Como sobreviver a um raio e sair a sorrir: a crónica da reviravolta dos dragões

Santa Clara-FC Porto, 1-2 Como sobreviver a um raio e sair a sorrir: a crónica da reviravolta dos dragões

NACIONAL29.02.202418:42

Golo do Santa Clara nos primeiros segundos do reatamento foi mais um ‘filme’ da época; dragão reergueu-se na 2.ª parte e venceu bem

Ser atingido por um relâmpago não deve ser uma sensação nada agradável, mas há quem sobreviva. Foi o que aconteceu ao FC Porto no reatamento do jogo contra o Santa Clara, ao minuto 27.  Lançamento lateral de Lucas Soares no lado contrário aos bancos de suplentes (como mandavam as regras para o reinício da partida), surgiu um desvio na área de Paulo Henrique para um primeiro remate de Pedro Pacheco, que Diogo Costa defendeu muito mal para a frente e, na recarga, Rafael Martins não perdoou.

Sérgio Conceição já viu muitos filmes de golos sofridos pela sua equipa de forma inusitada ao longo da temporada, e até falou sobre o tema no final do encontro contra o Gil Vicente, mas este entra no ‘top’ dos mais facilitados de sempre em 2023/24. Claramente um lance estudado até ao mais ínfimo detalhe pela equipa técnica de Vasco Matos e que trocou as voltas à defesa portista, guarda-redes incluído.

A jogar a favor do vento, os dragões gozaram de um domínio consentido pelo Santa Clara e a reação de Conceição foi promover uma remodelação tática nunca vista, formatando a equipa num 3x4x3, com Pepe, Fábio Cardoso e Wendell no trio defensivo, e João Mário na esquerda, a engrossar o lote de jogadores capazes de levar perigo à baliza de Marcos Díaz. Contudo, tirando um desvio perigoso de cabeça de Pepe (31), a fórmula não resultou e os açorianos desceram ao intervalo confortáveis e em vantagem. O que determinou uma mudança radical no FC Porto foi a entrada de Namaso — inglês com parca utilização, mas que normalmente traz sempre algo de bom ao jogo portista —, que resultou num fato tático mais adaptado à exigência da partida, um 4x4x2 que autorizou a participação dos dois extremos, Francisco Conceição e Galeno, na dinâmica atacante dos azuis e brancos.

Nove minutos demolidores

A pressão exercida pelo dragão depois do intervalo foi a prova de que aquele raio que o atingiu em cheio ao minuto 27 não teve influência nas batidas da equipa. Fechado, fechadinho, o Santa Clara cometeu erros na saída para o ataque planeado, e numa dessas situações Francisco apanhou a bola, entregou-a a Evanilson, que sem preparação rematou para o empate — a bola ainda desviou no pé Luís Rocha, traindo Díaz.

Desse momento até à reviravolta foi um saltinho, só nove minutos. Aos 61’, Francisco Conceição voltou a fazer das suas, ultrapassou Paulo Henrique e meteu o couro na área. Nico González ainda se fez ao lance mas foi Galeno quem fez o disparo fatal para os açorianos.

Safira ao poste

A ganhar por 1-2, o FC Porto manteve o controlo da partida, mas num ‘modo gestão’ que já lhe custou pontos na Liga e podia perfeitamente ter resultado no golo do Santa Clara. Safira acertou no poste (78) e antes desse lance impactante um cruzamento que Diogo Costa não conseguiu intercetar só não teve um final feliz para os açorianos porque Lucas Soares levou o ombro à bola, em vez de utilizar a cabeça. Na sequência, Safira caiu com aparato na área, com o juiz Cláudio Pereira a considerar que não houve qualquer toque de Pepe — O VAR teve a mesma opinião.

As alterações promovidas por Vasco Matos na equipa tiveram, portanto, efeito positivo, mas não ao ponto de colocar o FC Porto perante a ameaça de um prolongamento. Com a entrada de Iván Jaime, o Santa Clara teve de lidar com uma nova referência ofensiva do opositor, o que lhe roubou minutos preciosos para criar outras vagas de ataque passíveis de convocar a intervenção de um Diogo Costa estranhamente desconfortável no palco de São Miguel. Nesse sentido, sem ter mexido muito no onze (foi mesmo mais na parte tática), Sérgio Conceição soube escolher a unidade ideal para cristalizar o adversário, mesmo que os rasgos do espanhol tenham sido apenas isso – rasgos sem grande perigo. O FC Porto segue, assim, para as meias-finais da Taça de Portugal, onde vai defrontar a duas mãos o Vitória de Guimarães.