Tudo o que disse Roberto Martínez na convocatória de Portugal
O selecionador de Portugal, Roberto Martinez, junto à sua equipa técnica escutando o hino nacional. Foto: Maciej Rogowski/Imago
Foto: IMAGO

Tudo o que disse Roberto Martínez na convocatória de Portugal

SELEÇÃO30.08.202412:39

Selecionador nacional definiu o momento atual como «um novo ciclo», de preparação para o Mundial 2026; aponta ao título na Liga das Nações e explicou novidades e também ausências

Foi criticado antes do Euro por não convocar jogadores como Pedro Gonçalves e Trincão e agora, além de ambos, também promove a chamada surpreendente de Geovany Quenda. Não há fome que não dê em fartura?

É muito importante para nós estarmos atentos ao novo talento e selecionador e a equipa técnica não têm camisolas, não há rivalidades. O Geovany Quenda é um jogador que vive do desequilíbrio, de situações de um para um. Fez um Euro sub-17 muito bom, num grupo de jogadores com muito talento. Gostamos muito do que o Quenda fez durante a pré-época, adaptou-se a uma posição diferente, adaptou-se à responsabilidade de jogar na primeira equipa, no onze inicial do campeão nacional e para nós, é um jogador que, para este estágio, pode ser interessante ver como entra num patamar internacional.

Falou-se muito de Pedro Gonçalves e agora está na convocatória. O que é que o jogador fez de diferente para ser agora chamado? Este é um novo ciclo na Seleção Nacional?

Acho que sim, este é um novo ciclo mundial, em que estamos a preparar o Mundial 2026 e a Liga das Nações é um primeiro passo importante. Esta é uma lista nova, que abre a porta a jogadores que acompanhamos durante 16/17 meses.

O Pedro Gonçalves é uma situação que se fala muito lá fora, mas para nós foi sempre a mesma situação. Um jogador com muitos boas valências, com muita competência na sua posição. Um jogador que começou a época muito bem, que é importante numa equipa que ganha, e merece estar na Seleção. Já esteve na pré-convocatória. Teve azar de ter estado lesionado em março, mas não é uma situação que mudou muito. Nos primeiros cinco estágios era muito importante criar balneário, novas dinâmicas e os jogos eram muito importantes. Agora, é uma nova competição, olhamos em frente e o Pedro Gonçalves merece estar na convocatória.

Renato Veiga e Tiago Santos estão também em estreia. Podem sonhar com a presença no Mundial 2026?

O que é importante é o dia a dia, e o reconhecimento de chegarem a seleção é de que o Renato Veiga e o Tiago Santos tiveram desempenhos muito bons, trabalharam muito bem com os sub-21. O Tiago Santos é um jogador importante no seu clube e agora o critério para esta chamada é o de chamar jogadores que tenham tido uma preparação com os seus clubes numa pré-época, é importante para chegarem ao estágio e isso deixa de fora jogadores como o Rui Patrício, o João Cancelo, o Danilo, o Chico Conceição e também o Matheus Nunes. Há, portanto, uma oportunidade para jogadores que tenham ritmo e daí o Tiago Santos e o Renato Veiga. Trabalhámos na semana anterior à preparação para o Europeu com o selecionador sub-21 e nomes como o Tomás Araújo, o Eduardo Quaresma e o Renato estiveram lá.

Falou de nomes como Quenda, Renato Veiga e Tiago Santos, que agora convoca, mas também de Tomás Araújo e António Silva, que fez apenas um jogo esta temporada. Como justifica a sua chamada em detrimento das outras duas opções?

Acho que é importante avaliar que já perdemos o Danilo, perdemos definitivamente o Pepe, que foi uma referência e deixa um legado incrível. O António Silva está num patamar diferente do Tomás Araújo e do Eduardo Quaresma. Porque tem a experiência do Europeu, tem a experiência do Mundial, é um jogador jovem, não há muitos jogadores jovens que tenham a experiência que ele tem na sua idade.

Fez um mau jogo contra a Geórgia, mas fez um bom jogo contra a Irlanda e o talento é para sempre. Momentos bons e momentos maus existem, mas acredito muito no potencial do António Silva e será importante nos jogos que teremos na próxima semana.

Admitiu recentemente em entrevista que olha muito para a Liga 2 e vários dos jogadores que integram esta convocatória disputaram a Liga Revelação. Que importância desta competição para o desenvolvimento dos jogadores e para as suas escolhas?

Muito importante. Já falei muitas vezes que a formação em Portugal é a melhor na Europa e quando digo que é a melhor é porque nós temos o maior número de jogadores com minutos na Liga dos Campeões em clubes por relação com a população que tem. A estrutura de ligas nacionais a nível sub-15, sub-17, sub-19 e a Liga Revelação são muito importantes para dar opções e as condições para a formação são as melhores para os nossos jogadores.

Cristiano Ronaldo disse que queria chegar aos 1000 golos. Dá a entender que estará no Mundial 2026, pode garantir isso?

Não. Acho que todos os jogadores, depois dos 30 anos, precisam de ver a carreira passo a passo e a carreira de Cristiano Ronaldo é de um jogador único.
O nível de Ronaldo é único. Um jogador, aos 39 anos, continuar a jogar ao nível a que ele está a jogar, ter os dados físicos que ele tem, é incrível. Os objetivos individuais fazem parte da carreira de um jogador. Para nós, o objetivo é coletivo, temos o objetivo de tentar melhorar o que fizemos no Europeu. O Cristiano deu tudo, a equipa deu tudo pela camisola e, é isso, olhar em frente e para o presente. O Cristiano está num bom momento e é importante para a Seleção agora, mas ninguém pode falar do futuro.

Portugal vai reencontrar a Croácia, adversário que recentemente defrontou e com o qual perdeu. Podemos esperar melhorias em termos de exibição e resultado ou com este novo ciclo haverá uma atenuante em termos de expectativas?

Não há atenuantes no futebol de seleções. A Croácia é uma equipa com uma ideia de jogo muito clara, de uma qualidade técnica superlativa, perdeu um jogador como o Brozovic, mas a ideia do seu futebol é a mesma. O jogo que disputámos foi amigável e é muito diferente de jogar um jogo oficial numa competição como a Liga das Nações. É uma equipa que penso que quer sair do sentimento que tiveram pelo Europeu (ndr: eliminação na fase de grupos) e será um jogo muito bom para nós.

A Liga das Nações não terá o mesmo interesse que competições como o Europeu ou o Mundial. Como prepara esta competição relativamente ao Europeu, por exemplo? Que diferenças sente? É uma competição de preparação?

Não. Já falei da responsabilidade de Portugal, a história de Portugal nesta competição é importante, ganhou a primeira edição. É um formato diferente e gosto muto dele, com as duas primeiras classificadas a apurar-se para os quartos de final e depois a final four. Estamos a falar das melhores seleções da Europa a jogar entre si olhos nos olhos e é muito importante. Para nós, é uma competição muito importante e internamente no balneário é um momento chave.

Outra ausência é de Otávio, que não foi convocado. Qual o motivo?

Gostaria de explicar que a ausência do Otávio é uma decisão médica. Estava na lista, mas os departamentos médicos ontem tomaram essa decisão que o Al Nassr vai comunicar. Outro jogador (ndr: ausente) é o Raphael Guerreiro, tivemos uma conversa. Fez uma boa pré-época, mas precisa de trabalhar para recuperar bem e vai fazer isso nos próximos meses. São dois jogadores que não estão aptos.


Gostaria, para terminar, de dar as minhas condolências à família do Sven-Goran Eriksson, que foi uma figura marcante, um treinador inovador, acompanhei o seu percurso em Inglaterra quando era um jovem treinador e sempre tive uma alta estima pela metodologia inovadora que fez e é também uma referência no futebol português.