A viagem perfeita no carrossel mágico: a crónica do Portugal-Islândia

EURO-2024 A viagem perfeita no carrossel mágico: a crónica do Portugal-Islândia

SELEÇÃO19.11.202322:44

Grupo fraco? Não há como diminuir a qualidade do percurso da Seleção e do selecionador; Continua a ser legítimo sonharmos...

Melhor era impossível. Dez jogos e dez vitórias naquela que foi a melhor qualificação de sempre para o Campeonato da Europa. Mas como nós, portugueses, gostamos de diminuir qualidades e feitos nacionais, sabemos que muitos dirão que alcançámos as dez vitórias num grupo demasiado fácil. Daí que tivéssemos chegado ao impressionante resultado global de trinta e seis golos marcados e apenas dois sofridos. Como se não tivesse o futebol português uma longa história de desilusões em jogos com adversários considerados mais fracos. Na verdade, não há como diminuir a qualidade do percurso limpo da Seleção Nacional e do seu treinador, Roberto Martínez. Portugal fez, mesmo, uma viagem perfeita no seu carrossel mágico, mesmo admitindo que nem sempre foi uma equipa avassaladora, uma equipa irresistível.

E este domingo, por exemplo, para fecho de jornada, aconteceu, apenas, uma exibição sem sobressaltos, mas longe de ser empolgante e de maravilhar quem viu o jogo.

A questão essencial do golo

Nunca esteve em causa a superioridade portuguesa. Foi óbvia e consistente durante todo o jogo. Porém, como a Seleção não aproveitou, desde o início, a hesitação e o temor islandês, como o golo tardou e as oportunidades se ficaram pelo quase, o adversário foi ganhando maior confiança em si próprio e impondo, na zona da sua grande área, duas linhas defensivas muito chegadas, o que criou maiores problemas à circulação de bola dos portugueses, que tiveram dificuldade em encontrar espaços de finalização.

Foi por isso que Portugal apenas conseguiu chegar ao primeiro golo num lance de inspiração de Bruno Fernandes, que marcou num remate rasteiro e cruzado ainda em zona distante da baliza.

Como já se tinha notado, a equipa não trazia muita fome de golo para o jogo e, depois de chegar à vantagem, mais se notou. Portugal manteve um ritmo de passeio, sem grande intensidade, sem grande frenesim, procurando demasaidas vezes o cruzamento aéreo para descobrir Cristiano Ronaldo e oferecer-lhe o gosto do golo.

Onde está o Cristiano?

Foi esta a pergunta em que durante toda a segunda parte a equipa nacional não conseguiu responder. Porque a Islândia nunca perdeu sentido de organização e porque Cristiano, de tão ansioso, passou a andar por terrenos mais longe da baliza. É verdade que não havia muito para decidir. Nem o jogo, nem a qualificação, mas não deixa de ser algo preocupante essa obsessão global de pôr Cristiano a marcar golos. Há dias em que sim, Cristiano continua a ser um goleador compulsivo; há dias em que não, isso não acontece, é natural, porque é humano, e quando tal sucede a equipa torna-se redundante e previsível. E isso não é bom, nem para a equipa, nem para Cristiano.

Não se pode dizer que essa vontade de agradar e de ajudar o inexcedível capitão da seleção nacional a bater todos os recordes de golo, incluindo os seus próprios recordes, que seja necessariamente mau. Mas é importante acreditar que nos jogos mais duros, mais difíceis, mais exigentes Cristiano continue a ser uma solução e nunca um problema. Nem para os seus companheiros, nem para o selecionador, que não pode sentir a necessidade de o ter em campo todo o tempo de todos os jogos.

Mas este é o tempo de elogiar e de admirar a fantástica prestação portuguesa na fase de qualificação. Segue-se um longo período até ao Europeu da Alemanha e será bom que a seleção experimente situações mais complexas e adversários do top mundial.

Não desconfiamos da qualidade desta seleção e destes jogadores, mas importa ganhar rotinas em jogos em que também é preciso saber sofrer atrás da bola e do adversário. Jogos que não sejam um somatório de exercícios de lances de ataque e de procura de soluções para o golo. Entretanto, até aos jogos da fase final, é legítimo que Portugal e os portugueses continuem a sonhar.