Quarta Registada: Nova era
Frederico Varandas e Rúben Amorim na festa do título. SPORTING CP

Opinião Quarta Registada: Nova era

OPINIÃO08.05.202410:00

Ouvir Pinto da Costa voltar a referir-se ao Estádio Nacional como o estádio de Oeiras faz-me desejar acelerar ainda mais o tempo até Villas-Boas ter plenos poderes; ver Pepe, na mensagem escrita, terminar com um ‘Viva o Porto, Viva o FC Porto’ faz sentido, mas nunca faria ver Coates fazer o mesmo e despedir-se com um ‘Viva Lisboa, Viva o Sporting’…

Contar a história da noite de domingo foi a crónica de uma vitória há muito anunciada – admitida desde cedo na temporada, à medida que o futebol do leão se consolidava nas ideias de Rúben Amorim, perspetivada com o andar das jornadas, esperada desde o golo com que Geny Catamo selou, a 6 de abril, a vitória no dérbi com o Benfica. Era uma questão de tempo, foi mais cedo no domingo e não mais tarde no próximo sábado, porque se o título do Sporting estava endereçado, o tropeção do Benfica em Famalicão tinha odds mais baixas do que normalmente teria – e isso diz muito sobre a época da equipa de Schmidt.

A festa saiu à rua, desceu de Alvalade até desaguar no Marquês num ambiente eufórico mas saudável, sem incidentes, apenas a festa pura que durou até de madrugada. Tudo isto é normal, mas serve a festa, o que vi na festa, para perceber que, assim os leões queiram, apostem e trabalhem, têm uma séria oportunidade para inaugurar uma nova era no futebol português, com o Sporting a ter papel triunfante como nunca teve nos últimos 40 anos.

Dois títulos nacionais em quatro anos é algo pouco habitual nessa baliza de tempo de quatro décadas – e porque obra do mesmo presidente, Frederico Varandas, e do mesmo treinador, Rúben Amorim, ainda mais significativos. Embora nada usual, não é inédito: em 1999/2000 José Roquette e Augusto Inácio conseguiram-no; em 2001/2002 Dias da Cunha e Laszlo Boloni também. Inédito seria manter esta regularidade, significaria quatro campeonatos numa década, capacidade perdida depois dos anos 70 do século passado. Mais inédito ainda seria cumprir a profecia de Amorim, o bicampeonato que não acontece há 70 anos!

Voltemos à festa, ao que vi na festa, e que não se via na nação leonina há mais de 20 anos. A comunhão entre os adeptos, a união a atravessar várias gerações mas sobretudo muita juventude – da criança mais pequena ao jovem mais adulto. Há uns anos, no deserto de títulos e numa época de constante desunião que as Taças de Portugal conquistadas não atenuavam, havia quem garantisse que Portugal não admitia três grandes clubes, que Benfica e FC Porto iam descolar e deixar o leão apeado. Mas isso era ignorar a maior força do Sporting: a base popular (e não, o Sporting não é o clube dos viscondes) e a implementação nacional. Implementação essa que nunca se apagou e que sempre foi bandeira, desde logo a lembrar no estrangeiro que o clube é de Portugal e não apenas de Lisboa. E aqui contrasta com quem, por exemplo, sempre quis fazer do FC Porto mais uma bandeira regional do que nacional, quando 40 anos de vitórias cá dentro e lá fora tinham tudo para fazer crescer o clube ainda mais do que cresceu pelos méritos desportivos – ouvir ontem Pinto da Costa voltar a referir-se ao Estádio Nacional como o estádio de Oeiras faz-me desejar acelerar ainda mais o tempo até Villas-Boas ter plenos poderes; ver Pepe, na mensagem escrita, terminar com um Viva o Porto, Viva o FC Porto faz sentido, mas nunca faria ver Coates fazer o mesmo e despedir-se com um Viva Lisboa, Viva o Sporting

SELO DE GOLO

Em semana de título nacional, o selo de golo para o campeão Sporting. Pela conquista acima de tudo, naturalmente, mas também pela festa bonita, bem organizada, e pelo comportamento dos adeptos. Era alegria pura.