ENTREVISTA A BOLA Campeão do mundo 'JAfonso': «Foi uma temporada quase perfeita»

Madeirense de 20 anos descreveu a sua conquista do Mundial de futebol virtual e a experiência na Arábia Saudita, fazendo um resumo da época e do torneio final

João ‘JAfonso’ Vasconcelos venceu o Mundial de FC 24 na Arábia Saudita, que recebeu este torneio de futebol virtual e muitas outras competições de eSports, após já ter celebrado as conquistas da MLS, MASTERS e ainda uma presença na meia-final em Berlim, para o Campeonato do Mundo da EA, no dia 18 de agosto deste ano.

Um mês depois falámos com o novo campeão do mundo e ele contou-nos como tem sido esta temporada brilhante, e também como foi a experiência de levantar o título em solo saudita, afirmando que ainda está a digerir tudo o que se passou no último ano.

«A experiência, no geral, pode-se dizer que correu muito bem, porque é fácil quando se ganha, obviamente, mas sem dúvida que saí de lá com o sentimento de… um sonho que consegui atingir, acima de tudo. A experiência em si, não só em termos de jogabilidade, não só no torneio, também as condições e todo o apoio que nós, os jogadores, tínhamos pela organização do torneio foi incrível e, portanto, só tenho coisas boas a dizer da experiência», começou por dizer, antes de ser convidado a descrever a sua época numa palavra.

«Diria… quase perfeita. Não é uma palavra, mas... obviamente que incrível, mas ainda com coisas a melhorar. Só não foi perfeita porque não consegui ganhar o da Alemanha, se não aí seria perfeito», explicou, afirmando, de seguida, que tinha confiança em regressar a Portugal com o troféu. «Obviamente que eu sabia que tinha qualidade e estava confiante que tinha qualidade para me qualificar e depois lá está, um torneio… depende um bocado se estiveres a jogar bem. Eu saí do Mundial da Alemanha com o sentimento que poderia ter chegado à final ou até mesmo vencido, portanto eu sempre acreditei que podia vencer este torneio, sim.»

'JAFONSO' a levantar o troféu referente à conquista do Mundial na Arábia Saudita (Foto: EWC)

Para chegar à fase final, o madeirense teve de passar por uma fase de qualificação, onde apenas dois de 128 jogadores se apuravam, sendo que um deles foi ele, apesar de não ter sido sempre fácil: «Foi um qualificador que teve muitos bons jogadores de todas as partes do mundo, mas lá está, eu acho que, devido ao que fiz em Berlim, era um dos favoritos a qualificar e felizmente consegui qualificar-me, mas foi uma fase de qualificação um pouco… diria surpreendente, porque de facto havia muitas vagas destinadas aos jogadores da região da Arábia Saudita e que me surpreenderam porque de facto tinham muita qualidade. A malta está habituada assim na Europa, mas foi um qualificador surpreendente e exigente, mas, de todo, não estava nervoso. Já não me lembro da última vez que fiquei nervoso a jogar. Acho que com o passar dos anos, também com a experiência, eu acho que, pelo menos no meu caso, ficar nervoso desaparece.»

O eSports é um desporto que está num crescimento exponencial e prova disso são os 300 mil dólares que ‘JAfonso’ recebeu por ganhar a competição na Arábia Saudita, que é um dos principais responsáveis por essa aceleração do processo, algo que o português considera ser fundamental, comparando até com o mundo do futebol.

«O que eu posso dizer é que em termos da organização do torneio, as condições que nós os jogadores tínhamos foi incrível e, de facto, foi um dos torneios que, se calhar, foi o que eu me senti mais tranquilo, em relação a esses aspetos de viagens, estadias, etc. E depois a alimentação, tínhamos literalmente tudo. Eu acho que a Arábia Saudita tem um papel muito importante, porque como vemos no futebol está cada vez mais a investir nessa área e obviamente que quer investir também nos eSports. E eu acho que é algo bom, que eu enquanto atleta da modalidade, enquanto praticante e também para as equipas, as organizações que investem, eu acho que só têm a ganhar, porque de facto é um investimento muito grande e que ajuda o ecossistema a estar bem, ou seja, permite que as equipas continuem a investir e a ter objetivos no mundo dos eSports. Por isso eu acho que é algo muito importante o que a Arábia Saudita está a fazer com este mundo competitivo dos jogos online», disse.

O momento em que 'JAFONSO' e o seu treinador, Armando, se sagraram campeões do mundo (Foto: EWC)

Relativamente ao torneio, o atleta da Luna Galaxy, equipa de Diogo Jota, teve o jogo mais desafiante na meia-final, onde esteve a ganhar, mas acabou por sofrer uma reviravolta nos últimos minutos virtuais. No entanto, com a última jogada do tempo regulamentar, marcou possivelmente o golo do torneio e no prolongamento voltou a fazê-lo ao minuto 120, evitando as grandes penalidades e apurando-se para o jogo decisivo, mas o próprio revela que tudo aconteceu de forma natural.

«Como eu disse há pouco, eu não fico nervoso a jogar. Eu acho que estava muito tranquilo nesses dois momentos, ou seja, quando eu levo aquela reviravolta no fim da segunda parte, e lá está só tinha um ataque para empatar o jogo… e também concordo, que foi o melhor golo do torneio. Acho que o golo não foi o mais espetacular, mas pela frieza e pela jogada que foi, acho que foi… se calhar eu diria um dos golos mais importantes da minha carreira. De facto, foi mesmo importante para conseguir sair lá para chegar à final e vencer o torneio, mas sim, eu acho que a minha mentalidade estava muito boa para este torneio, diria até nesta época em geral também, eu acho que os resultados não são coincidência. Eu acho que é normal quanto mais bem preparado estiveres mentalmente, mais resultados vais conseguir ter, portanto sentia-me completamente tranquilo e muito confiante a jogar», garantiu, antes de falar sobre a final, onde goleou, por 6-2, o único adversário com quem tinha perdido na fase de grupos.

«Por acaso fiquei curioso, porque eu lembro-me no dia da final, no dia dos playoffs. Eu aqueci contra o Young, eu perdi 7-1, se não me engano, por aí, mas lá está, era aquecimento, eu também não joguei a sério, ou seja, eu acho que é muito diferente treinar ou aquecer e competir, e de facto eu sabia que já tinha perdido com ele na fase de grupos. Sabia que não ia ser um jogador fácil, mas numa final acho que é muito diferente jogar um jogo de uma fase de grupos regular do que uma final do mundial, portanto eu acho que em termos mentais estava mais bem preparado do que ele e acho que foi notório durante todo o jogo, que dominei do início ao fim e saí com o resultado um pouco expressivo. Portanto eu fui para o jogo, ou seja, eu já sabia que tinha vantagem, porque eu acho que na minha opinião eu era o favorito para a final, e eu acho que também joguei um pouco com isso. Eu também acho que ele não soube aguentar muito bem com a pressão, o que é normal, acontece, e obviamente aqueles minutos no fim, sei lá, os últimos cinco minutos virtuais, obviamente já sabia que a vitória não ia escapar, que o título não ia escapar, mas tentei-me manter o mais sério possível até ao fim. Obviamente que por dentro já sabia que ia ganhar e, portanto, foi uma sensação de descarregar um pouco de emoções, no final, e de toda a pressão à volta do jogo», explicou, acabando por mencionar o momento do apito final em que não conseguiu aguentar as lágrimas de alegria.