Famalicão-Benfica, 2-0 Festa no sofá vermelho do psicanalista da Luz

Na primeira parte, plano 1 de Schmidt deu em roleta russa; na segunda, plano 2 foi da esperança ao desastre; peso é insustentável

Melhor vizinho não se pode pedir. O Benfica foi um amigo generoso para com o seu velho companheiro da Segunda Circular e acabou, de vez, com a ansiedade de um Sporting que mesmo já sabendo que ia ser campeão, não deixava de sofrer a pressão psicológica dos grandes momentos anunciados.

Para não deixar que o Sporting fosse campeão à sua custa, o Benfica tinha de ganhar em Famalicão. Não só não ganhou, como perdeu por um resultado claro e que não deixa margem a dúvidas. E foi assim, no sofá vermelho do psicanalista da Luz, que Alvalade festejou o título e vestiu de verde o Marquês.

Schmidt e o plano 1

A pressão sobre Roger Schmidt tem sido muita e o técnico alemão deixa perceber que lida mal com as críticas. Está a ser difícil suportar a crise de identidade que este Benfica continua a mostrar. Por isso, em fim de época, continuam as dúvidas existenciais sobre o onze nuclear. Daí o plano 1 usado, ontem, em Famalicão e que incluía Carreras a defesa esquerdo, João Mário ao lado de João Neves, Kokçu a médio adiantado e Marcos Leonardo a ponta de lança, porque marcou golos no último jogo.

O resultado não foi particularmente animador. A equipa esteve desequilibrada durante toda a primeira parte e se é verdade que poderia ter feito golos, não é menos verdade que também os poderia ter sofrido. O jogo tornou-se, por isso, uma roleta russa. Imprevisível e perigosa, principalmente porque insistindo em ter Di María como um jogador à parte, essencial na manobra ofensiva, mas desistente de qualquer ação defensiva, obrigava, assim, a equipa a compensações artificiais que a fragilizavam nos flancos, onde o Famalicão, com um trio de ataque versátil e aberto, conseguia facilmente situações de desequilíbrio numérico.

Schmidt e o plano 2

Ao intervalo, e ao contrário do que lhe é habitual, Schmidt provocou uma verdadeira revolução. Tirou Neres, Marcos Leonardo e Kokçu, contribuindo para maior depressão deste trio de esconjurados. Apostou em Florentino, Rafa e Arthur Cabral, ousando mudar, não apenas jogador por jogador, mas também o sistema, porque colocando João Mário no lado esquerdo passou a ter mais meio campo e menos capacidade de desequilibrar na ala.

É verdade que nos primeiros vinte minutos da segunda parte, o Benfica foi mais pressionante e mais dominador. Pareceu, também, mais equilibrado, porque Florentino tapava melhor espaços e consentia mais envolvimento atacante de João Neves. Teve mais bola, esteve por mais tempo junto à grande área do adversário, mas não conseguiu marcar, errando nos momentos decisivos.

Quem não errou foi Puma Rodríguez. Um golo precioso e de classe, aos 71 minutos,virou o jogo do avesso e afundou tragicamente o Benfica. Um lance muito parecido àquele em que na primeira parte tinha acertado no poste direito de Trubin. Da mesma maneira, aproveitando a dádiva de poder enfrentar Carreras no um para um, situação em que sempre provou ser mais forte.

A partir daí, a equipa de Schmidt entrou em modo de desastre descontrolado. Sofreu mais um golo, poderia ter sofrido, pelo menos, o terceiro. Desolado, Rui Costa assistia na bancada. Que pensamentos o assaltavam? Talvez lhe viesse à memória, como se fosse um pesadelo, as últimas declarações de Schmidt a afirmar que estava muito bem no Benfica e de lá não sairia até 2026!