Sporting pode ser campeão no Dragão e repetir um 'penta' do FC Porto
É pouco provável, mas os leões podem vencer a Liga em casa de um velho rival. Aconteceu apenas por cinco vezes e todas por intermédio do FC Porto
O Sporting tem, este fim de semana, a possibilidade de se sagrar campeão nacional na casa de um rival direto, o FC Porto. Será preciso, porém, que dois factos se juntem: o SC Braga ganhar neste sábado ao Benfica na Luz e o Sporting bater o FC Porto, no dia seguinte, no Dragão.
Ambos os resultados são bastante improváveis de acontecer, se olharmos ao balanço dos resultados dos minhotos em casa dos encarnados e dos leões no terreno dos dragões. Em 68 jogos de Liga, o SC Braga apenas ganhou na casa do Benfica em três ocasiões. Para quem gosta de estatísticas, aqui fica a percentagem: 4,4 por cento. Menos difícil, mas igualmente complicado, é o triunfo do Sporting no terreno do FC Porto. Em 89 jogos de Liga, venceu por 14 vezes. Ou seja, 15,7 por cento.
A conjugação das duas probabilidades (4,4% e 15,7 %) dá, grosso modo, olhando apenas para os resultados passados, uma possibilidade de apenas 0,7 por cento de os dois resultados (vitória do SC Braga e do Sporting na jornada 31) acontecerem. É esta, muito a frio, claro está, a probabilidade de os leões serem campeões na casa do FC Porto.
Outra conjugação de resultados tornaria o Sporting virtualmente campeão: empate na Luz entre Benfica e SC Braga e vitória leonina no Dragão. Sporting passaria a somar 83 pontos e o Benfica teria 74. Ou seja, nove pontos de avanço a três jornadas do final e vantagem de, pelo menos 17 (empate na Luz e vitória no Dragão pela margem mínima), na diferença de golos.
Para o Sporting não ser campeão teria de perder nas últimas três jornadas (Portimonense em Alvalade, Estoril fora de casa e receção ao Chaves) e o Benfica vencer nessas mesmas três rondas (deslocação a Famalicão, Arouca em casa e jogo fora com o Rio Ave).
Além disso, as águias teriam de recuperar a desvantagem de (pelo menos) 17 golos para os leões. Exemplos: ganhar os três jogos por 3-0, 3-0 e 3-0 e esperar que o Sporting perdesse os três jogos igualmente por 0-3, 0-3 e 0-3. Inverosímil, claro está, mas não impossível.
Em 89 edições do Campeonato Nacional, apenas por cinco vezes uma equipa se sagrou campeã em casa de um rival direto. E foi sempre o FC Porto: 2021/2022, 2010/2011 e 1939/1940 em casa do Benfica e 1998/1999 e 1994/1995 no terreno do Sporting. A última aconteceu há quase dois anos…
O golo de Zaidu na Luz (2021/2022)
… Quando o FC Porto visitou o Estádio da Luz, a 7 de maio de 2022, em jogo da jornada 33, tinha seis pontos de avanço sobre o Sporting, segundo classificado: 85 contra 79. Se perdesse os dois jogos finais (Benfica fora e Estoril em casa) e o Sporting vencesse nas duas últimas jornadas (em Portimão e em Alvalade com o Santa Clara), terminariam ambos com 85 pontos e, como houvera empate nos dois jogos entre ambos (1-1 em Alvalade e 2-2 no Dragão), o Sporting seria campeão.
Porém, bastaria empatar na deslocação ao Estádio da Luz para que o FC Porto se sagrasse, de novo, campeão nacional. O 0-0 manteve-se até se entrar no período de compensação de tempo perdido e tudo apontava para que os dragões voltassem a sagrar-se campeões nacionais em casa de um rival. E, para o confirmar, Zaidu marcou aos 90+4 o golo do triunfo dos azuis em casa dos vermelhos…
O Benfica (treinado por Nélson Veríssimo) alinhou com Vlachodimos; Gilberto, Vertonghen, Otamendi e Grimaldo; Gil Dias, Weigl, Taarabt e Lázaro; Darwin Núñez e Gonçalo Ramos. O FC Porto (Sérgio Conceição a treinador) entrou com Diogo Costa; João Mário, Pepe, Mbemba e Zaidu; Pepê, Grujic, Vitinha e Otávio; Taremi e Evanilson. No final, o herói Zaidu analisou assim o jogo: «É o dia mais feliz da minha vida. É o meu primeiro campeonato e ficará para sempre gravado na minha memória. As emoções que senti quando marquei o golo são difíceis de descrever.»
Celebrar título com a Luz apagada (2010/2011)
Antes desta, a 3 de abril de 2011, dia em que se deslocou à Luz na jornada 25 com 13 pontos de avanço sobre o Benfica, o FC Porto já se sagrara campeão na Luz Se ganhasse, passaria a vantagem para 16 pontos, o que impossibilitaria os encarnados de, a cinco jornadas do final, ultrapassarem o FC Porto. Os donos da casa (com Jorge Jesus a treinador) alinharam de início com Roberto; Airton, Luisão, Sidnei e Fábio Coentrão; Javi Garcia; Salvio, Aimar e Gaitán; Jara e Saviola, enquanto o seu adversário (orientado por André Villas Boas) entrou com Helton; Fucile, Rolando, Otamendi e Álvaro Pereira; Guarín, Fernando e João Moutinho; Hulk, Falcao e Varela. O resultado (2-1 para os portistas) ficou fechado ainda antes da meia hora, após Roberto (9, p.b.), Saviola (17, g.p.) e Hulk (26, g.p.) terem marcado os golos.
Até ao final do jogo, apesar das expulsões de Otamendi (70) e Cardozo (87), tudo correu bem. O pior aconteceu dois minutos após o derradeiro apito de Duarte Gomes. As luzes da Luz foram apagadas, o sistema de rega foi ativado, diversos objetos foram lançados na direção de João Moutinho e aos microfones era ouvida a música ‘Cheira bem, cheira a Lisboa’. Ninguém do Benfica assumiu responsabilidades, apesar de terem circulado informações de que decisão fora previamente adotada caso o FC Porto vencesse e se sagrasse campeão.
A capa de A BOLA era clara: «Campeões apagam a Luz!». Pinto da Costa reagiu assim: «Primeiro apagámos o Benfica, depois apagaram a Luz. E a seguir ficaram nas trevas. Nunca tínhamos festejado às escuras, para mim foi novidade. Foi giríssimo e o mundo inteiro viu em direto. Jorge Jesus reagiu assim: «Sou treinador, não sou eletricista. Bom jogo e o FC Porto venceu com alguma felicidade».
Campeão antes do jogo começar (1998/1999)
O FC Porto pôde festejar a conquista do Campeonato Nacional de 1998/1999, o título do penta, quando ainda estava a preparar o jogo com o Sporting, em Alvalade. À entrada para a jornada 33, os dragões tinham cinco pontos de avanço sobre o Boavista. Bastava, pois, um ponto no estádio dos leões para se sagrarem desde logo campeões. Porém, se horas antes, em Faro, os axadrezados perdessem pontos, os azuis e brancos até poderiam perder em casa do Sporting. Assim foi.
O Boavista esteve a vencer no São Luís até ao minuto 88, fruto dos golos do brasileiro Isaías Aragão (5) e do ucraniano Atelkin (63). Porém, no espaço de dois minutos, Marco Nuno (89) e Gouveia (90, g.p.), restabeleceram o empate. «Os jogadores estavam altamente concentrados para este jogo, mas, quando soubemos do empate do Boavista, a equipa descomprimiu-se naturalmente e a descompressão resultou nalgum abrandamento», explicou Fernando Santos, treinador do FC Porto, no final do jogo de Alvalade.
O Sporting entrou com Nélson; Saber, Marcos, Beto e Rui Jorge; Delfim; Pedro Barbosa, Duscher e Simão; Acosta e Krpan, enquanto do FC Porto começou com Vítor Baía; Secretário, Jorge Costa, Aloísio e Esquerdinha; Deco, Peixe e Zahovic; Capucho, Jardel e Drulovic. Os leões estiveram a ganhar durante 39 minutos, pois Pedro Barbosa marcou aos 46 e Zahovic empatou aos 85 (1-1 final). «Pentástico!», titulava A BOLA.
Fernando Santos, contratado um ano antes para substituir António Oliveira no comando técnico do FC Porto, dizia que iria demorar muito tempo até acordar: «Sinto uma alegria enorme Uma coisa que se sente cá dentro e não se consegue explicar. Estou ainda a acordar. O meu primeiro pensamento foi dirigido para o meu pai. Depois, lembrei-me de toda a gente que me apoiou, a minha família e os meus jogadores. Não apenas estes, mas também aqueles do Estoril e do Estrela da Amadora, que me lançaram para a ribalta».
Jardel, principal artilheiro do FC Porto, mostrava-se exuberante após ter entrevistado, de microfone na mão, quase todos os companheiros de equipa: «Foi uma festa sensacional e foi lindo festejar o título num estádio quase todo de azul e branco. Fomos campeões e conquistámos aquilo que, no futebol português, ninguém mais conseguiu. O penta fica-nos muito bem».
Drama nos varandins antes do golo de Domingos (1994/1995)
Recuando até 7 de maio de 1995 encontramos outra vez o FC Porto a conquistar o Campeonato Nacional em casa de um adversário direto. Aconteceu com o FC Porto no primeiro título do penta, quando foi a casa do Sporting vencer por 1-0, golo de Domingos ao minuto 58, de grande penalidade.
Os leões estavam no 2.º lugar e tinham reduzido, na jornada 30, a diferença para os dragões de seis para quatro pontos, fruto do empate destes com o Estrela da Amadora (0-0) e do triunfo leonino na Luz (2-1; Dimas; Balakov e Iordanov). Se o Sporting, na ronda 31, batesse o líder em Alvalade, diminuiria a diferença para dois pontos com duas jornadas por realizar (Salgueiros-FC Porto e FC Porto-Tirsense; Sporting-Chaves-V. Guimarães-Sporting). Porém, se os dragões ganhassem em Alvalade, o título seria ficaria entregue, pois na primeira volta houvera empate (1-1).
O pré-jogo foi terrível e marcado por uma tragédia. A pressão exercida por várias dezenas de adeptos sobre um dos varandins das galerias do Estádio José Alvalade, aquando da chegada do autocarro do FC Porto, causou a queda coletiva no empedrado: 27 jovens caíram de uma altura de seis metros e, embora rápidos, os cuidados médicos não impediram a morte de um jovem de 17 anos (José Alberto Gonçalves, elemento da Juventude Leonina) e ainda mais 26 feridos, seis deles em estado muito grave. Domingos Gomes, então médico do FC Porto, foi dos primeiros a prestar auxílio às vítimas, tal como Renato Graça, responsável pela realização do controlo anti-doping.
Minutos depois, o jogo começava. O Sporting alinhava com Costinha; Nélson, Oceano, Vujacic e Paulo Torres; Iordanov; Carlos Xavier, Balakov e Amuinike; Figo e Juskowiak; o FC Porto entrava com Vítor Baía; João Pinto, Jorge Costa, Aloísio e Rui Jorge; Paulinho Santos; Secretário, Emerson e Kulkov; Rui Barros e Domingos. O jogo (e o título) ficaria decidido com o golo de Domingos ao minuto 58, a punir falta de Iordanov.
No final do jogo, por entre a alegria portista (Bobby Robson, despedido do Sporting ano e meio antes, foi dos mais festejados), Pinto da Costa falou sobre o primeiro marcador de golos do FC Porto nesse Campeonato: Rui Filipe, falecido a 28 de agosto de 1994 e autor do 1-0 no triunfo sobre o SC Braga (2-0) na primeira jornada, sete dias antes. «Fiz questão de jurar sobre a sua campa que ele ainda seria campeão», divulgou o presidente portista.
Liga ganha pelo FC Porto em casa do Benfica (1939/1940)
A primeira vez que um clube se sagrou campeão no terreno de um rival direto foi há quase 84 anos. A 19 de maio de 1940, o FC Porto foi a casa do Benfica ganhar por 3-2, na última jornada do campeonato, terminando com dois pontos de avanço sobre o Sporting, que no mesmo dia empatou (0-0) no terreno do Barreirense.
O Benfica, orientado por Janos Biri, alinhara com Martins; Freire e Elói; Baptista, Albino e Francisco Ferreira; Lourenço, Brito e Rodrigues; Teixeira e Valadas, enquanto o FC Porto, dirigido por Miguel Siska, entrou com Rosado; Pereira e Guilhar; Anjos, Carlos Pereira e Baptista; António Santos, Pinga e Kodrnja; Gomes da Costa e Petrak. Os golos foram apoontados porTeixeira (44 e 87) para as águias e Pinga (23 e 73), Kodrnja (29) para os dragões.