Se é para acontecer, pois que seja agora: a crónica da derrota de Portugal
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Se é para acontecer, pois que seja agora: a crónica da derrota de Portugal

SELEÇÃO26.03.202422:56

Devagar... não se vai longe! Tudo mau na primeira derrota de Martínez: faltou ritmo, intensidade, talento e... uma equipa. De Guimarães a Liubliana, foi do dia para a noite

Chumbo total da Seleção Nacional no último teste antes da lista final de convocados para o Europeu. Foi praticamente tudo mau. Quer defensivamente, quer a nível atacante, quer ainda na ausência total de ritmo, de intensidade e de talento — em suma, o oposto do que se vira até agora na era Roberto Martínez e que, depois de notável série de 11 vitórias seguidas, só podia redundar em derrota; e logo diante de uma Eslovénia que, tendo alguns valores individuais (destacando-se Sesko e Oblak), estaria longe de ser adversário à altura, até porque vinha de empate... em Malta (2-2), precisamente no dia em que Portugal deslumbrara diante da Suécia, vencendo (e convencendo) por 5-2. Mas, a verdade é que... era outra equipa a de Portugal naquela noite excecional de Guimarães.

Estavam, então, em campo individualidades como Bernardo Silva, Bruno Fernandes ou Rafael Leão e em Liubliana não estiveram — foi, aliás, a primeira vez que o médio do Manchester United, grande comandante da qualificação, não esteve nas contas do selecionador desde a sua chegada a Portugal no início de 2023.

Ao invés, foi notório o ritmo competitivo longe do ideal das unidades de meio-campo que atuam na Arábia Saudita. E não há volta a dar: pode ser uma liga com alguns jogadores de topo, mas não é uma liga de topo, e isso nota-se nesta fase da época, como se notou em Rúben Neves e Otávio, muitos pontos abaixo do habitual noutros tempos — Ronaldo é e será sempre um caso à parte, mas até nele, apesar da frescura e da atitude, há sinais de quebra e de intermitência...

Depois, o regresso ao 3x5x2 não foi feliz. As dificuldades de entendimento defensivo foram muitas vezes evidentes em Liubliana, sobretudo sempre que Sesko, e por vezes Sporar e também Janza, desatavam a correr por ali fora, deixando os portugueses às aranhas.

PRIMEIRO REMATE SÓ AOS 60’

Entretanto, também na ligação ao ataque, tudo falhava. Lentidão de processos e muitos passes errados tornavam muito complicada a missão de chegar ao último terço. Ao ponto de o primeiro remate de Portugal ter surgido, somente, aos 60 minutos! Por Cristiano Ronaldo (quem mais?), mas à malha lateral. Para trás, e na verdade também depois, ficava um jogo entendiante por parte da equipa das Quinas.

S.O.S. ESLOVÉNIA!

E não foi por falta de aviso na primeira parte que Portugal foi surpreendido pela Eslovénia na segunda. Já se sabia que a tripla SOS (Sesko, Oblak e Sporar) se apresentava como um perigo para a navegação lusitana, mas o que se viu... foi demais. Primeiro, Sporar a ameaçar aos 20’, com Cancelo, no limite, a roubar-lhe o golo; logo a seguir, aos 26’, e após 12 passes consecutivos perante a inação portuguesa, Janza atrapalhou-se no instante final e perdeu também ele a hipótese de inaugurar o marcador. Os alertas estavam lançados, era preciso mudar algo após o intervalo.

FRANCISCO AGITOU, MAS... POUCO

Pareceu boa ideia lançar em estreia Francisco Conceição para o lugar do apagado Otávio — e também António Silva (por Pepe) para mudar algo na defesa, o que, neste caso em particular, não aconteceu. Já o extremo do FC Porto, de 21 anos, com a camisola 21 e quase 21 épocas após o último jogo do pai com a camisola da Seleção, deu os seus primeiros passos nos AA e entrou com vontade e intensidade. Foi, porém, sol de pouca dura e também o jovem acabou afetado pelo que já vinha a acontecer. Depois, ainda no plano das substituições, não se entende porque demorou tanto Martínez a mudar algo perante a evidência — João Neves e Jota Silva só entraram aos 87 minutos!

Os golos da Eslovénia já tinham sido um castigo, ou melhor uma lição difícil de alterar e esquecer. Mas lá diz a sabedoria futebolística que é para isto que estes jogos servem, que se é para sofrer e perder, pois que seja agora e não na fase final do Euro-2024. Fica a lição. Que fiquem ilações, também, para a hora de revelar os eleitos.

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