Um ‘puzzle’ onde as peças não encaixam
Roger Schmidt, treinador do Benfica (Foto: Miguel Nunes)

OPINIÃO Um ‘puzzle’ onde as peças não encaixam

OPINIÃO22.04.202410:09

'Cartas na mesa', por José Manuel Delgado

Enquanto não souber as linhas com que se coserá na próxima temporada, o Benfica deve ficar quieto, em reflexão, cenarizando respostas às várias hipóteses que se lhe colocam. Três possibilidades estão em cima da mesa: entrada direta na Champions, fundamentalmente através de um triunfo do Leverkusen na Liga Europa;_acesso ao play-off da Champions, caso termine, sem mais, a Liga em segundo lugar; ida à Liga Europa, se ficar abaixo desse patamar. Como dizia o pregão dos vendedores de gelados há um bom par de anos, «cada cor, seu paladar».

Dito isto, há algumas circunstâncias que são por demais evidentes, e que forçosamente entrarão nas equações, a começar pela situação de Roger Schmidt, que passou, à velocidade da Luz, do estado de graça ao estado de desgraça. Será reversível? É difícil, mas já se viu pior, no Benfica, quando Jorge Jesus, depois de perder, em maio de 2013, Liga, Liga Europa e Taça de Portugal, atingiu o grau abaixo de zero de popularidade junto a sócios e adeptos, foi mantido, mesmo assim, em funções, por Luís Filipe Vieira, e venceu, nas duas épocas que se seguiram o título nacional, abrindo portas ao tetra.

É difícil de saber se Schmidt tem o mesmo jogo de cintura de JJ, que engoliu alguns sapos, a permanência de Óscar Cardozo o mais difícil de tragar. Apesar da proverbial teimosia de Jesus, Roger Schmidt parece superá-lo nesse departamento, o que torna a presente situação ainda mais volátil.

Mas há mais: qual era o principal atributo do Benfica de Schmidt na época passada, em que, com Enzo Fernández, chegou a atingir momentos de brilhantismo? O equilíbrio entre setores, que lhe permitia ser sufocante na pressão alta e elástico nas transições ofensivas. Com a saída de Grimaldo o poder atacante, pela esquerda, foi-se, e com a entrada de Di María, a capacidade defensiva, pela direita, baixou muito, tornando impossível, na prática, que a equipa pressionasse.

Antes de decidir se Schmidt fica ou sai, o Benfica precisa de voltar a equilibrar o plantel (e aqui as culpas não podem ficar todas nas costa do técnico alemão), colocando Kokçu e Aursnes, não a tapar buracos, mas nos seus lugares, definindo que tipo de nove quer, e resolvendo a questão do defesa-esquerdo, na certeza de que se não defenderem todos e atacarem todos, nunca irá a lado nenhum.