Balakov viu o que Di María não vê e Ancelotti sabe
Di María e Roger Schmidt. Foto: IMAGO/HMB-Media

Balakov viu o que Di María não vê e Ancelotti sabe

OPINIÃO20.04.202401:00

Quando disse o que disse, o Fideo deixou Roger Schmidt numa encruzilhada

Costumo dizer que, depois de Deco se ter naturalizado português, Krassimir Balakov é o melhor jogador estrangeiro que vi jogar em Portugal.

Dirão alguns com memória mais antiga que Rabat Madjer é que foi, outros mais recentes que terá sido Pablo Aimar ou Jonas ou indo lá mais atrás Hector Yazalde sem esquecer, claro, três gigantes: Michel, Peter e Iker – o primeiro nome basta-lhes.

Haverá os estatísticos que, facilmente, argumentam: «Mário Jardel, meu caro.»

Claro que, à luz dos números, Super Mário foi um fenómeno e, provavelmente, o mais impactante avançado do nosso campeonato após Eusébio. Um dia, todas as crianças sonharam marcar golos como Jardel, voando, como diz a letra de Tê, «sobre os centrais».

Mas a quantidade de golos, creio, não preenche a melhor das imaginações. Essa é, sim, alimentada por outras artes, a começar pela beleza com que se faz as coisas. Sonha-se mais numa só jogada de Maradona, do que em todos os golos da carreira de Gerd Müller.

O que mais me impressionou, porém, não foi o pé esquerdo de «Bala», como ainda lhe chamam. Foi a simplicidade que demonstrou nesta visita às novas instalações de A BOLA, a sinceridade que teve nas palavras e algumas reflexões que o acompanharam, até sobre o futebol moderno.

Foi questionado sobre o Sporting, um dos seus grandes amores, mas também foi interrogado sobre o FC Porto e o Benfica sem se desviar nas respostas. E, obviamente, sobre Carlos Queiroz, o qual consegue agora perceber, anos depois de ter tido um desacordo com o treinador que Sousa Cintra quis para substituir Bobby Robson.

Os anos trazem a distância para discernir melhor, até porque, sendo Balakov definitivamente um craque em campo – ainda mais fora dele, acreditem – perdeu algum do brilho que os jogadores no ativo sempre têm, essa luz cintilante que, porém, em ocasiões se torna negativa e encandeia a estrela que a produz.

Terá sido por isso que Di María não conseguiu ver, logo no início da época, quando afirmou que não gostava de ser substituído, que coisas ditas podem ser definidoras: na caminhada e no sucesso (ou a falta deste).

Quando disse o que disse, o Fideo, um talentoso esquerdino como Balakov, deixou Roger Schmidt pelo menos numa encruzilhada. Há quem diga que o treinador escolheu a estrada errada, como se dizia, há uns anos, que Carlos Queiroz fizera o mesmo com Balakov, o craque da equipa, ao insistir na sua posição.

O Sporting não foi campeão, mas acabou a vencer o primeiro troféu em 14 anos (Taça de Portugal). Gerir as estrelas não é tarefa fácil, seja em 1994/95, ou em 2023/24. É pela ideia anterior que Carlo Ancelotti é especial e ninguém se julga acima dele...