Que devolva o FC Porto ao país
Villas-Boas (Grafislab)

Que devolva o FC Porto ao país

OPINIÃO02.05.202409:00

Villas-Boas vai ter de provar que consegue ganhar com um outro tipo de liderança

A esmagadora vitória dá-lhe margem importante de confiança para o que se segue, porém o desafio, com toda a certeza encarado desde sempre com espírito de missão, tem pelo menos a mesma grandeza que o clube a que se predispôs mudar. A herança é pesadíssima, brutal, muito próxima do insuportável.

Durante a campanha, André Villas-Boas conseguiu estar sempre equilibrado sobre o arame, não se deixando cair para o lado em que colocaria em causa a gratidão a Pinto da Costa ou para um outro que mostrasse uma imagem de continuidade que nunca seria o que ele – e o que a maioria, sabe-se hoje – desejava, todavia, a contagem decrescente para assumir de vez a rotura já arrancou.

A sua eleição enquadra-se também numa nova era em que os líderes dos três grandes são pessoas mais diretamente ligadas ao jogo: um ex-futebolista, um médico de equipa profissional e um treinador. Se em teoria a ideia sempre fez sentido – o que não invalida que tenham de se mostrar bons gestores nas várias áreas – espero que também na prática aproxime o país desportivo da noção de bem-maior de que precisamos para crescer em conjunto.

Foram mais de quatro décadas de uma liderança com um estilo muito próprio, irrepetível e marcado por um isolacionismo sobretudo em relação ao sul, que teve o seu tempo e já não faz sentido nos dias em que vivemos. É verdade que esse orgulhosamente sós (sem qualquer conotação política) ajudou ao discurso do contra tudo e contra todos que se tornou força inquebrantável e carregou o FC Porto até ao domínio do futebol indígena, com posterior e crescente expressão planetária, mas nos últimos anos apareceram cada vez mais brechas, com a competitividade salvaguardada por um treinador que as ia conseguindo disfarçar com génio e engenho.

Não há dúvida de que Villas-Boas será um líder apaixonado e feroz na defesa dos interesses portistas. Cabe-lhe ainda abrir as janelas, deixar entrar a luz e fazer circular o ar, garantindo ao mesmo tempo que os títulos continuam a entrar no museu. Quantos mais melhor. Se não o fizer, o regresso ao passado poderá tornar-se realidade em pouco tempo. Há esse risco. O novo presidente tem sobretudo de provar que consegue ganhar com uma liderança mais aberta e tranquila, de relacionamento saudável com todos os agentes e rivais. Com isso, devolverá certamente o FC Porto ao resto do país e torná-lo-á ainda maior.

As brechas deixaram sair más notícias e há muito que paira o fantasma do fair-play financeiro sobre o Dragão. O novo presidente só terá perfeita noção das finanças assim que se sentar no trono de sonho e essas terão certamente influência na política desportiva e no cumprimento de um programa eleitoral com metas ambiciosas. Também a questão Sérgio Conceição terá de ser gerida com pinças. Se a qualidade não está em causa e serão poucos os adeptos que desejam a sua saída, quanto da imagem do novo FC Porto não terá de passar por outros rostos e outro tipo de presença, incluindo no banco? Será necessária uma grande dose de coragem!