Seleção em todo o seu esplendor no inferno de ‘Little Istambul’: crónica do Turquia-Portugal
Portugal já está nos oitavos de final do Euro 2024 (foto Imago)

Turquia-Portugal, 0-3 Seleção em todo o seu esplendor no inferno de ‘Little Istambul’: crónica do Turquia-Portugal

SELEÇÃO22.06.202421:45

Muito mudou da Chéquia para a Turquia, sobretudo a aparição dos consagrados. Seleção abafou adversário no relvado e nas bancadas

Já está! Dois jogos, duas vitórias e eis Portugal a garantir em Dortmund a qualificação para os oitavos de final do Euro-2024. Melhor: a Seleção Nacional assegurou o primeiro lugar do grupo, sabendo, assim, que, a 1 de julho, em Frankfurt, defrontará um 3.º classificado.

Mas as boas notícias não se ficam por aqui. Depois de exibição tremida no jogo de estreia, eis a equipa de todos nós em todo o seu esplendor, a mostrar-se solta, eficaz, segura e com personalidade.

Frescura, intensidade e velocidade de Pepe tornam difícil acreditar que tem 41 anos (Imago)

O que mudou, então, da Chéquia para a Turquia? Muita coisa. Desta vez, houve Bernardo Silva, houve Bruno Fernandes e houve Rafael Leão. E também houve Palhinha – e que diferença faz ter Palhinha em campo (e, na segunda parte, ainda Rúben Neves, com excelente exibição). E, por fim, voltou a haver Pepe, com uma intensidade e um vigor que tornam impossível acreditar que tem mesmo 41 anos, e, claro, Cristiano Ronaldo!

O capitão pode ainda não ter marcado nesta competição, mas, pelos vistos, não está muito preocupado com isso. O passe que, quando isolado, fez para Bruno Fernandes assinar o 3-0, numa oferta rara do melhor marcador da história,  deu todo um novo significado ao modo como se deve olhar para esta estrela, quase divina aos olhos de milhões de fãs, e que, com o aproximar do fim, está cada vez mais humilde em campo, a jogar para os companheiros, apoiando-os, guiando-os.

É verdade que a Turquia acabou por não se apresentar como a equipa perigosa anunciada Sem Arda Guler de início e com muitas deficiências a defender, esteve longe da qualidade e talento que demonstrara no primeiro jogo. E nem o facto de Dortmund se ter transformado, ao longo de todo o dia, numa Little Istambul, com centenas de milhar de adeptos turcos nas ruas e mais de 40 mil no estádio, conseguiu elevar a nação de Ataturk ao nível evidenciado no primeiro jogo. Há muito talento, sim, mas também bastante ingenuidade e algumas fragilidades.

Soube Portugal aproveitar-se delas desde cedo. Dominante, a espalhar classe e, finalmente, com os consagrados a justificarem esse estatuto. Começou Ronaldo a dar o exemplo, com dois remates enquadrados nos primeiros dez minutos, porém sem sucesso. Até que, aos 21’, aí estava o desbloqueio: Rafael Leão foi por ali fora e, à entrada da área, encontrou Nuno Mendes que tentou servir CR7; a bola sofreu desvio em Kokçu, Bernardo Silva agradeceu e disparou a contar. À quarta fase final (de Euros e Mundiais), o criativo do Man. City estreou-se a marcar em grandes competições.

A partir daí, só deu Portugal. Pressão intensa, velocidade, os turcos mal respiravam. Ainda assim, não se adivinhava o que viria a suceder: o segundo autogolo deste Europeu a favor da Seleção Nacional e de novo apontado por um número 4 – depois de Hranac no primeiro duelo, agora foi Akaydin, num passe com força e disparatado na direção da baliza, quando tinha o guarda-redes ali mesmo à mão. Nota: o 4 da Geórgia é Kashia.

Bernardo Silva abriu o marcador (foto Imago)

Antes do intervalo, CR7 ainda tentaria de fora da área (37’) e Kokçu testou os reflexos de Diogo Jota (41’).

Tudo pronto para a segunda parte e logo se viu que não correria riscos Roberto Martínez. O selecionador foi conservador (como é habitual durante os jogos) e, ao intervalo, tirou os dois jogadores que já tinham cartão amarelo: Palhinha e Rafael Leão, lançando para a segunda parte Rúben Neves, em estreia neste Europeu, e Pedro Neto, que no primeiro jogo fizera a assistência para Francisco Conceição marcar o golo da vitória, já na compensação, estavam os dois há apenas dois minutos em campo.

Rúben Dias entrou muito bem na segunda parte (foto Imago)

Sem Palhinha, que fizera bela primeira parte, em campo, surgiu em maior evidência na segunda metade Vitinha no controlo de uma grande área de terreno, dividindo com Rúben Neves as despesas de ligação entre defesa e ataque.

E que bem o fez o médio do Al Hilal, como se viu no passe soberbo para Ronaldo ficar em ponto de rebuçado para marcar, mas optar por oferecer o golo a Bruno Fernandes (56’). Estava garantida a vitória!

A proporção de adeptos era de 4 para 1 para a Turquia... Após o 2-0, não pareceu (imago)

Os turcos há muito que tinham sido abafados por Portugal em campo, mas também nas bancadas, onde a proporção 4 para 1 deixou de se sentir a partir do 2-0. Os ensurdecedores adeptos da terra de Ataturk perderam o fôlego e aí foi a vez de a alma lusitana se fazer ouvir até final.

Segue-se, agora, a Geórgia, num jogo que já nada decidirá. Haja o que houver Portugal garantiu em Dortmund o primeiro lugar do grupo F, pelo que poderemos esperar muitas mudanças no onze diante dos georgianos, dando descanso aos mais sacrificados até agora e oportunidade a alguns menos utilizados.

Em 2000, em cenário igual, contra a Alemanha (3-0) na 3.ª jornada da fase de grupos do Euro, um nome ganhou lugar entre as estrelas: Sérgio Conceição, com hat-trick. Será a vez do filho, Francisco, herói da partida inaugural, fazer algo semelhante na de encerramento da primeira fase?