E foi na hora da despedida que Portugal teve mais encanto (crónica)
Lágrimas de Pepe e consolo de Ronaldo no adeus à Alemanha (Imago)

Portugal-França, 0-0 (3-5 g.p.) E foi na hora da despedida que Portugal teve mais encanto (crónica)

SELEÇÃO05.07.202423:48

Exibição madura, sólida e talentosa foi insuficiente para seguir em prova; desta vez, não houve 'São' Diogo Costa no desempate por penáltis

HAMBURGO — Ponto final no sonho português de repetir 2016. Sim, teremos sempre Paris, mas... não teremos Berlim. E pensar que foi precisamente na hora da despedida do Euro 2024 que a Seleção Nacional teve, enfim, mais encanto.

A melhor exibição de Portugal, aquela em que a equipa foi mais madura, mais sólida, mais unida e, até, mais talentosa, mostrou-se, contudo, insuficiente para bater, uma vez mais, a sempre poderosa seleção de França que, neste desafio de Hamburgo, teve, mais do que nunca, um enorme respeito pelo também poderoso adversário lusitano.

Não foi um jogo de encher completamente as medidas, mas foi uma batalha digna dos protagonistas em duelo, desde logo Cristiano Ronaldo — embora uma sombra de outros tempos e que, ontem, se despediu dos Campeonatos da Europa em que bateu todos os recordes — e Mbappé, também longe do seu melhor e que anseia ser um nobre sucessor do seu ídolo.

O sempre emocionante desempate por penáltis, que nos oitavos de final com a Eslovénia elevou Diogo Costa ao Olimpo e salvou CR7 e Pepe de um adeus inglório aos Europeus, no caso do primeiro, e à Seleção no caso do segundo, foi, desta vez, momento de frustração. O brilhante guarda-redes português não conseguiu travar uma única penalidade convertida pelos franceses, ao passo que, do lado português, seria João Félix a protagonizar o instante mais triste deste torneio para as cores lusitanas, atirando ao poste, na que seria o único disparo da marca dos 11 metros falhado por Portugal. E pensar que, no último lance do prolongamento, o extremo teve na cabeça o que seria o golo da vitória, mas acabou por atirar à malha lateral da baliza — será um Euro-2024 para esquecer no caso de Félix, que pareceu sempre triste, meio deslocado até...

Para trás ficava, como mencionado no arranque desta crónica, a mais bem conseguida prestação de Portugal na Alemanha, mesmo que tenha sido, muito provavelmente, uma das mais fracas de sempre de CR7.

E são vários os motivos que levaram a Seleção a surgir com novo brilho, mandona, quase sempre por cima do jogo, paciente quando teve de ser, acutilante quando o jogo o exigia, excitante a espaços. E entre os tais motivos encontramos um Bernardo Silva finalmente solto e livre pelo campo, um Palhinha imponente e arrasador, um Vitinha de talento ímpar e sempre em níveis incríveis de intensidade, um Pepe que, aos 41 anos, continua um senhor nos desarmes e recuperações, um Francisco Conceição que faz vibrar os corações dos companheiros e dos adeptos (foi o melhor do prolongamento) e um Nuno Mendes que encanta — e que não tremeu na hora de converter a sua grande penalidade, sabendo que falhá-la seria o fim.

Há, porém, algo que continua a faltar a esta equipa e que é difícil de entender: para quê tantos cruzamentos para a área, quando a presença de unidades na zona é sempre tão escassa, ou seja, é sempre de menos para as encomendas, com tantas tentativas de assistência quase todas para terra de ninguém.

Portugal perdeu, assim, uma oportunidade única de voltar a bater a França, num jogo em que teve tudo para consegui-lo. Tudo menos aquele instinto letal de concretizar pelo menos uma das ocasiões criadas, em maior número do que os franceses.

Apagam-se as luzes em Hamburgo, é hora de voltar a casa. Com o único consolo, apesar da enorme tristeza e desilusão da despedida, de saber que... teremos sempre Paris.