Flor com orgulho e contra o preconceito
Florencia Giorgi, jogadora de voleibol do Vitória de Guimarães (Imagem: Vitória SC)

DIA DA MULHER Flor com orgulho e contra o preconceito

MODALIDADES08.03.202412:15

Florencia Giorgi é atleta do Vitória de Guimarães desde 2021, ano em que decidiu trocar Buenos Aires pela cidade berço. Já foi descriminada e assediada, mas prefere acreditar que não existe machismo em relação ao voleibol feminino.

Já parou para pensar que o voleibol pode ser uma modalidade machista na perspetiva de uma mulher? Existe uma expetativa nos padrões corporais de género que podem fazer mossa nas atletas femininas da modalidade, sem esquecer a pressão para atender a certos padrões de beleza.

Veja a entrevista completa em vídeo

I | Vidas Passadas

Florencia Giorgi, de 28 anos, não revela marcas do estereótipo que foi alvo quando era mais «miúda» - um calão bem demarcado no seu vocabulário, dominado pelo castelhano e que os três anos em Portugal não fizeram desaparecer. A atleta argentina do voleibol feminino do Vitória de Guimarães já viveu momentos de descriminação e assédio ao longo da carreira, «felizmente» nunca em Portugal, país que considera ainda ser dominado pelo movimento patriarcal.

«Oiço esses comentários…. De termos o patrocínio nos nossos calções ou saia [nas competições, o Vitória veste, agora, as suas atletas de saia]. É um tema complicado… mas prefiro acreditar que os homens vêm pelo espetáculo do voleibol feminino. Mas também acredito que muitos venham apenas para ver as jogadoras», revela em entrevista À BOLA.

Flor estuda Engenharia Química, mas o curso, na Argentina, está 'congelado'

A vestir-se de branco e preto desde 2021, Flor (como é mais conhecida) fez uma análise às duas sociedades, portuguesa e argentina, quanto ao papel da mulher e à corrente feminista que tem crescido nos últimos anos, um pouco por todo o mundo.

«Na Argentina, houve uma força feminista muito grande que fez com que os valores fossem mais igualitários entre homens e mulheres em várias áreas, não só no desporto, mas até em questões sociais. Quando comparo os dois países ainda sinto que aqui em Portugal existe uma maior prevalência do patriarcado».

II | Decisão de Partir

Flor, estudante de Engenharia Química recorda que foi «uma mudança radical, sobretudo, porque para uma mulher é sempre mais difícil tomar a decisão de sair do país, de casa, da zona de conforto», sublinhando que em momento algum se arrependeu da decisão tomada».

«Somos três irmãos e sempre fui a mais desapegada da família porque aos 12 anos já tinha saído de casa, tinha ido para Santa Fé, depois a Buenos Aires para jogar e depois para aqui. Mas quando disse que vinha para Guimarães, o meu pai… esquece [mais uma expressão popular entre os jovens portugueses] … ficou totalmente chateado. Mas depois quando voltei para a Argentina, passado um ano, consegui levar um pouco dinheiro, fazer investimentos e ele ficou muito mais tranquilo, viu o outro lado positivo da minha decisão de partir».

A independência feminina que consegui obter com esta decisão foi um marco na minha vida, um antes e um depois

A vitoriana acredita que o público está a aderir ao voleibol feminino pelo «espetáculo»

III | A Voz das Mulheres

Os casos de assédio sexual no desporto, envolvendo equipas femininas, tem sido denunciadas pelas próprias e mediatizadas pela imprensa, levando a que seja mais fácil para a vítima sentir-se mais segura perante as investidas. A central do Vitória alerta para o facto de os casos de assédio sucederem em faixas etárias mais novas, com a esperança de que a verdade seja entorpecida pela inocência.

«Aqui em Portugal nunca me aconteceu, mas há 7 ou 8 anos, quando a Argentina ainda era um país bastante machista, fui vítima de descriminação e vi treinadores tratarem muito mal as mulheres. Felizmente, as coisas foram modificando e já vejo mais igualdade e um ambiente mais seguro. Quando era mais miúda, achava que era normal para mim, pior quando esse assédio vinha da parte de treinadores e dirigentes».

Algo tão simples como as redes sociais podem servir para o empoderamento feminino no desporto.

«O Vitória de Guimarães ao longo destes três anos, empoderou muito o voleibol feminino, reconheço, com as redes socias porque mostra muito a modalidade e depois vê-se muti publico nas bancadas e acho que isso faz parte do poder das redes sociais e o reconhecimento das pessoas quando andamos na rua», diz Flor, com orgulho, acerca do clube que representa há três temporadas.

O voleibol feminino é das modalidades que mais público atrai ao Pavilhão do Vitória SC, superando inclusive as categorias masculinas do voleibol e basquetebol.