado os golos.

Até ao final do jogo, apesar das expulsões de Otamendi (70) e Cardozo (87), tudo correu bem. O pior aconteceu dois minutos após o derradeiro apito de Duarte Gomes. As luzes da Luz foram apagadas, o sistema de rega foi ativado, diversos objetos foram lançados na direção de João Moutinho e aos microfones era ouvida a música ‘Cheira bem, cheira a Lisboa’. Ninguém do Benfica assumiu responsabilidades, apesar de terem circulado informações de que decisão fora previamente adotada caso o FC Porto vencesse e se sagrasse campeão.

A capa de A BOLA era clara: «Campeões apagam a Luz!». Pinto da Costa reagiu assim: «Primeiro apagámos o Benfica, depois apagaram a Luz. E a seguir ficaram nas trevas. Nunca tínhamos festejado às escuras, para mim foi novidade. Foi giríssimo e o mundo inteiro viu em direto. Jorge Jesus reagiu assim: «Sou treinador, não sou eletricista. Bom jogo e o FC Porto venceu com alguma felicidade».

FC Porto festeja na Luz e sem luz o campeonato de 2010/2011

Campeão antes do jogo começar (1998/1999)

O FC Porto pôde festejar a conquista do Campeonato Nacional de 1998/1999, o título do penta, quando ainda estava a preparar o jogo com o Sporting, em Alvalade. À entrada para a jornada 33, os dragões tinham cinco pontos de avanço sobre o Boavista. Bastava, pois, um ponto no estádio dos leões para se sagrarem desde logo campeões. Porém, se horas antes, em Faro, os axadrezados perdessem pontos, os azuis e brancos até poderiam perder em casa do Sporting. Assim foi.

O Boavista esteve a vencer no São Luís até ao minuto 88, fruto dos golos do brasileiro Isaías Aragão (5) e do ucraniano Atelkin (63). Porém, no espaço de dois minutos, Marco Nuno (89) e Gouveia (90, g.p.), restabeleceram o empate. «Os jogadores estavam altamente concentrados para este jogo, mas, quando soubemos do empate do Boavista, a equipa descomprimiu-se naturalmente e a descompressão resultou nalgum abrandamento», explicou Fernando Santos, treinador do FC Porto, no final do jogo de Alvalade.

O Sporting entrou com Nélson; Saber, Marcos, Beto e Rui Jorge; Delfim; Pedro Barbosa, Duscher e Simão; Acosta e Krpan, enquanto do FC Porto começou com Vítor Baía; Secretário, Jorge Costa, Aloísio e Esquerdinha; Deco, Peixe e Zahovic; Capucho, Jardel e Drulovic. Os leões estiveram a ganhar durante 39 minutos, pois Pedro Barbosa marcou aos 46 e Zahovic empatou aos 85 (1-1 final). «Pentástico!», titulava A BOLA.

Fernando Santos, contratado um ano antes para substituir António Oliveira no comando técnico do FC Porto, dizia que iria demorar muito tempo até acordar: «Sinto uma alegria enorme Uma coisa que se sente cá dentro e não se consegue explicar. Estou ainda a acordar. O meu primeiro pensamento foi dirigido para o meu pai. Depois, lembrei-me de toda a gente que me apoiou, a minha família e os meus jogadores. Não apenas estes, mas também aqueles do Estoril e do Estrela da Amadora, que me lançaram para a ribalta».

Jardel, principal artilheiro do FC Porto, mostrava-se exuberante após ter entrevistado, de microfone na mão, quase todos os companheiros de equipa: «Foi uma festa sensacional e foi lindo festejar o título num estádio quase todo de azul e branco. Fomos campeões e conquistámos aquilo que, no futebol português, ninguém mais conseguiu. O penta fica-nos muito bem».

FC Porto campeão 1998/1999 antes de entrar em Alvalade

Drama nos varandins antes do golo de Domingos (1994/1995)

Recuando até 7 de maio de 1995 encontramos outra vez o FC Porto a conquistar o Campeonato Nacional em casa de um adversário direto. Aconteceu com o FC Porto no primeiro título do penta, quando foi a casa do Sporting vencer por 1-0, golo de Domingos ao minuto 58, de grande penalidade.

Os leões estavam no 2.º lugar e tinham reduzido, na jornada 30, a diferença para os dragões de seis para quatro pontos, fruto do empate destes com o Estrela da Amadora (0-0) e do triunfo leonino na Luz (2-1; Dimas; Balakov e Iordanov). Se o Sporting, na ronda 31, batesse o líder em Alvalade, diminuiria a diferença para dois pontos com duas jornadas por realizar (Salgueiros-FC Porto e FC Porto-Tirsense; Sporting-Chaves-V. Guimarães-Sporting). Porém, se os dragões ganhassem em Alvalade, o título seria ficaria entregue, pois na primeira volta houvera empate (1-1).

O pré-jogo foi terrível e marcado por uma tragédia. A pressão exercida por várias dezenas de adeptos sobre um dos varandins das galerias do Estádio José Alvalade, aquando da chegada do autocarro do FC Porto, causou a queda coletiva no empedrado: 27 jovens caíram de uma altura de seis metros e, embora rápidos, os cuidados médicos não impediram a morte de um jovem de 17 anos (José Alberto Gonçalves, elemento da Juventude Leonina) e ainda mais 26 feridos, seis deles em estado muito grave. Domingos Gomes, então médico do FC Porto, foi dos primeiros a prestar auxílio às vítimas, tal como Renato Graça, responsável pela realização do controlo anti-doping.

Minutos depois, o jogo começava. O Sporting alinhava com Costinha; Nélson, Oceano, Vujacic e Paulo Torres; Iordanov; Carlos Xavier, Balakov e Amuinike; Figo e Juskowiak; o FC Porto entrava com Vítor Baía; João Pinto, Jorge Costa, Aloísio e Rui Jorge; Paulinho Santos; Secretário, Emerson e Kulkov; Rui Barros e Domingos. O jogo (e o título) ficaria decidido com o golo de Domingos ao minuto 58, a punir falta de Iordanov.

No final do jogo, por entre a alegria portista (Bobby Robson, despedido do Sporting ano e meio antes, foi dos mais festejados), Pinto da Costa falou sobre o primeiro marcador de golos do FC Porto nesse Campeonato: Rui Filipe, falecido a 28 de agosto de 1994 e autor do 1-0 no triunfo sobre o SC Braga (2-0) na primeira jornada, sete dias antes. «Fiz questão de jurar sobre a sua campa que ele ainda seria campeão», divulgou o presidente portista.

Figo e Secretário no jogo em que o FC Porto se sagraria campeão nacional de 1994/1995

Liga ganha pelo FC Porto em casa do Benfica (1939/1940)

A primeira vez que um clube se sagrou campeão no terreno de um rival direto foi há quase 84 anos. A 19 de maio de 1940, o FC Porto foi a casa do Benfica ganhar por 3-2, na última jornada do campeonato, terminando com dois pontos de avanço sobre o Sporting, que no mesmo dia empatou (0-0) no terreno do Barreirense.

O Benfica, orientado por Janos Biri, alinhara com Martins; Freire e Elói; Baptista, Albino e Francisco Ferreira; Lourenço, Brito e Rodrigues; Teixeira e Valadas, enquanto o FC Porto, dirigido por Miguel Siska, entrou com Rosado; Pereira e Guilhar; Anjos, Carlos Pereira e Baptista; António Santos, Pinga e Kodrnja; Gomes da Costa e Petrak. Os golos foram apoontados porTeixeira (44 e 87) para as águias e Pinga (23 e 73), Kodrnja (29) para os dragões.