A Escócia atrasou-se na véspera, mas no dia foi Portugal a tardar (crónica)
João Félix e Cristiano Ronaldo agitaram, e de que maneira, o jogo no quarto de hora final rumo à vitória (Imago)

Portugal-Escócia, 2-1 A Escócia atrasou-se na véspera, mas no dia foi Portugal a tardar (crónica)

SELEÇÃO08.09.202422:23

Facto 1: sem Ronaldo, 0-1; com CR7, 2-1. Facto 2: foi o capitão a resolver à beira do fim. Facto 3: escoceses quiseram mitigar a demora do dia anterior e, aos 7', já venciam na Luz. Facto 4: Bruno fez 30 anos e marcou

Indignou-se, de véspera, o treinador escocês, com a viagem que teve de fazer de Beja até Lisboa, onde chegou com duas horas de atraso, já a noite há muito caíra na capital. Quiseram os jogadores compensá-lo de tamanha chatice e decidiram que, este domingo, não haveria cá atrasos.

E assim foi: contra todas as expectativas, a Escócia chocava a Luz logo aos 7 minutos, por conta do golo de cabeça da estrela da companhia, Scott McTominay, companheiro de Bruno Fernandes no Man. United. Ficou evidente naquele instante que faltaram centímetros (estatura) à defesa de Portugal relativamente ao marcador do golo.

Portugal reagia, de imediato, com sucessivas vagas de ataque, muito por conta do pensamento de Bruno Fernandes e da velocidade e incursões na esquerda de Rafael Leão. Porém, a pressa lusitana insistia em ser inimiga da perfeição e, uma atrás da outra, as boas intenções iam esbarrando no muro escocês.

Com Diogo Jota no lugar de Cristiano Ronaldo — que voltou a iniciar uma partida oficial da Seleção Nacional no banco de suplentes, algo que não acontecia desde os quartos de final do Mundial-2022 — Portugal ia acentuando cada vez mais a pressão e quase igualava, primeiro aos 20’, quando Leão conseguiu finalmente puxar a bola para o pé direto e disparou, obrigando Gunn a grande defesa; e, depois, aos 23’, quando Diogo Jota atirou de primeira, ligeiramente por cima, após passe perfeito do extremo do Milan — que, por esta altura, se ia destacando como o melhor de Portugal sempre que ligava o turbo.

A Escócia ia criando perigo apenas de bola parada, lances sempre protagonizados pelo capitão e lateral do Liverpool, Andy Robertson, e que tinham sempre o condão de despertar os cerca de três mil adeptos escoceses, cujas vozes, nesses momentos, se impunham às dos portugueses. Fazendo uso da força e, por vezes, de encostos excessivos nos adversários, os visitantes começavam a mexer com o sistema nervoso dos internacionais lusos.

Era preciso esfriar a cabeça, encontrar novos caminhos e táticas para derrubar a densa muralha britânica — mostrando-se impossível penetrá-la, Portugal mudou a tática de incursão com a aproximação dos 45’, começando a tentar de longe, destacando-se nesse plano Nuno Mendes (36’), ligeiramente ao lado, Bruno Fernandes (43’), contra um adversário, e, claro, Rafael Leão (44’), a rasar o poste.

A segunda parte pedia que Portugal conquistasse mais conforto no jogo, algo que, verdadeiramente, nunca teve na primeira, mesmo que tenha somado 15 remates (!) neste período, contra somente um da Escócia, mas que deu golo.

Bruno Fernandes fez o 1-1 em dia de 30.º aniversário e do 600.º jogo da carreira (Imago)

O disparo de longe era a solução. Não havia outra. E foi já com Cristiano Ronaldo e Rúben Neves em campo que, aos 53’, o grande especialista da arte de longa distância decidiu oferecer uma obra ao público, ele que até celebrava o 30.º aniversário e chegava a número redondo de jogos (600) no futebol: Bruno Fernandes, pois claro! A passe (lá está) de Rafael Leão. Estava feito o 1-1, ao... 18.º disparo lusitano!

A intensidade de Portugal, porém, ao invés de aumentar por conta do golo, acabou por, inexplicavelmente, baixar. Martínez tinha de mexer na equipa, ela gritava por oxigénio e dinâmica; e maior controlo de um meio-campo que tremia por todos os lados. Algo que mudou com as chegadas de João Neves a segurar no miolo e João Félix a desequilibrar na esquerda.

A Seleção Nacional, que parecia apática desde o golo, reentrava na partida no quarto de hora final, também com a ajuda do vento forte de apoio que surgiu de súbito vindo das bancadas. As quinas acordavam! O povo acreditava!

E foi um sufoco. Aos 77’, Félix, servido em bandeja de ouro por Ronaldo, quase fazia o 2-1, mas viu Gunn fazer grande defesa! On fire, Portugal tentava de todas as maneiras e feitios: Félix surgia de novo aos 81’, agora de cabeça para nova enorme intervenção do guarda-redes; depois, foi CR7, aos 82’ e 83’, a acertar por duas vezes no poste!

E Ronaldo lá resolveu, marcando o 901.º golo da carreira (Imago)

E aqui surgia a questão: se a Escócia se atrasara na véspera, no dia foi a Seleção Nacional a aparentar ter chegado demasiado tarde ao jogo. Até que, o suspeito do costume, Cristiano Ronaldo, gritou «basta!» e à boca da baliza encostou para o seu 901.º golo da carreira, o da vitória de Portugal, com o capitão a mostrar que ainda é o grande decisor (sem ele em campo, 0-1 ao intervalo; com ele, 2-1 final). Factos.