OPINIÃO O desafio da transição no FC Porto

OPINIÃO01.05.202410:30

Poderá o futuro esperar pela letra da lei e pelo resultado da final da Taça de Portugal?

O minuto 42 do FC Porto-Sporting, domingo passado, disse tudo sobre o momento de um dos maiores clubes de Portugal e do Mundo.

Um clube no qual os sócios quiseram mudar (e de que maneira: 80/20 é muito relevante!) depois de 42 anos de reinado absoluto, mas cujos adeptos souberam respeitar e homenagear, num estádio cheio, o homem que liderou as melhores páginas da sua História.

O dia 27 de abril marcou uma viragem na vida do FC Porto e — deixemo-nos de rodeios — no futebol português. Nada será como dantes. Porque «antes» significa Pinto da Costa presidente portista. Mais de metade da população que atualmente reside em Portugal nunca conheceu outra realidade.

Sobre os méritos e deméritos de Pinto da Costa muito se escreverá e dirá. Importa, agora, perceber como será feita a transição de poder. Quarenta e dois anos não são 42 dias. Largos dias têm 42 anos, adaptando o título de uma autobiografia de Pinto da Costa publicada em... 2004, por ocasião dos 40 anos como dirigente. São mais de quatro décadas com cunho pessoal impresso sobre a gestão de um clube e, mais tarde, de uma SAD. São décadas em que o nome de um presidente se confunde com o nome do FC Porto e até da própria cidade.

Como bem sabe Pinto da Costa (apreciador de poesia), o mundo pula e avança. Derrotado nas urnas mas ainda assim glorificado nas bancadas, cabe-lhe agora garantir uma transição pacífica para os novos tempos.

André Villas-Boas quer acelerar o processo e já conseguiu que se desse um passo importante, com a marcação da tomada de posse da nova Direção do clube para 7 de maio, bem antes do prazo legalmente previsto.

Mantém-se, porém, um impasse na FC Porto SAD. A letra da lei fala em pelo menos 21 dias a separar uma e outra posse. O calendário do futebol português diz-nos que se forem cumpridos à risca esses 21 dias a nova administração da SAD assumirá funções após a final da Taça de Portugal, agendada para 26 de maio.

A alternativa possível passa pela demissão da atual administração da SAD, sendo que a partir de dia 7 a Direção de Villas-Boas poderá, nesse caso, cooptar nova administração.

Está em causa a preparação da nova época e do futuro, mais do que um troféu que pode ou não vir a ser conquistado no Jamor.

Sérgio Conceição renovou com o FC Porto, ou com Pinto da Costa, antes das eleições. Ao que se sabe é um contrato reversível, mas isso não é o mais importante agora. Importante é que para nenhuma das partes será justo prolongar a indefinição, tendo em vista o futuro de todos. E uma eventual continuidade de Sérgio Conceição não pode nem deve ficar condicionada à conquista da Taça de Portugal.

No dia 26 de maio, muito provavelmente, Pinto da Costa e Villas-Boas estarão ambos na tribuna do Estádio Nacional. Que o façam em paz, pelo «bem comum» que todos têm apregoado.