A BOLA NO EURO 2024 Portugal-França: a lenda persistirá
Mbappé louvou o ídolo Cristiano Ronaldo no lançamento do duelo dos quartos de final. Português não quer despedir-se já dos Europeus. Aí está o primeiro teste à Seleção de Roberto Martínez
HAMBURGO - Aconteça o que acontecer, a lenda de Cristiano Ronaldo persistirá. Para muitos o Portugal-França, dos quartos de final do Campeonato da Europa, pode marcar uma passagem de testemunho no futebol continental, de Cristiano Ronaldo para Kylian Mbappé, mas as próprias palavras da estrela gaulesa, no lançamento do jogo de hoje, deixam claro que o legado do português já existe, e por muito tempo prolongar-se-á.
O duelo de Hamburgo também remete incontornavelmente para a final do Europeu de 2016, mas a memória do golo de Eder no Stade de France acabou por ser menos recuperada do que seria de prever, no lançamento deste reencontro, passados oito anos. O mérito é de Kylian Mbappé. Assim que o capitão da seleção francesa entrou na sala de imprensa do Volksparkstadion – minutos antes do selecionador, Didier Deschamps - ficou evidente que o foco outro. Desde logo pela própria relevância do avançado gaulês no cartaz do jogo, e depois pela reverência que sempre apresentou relativamente a Cristiano Ronaldo, com quem partilhará até a rotina da escolha de campo, antes do apito inicial.
«Toda a gente sabe a admiração que sempre tive pelo Cristiano. Já o conheci, falei várias vezes com ele. Estamos sempre em contacto. Dá-me muitos conselhos, segue a minha carreira. É uma honra. Será sempre uma lenda», disse logo Mbappé, que assim deixou claro que a admiração é correspondida. «É preciso saber apreciar aquilo que ele foi, aquilo que ele é. Admiro a grandeza do jogador. É único. Marcou a história do futebol, inspirou gerações de jogadores. O currículo fala por si», acrescentou o francês, que ainda enalteceu a capacidade do português para «reinventar-se vezes sem conta».
Mbappé até fez questão de convidar para o jogo Jean-Charles de Bono, o antigo jogador do Marselha que, em dezembro de 2009, permitiu-lhe conhecer Cristiano Ronaldo, na zona mista de um jogo do Real Madrid no Vélodrome. O craque francês não esquece os posters de Ronaldo que tinha nas paredes do quarto, quando era criança. Quase todos de CR7 no emblema merengue, que Mbappé vai representar após este Campeonato da Europa, que o português já assumiu ser o último. Um contexto que alimentou a ideia de uma passagem de testemunho. «Ele é único. Só há um, e só haverá um. Eu tenho a sorte de ter a oportunidade de jogar no Real, e espero escrever uma grande história, mas não vou escrever mais um capítulo da história dele. Só tenho elogios para um jogador deste calibre», reforçou Kylian, entre o respeito pelo português e a vontade de chegar às meias-finais.
Cristiano Ronaldo, ainda à procura do primeiro golo no Europeu, tentará prolongar o registo no torneio, sabendo que nenhum desfecho apagará a lenda. Mbappé é a prova disso.
Momento de afirmação
O duelo com a França é também uma oportunidade de afirmação da Seleção Nacional. Apesar do triunfo na final de 2016, o histórico com a formação gaulesa é claramente negativo. Em 28 duelos, Portugal só ganhou seis. Nos últimos 14 encontros, apenas um triunfo, precisamente graças ao golo de Eder no Stade de France, naquele que foi também o único desfecho positivo da equipa das quinas em fases finais de Campeonatos da Europa, frente aos bleus.
O dia da conquista mais importante da história do futebol português marca também uma referência para análise. Desde então, em dezena de jogos contra as principais seleções do futebol mundial, Portugal só conseguiu duas vitórias: frente a Itália (1-0, em 2018) e Países Baixos (1-0, em 2019), para a Liga das Nações.
A equipa das quinas não conseguiu bater esta França em três ocasiões, nem tão pouco a Espanha ou a Alemanha, por exemplo, equipas ainda em competição neste Campeonato da Europa.
No Mundial do Catar, ainda com Fernando Santos como selecionador, Portugal acabou eliminado pela modesta seleção de Marrocos, precisamente nos quartos de final. A qualificação para este Europeu, ainda que indiscutivelmente meritória, também não colocou verdadeiramente à prova as ideias de Roberto Martínez. O nível de exigência só subiu ligeiramente nos quatro jogos anteriores desta fase final, mas agora surge um adversário da mesma craveira: eliminar a França será uma declaração de força.