A defesa de António Silva, o segredo para a longevidade e o 'filho' João Neves: tudo o que disse Pepe

SELEÇÃO28.06.202417:43

Confira as declarações completas do mais velho jogador do Euro na conferência de imprensa desta sexta-feira em Marienfeld

MARIENFELD - Pepe começou por deixar palavras de conforto à família de Manuel Fernandes, grande capitão do Sporting que nos deixou esta quinta-feira. Depois, a hora foi de limpar as feridas da derrota de Portugal com a Geórgia, de defender António Silva e de garantir foco total na Eslovénia.

Pelo meio e sem revelar como será o seu futuro após o Euro 2024, o veterano central de 41 anos contou alguns dos segredos para a longevidade, elogiou a disponibilidade de Cristiano Ronaldo e prometeu aos adeptos que a Seleção tudo fará para lhes dar uma alegria.

- Uma palavra antes de mais à familia do Manuel Fernandes, em particular ao Tiago, o filho dele que conheci muito bem. Os meus sentimentos para todos…

- Pepe é um dos mais experientes desta Seleção e joga na posição de António Silva. O que lhe disse após a derrota com a Geórgia?

- Falei com ele, sim. Como já dissemos em várias ocasiões, nós somos uma família. E, numa família, temos de cuidar dos nossos. Mas não vou dizer qual o conteúdo da conversa.

Pepe e António Silva (imago)

- Em dois dos três jogos já realizados, Martínez apostou nos três centrais e a equipa nunca pareceu muito à vontade e surgiu lenta. Acha que a Seleção fica mais afoita e a render mais no sistema de dois centrais?

- Antes de mais, há muitas dúvidas nas pessoas sobre os três cenrais, sobre a linha de cinco ou de quatro. Mas o mais importante quando atacamos equipas fechadas é a flexibilidade. E trabalhamos muito isso. É dificil atacar equipas com onze atrás da bola. Cabe-nos acreditar no processo e trabalhar para encontrar espaços e explorá-los.

- Surgiu em grande nível no jogo com a Turquia. Aos 41 anos, qual o segredo para a longevidade? E será esta a sua última competição?

- O segredo é a paixão que tenho pelo futebol. Já disse várias vezes que é um privilégio levantar-me e fazer o que mais gosto e a concentração competitiva e o amor que ponho em cada ação, tanto no treino como no jogo. À segunda pergunta… ainda não pensei sobre isso.

Pepe já é conhecido como o dono das máquinas, em particular a de gelo (Imago)

- A sua forma aos 41 anos é incrível. Como é a sua rotina diária? Faz algo diferente de um jovem de 20 anos?

- Obviamente que sim [risos]. Estou sempre perto da máquina do gelo. Os fisioterapeutas dizem que eu sou o dono das máquinas [risos]. É para recuperar mais rápido. Já não recupero como um jovem de 20, mas faço o melhor para estar sempre disponível para o meu treinador.

- O que falta pensar para decidir o que fará no futuro imediato?

- Falta pensar… que tenho um treino daqui a pouco e que temos um jogo imporante para nós e para o nosso País.

- A esperança dos adeptos esmoreceu um pouco com a derrota com a Geórgia.

- «Não concordo. Mesmo com a derrota, sentimos o carinho dos nossos adeptos e tenho a certeza de que estarão connosco contra a Eslovénia. Resta-nos dar o melhor a trabalhar. Sabíamos que isto não ia ser fácil, por mais que muitos de vós dissessem que estava ganho. Primeiro há sempre que jogar 90 ou 120 minutos. Nada está ganho. Estar bem preparados é o mais importante. Tal como dar o melhor pelo nosso País, que é o que vamos fazer no próximo jogo.

Pepe, 41 anos, e Cristiano Ronaldo, 39, dois incríveis exemplos de longevidade (Imago)

- Eslovénia, Croácia e Geórgia – três derrotas e Pepe não estava em campo quando Portugal sofreu os golos. Vê mais algum traço comum nestas três derrotas, algo mental, valor dos adversários?

- Quanto começamos, há três resultados possíveis. Essas derrotas… perdemos quando deveríamos perder. O grande desafio é tirar ilações desses momentos e melhorar sempre para continuar com o ciclo vitorioso do apuramento. Há que tirar ilações dessas derrotaa, do que não fizemos como jogadores, ver se cumprimos à risca o que o mister pediu e tentar não fazer o mesmo no jogo seguinte. O grande desafio é melhorar sempre para continuar com o ciclo vitorioso do apuramento.

- O próximo jogo de Portugal é a 1 de julho, dia em que Pepe estará sem clube pela primeira vez em muitos anos. Navega nesse pensamento ou, aos 41, já se abstém de ter de pensar no futuro?

- Eu não navego se não vou ficar perdido (risos). Não penso muito nisso. Tenho muito com que me preocupar hoje. Como vou defender os companheiros nos treinos, como me preparar para recuperar para o treino de amanhã, etc.

- Os candidatos não têm apresentado a qualidade esperada, tirando, talvez, a Espanha. Além de um bom resultado nos oitavos, ter nota artística também é importante?

- Não sei se já viram as estatísticas da fase de grupos… Portugal é das melhores seleções ao dia de hoje. Essa nota artística… os adeptos sabem. Desde o primeiro jogo na Alemanha até à derrota com a Geórgia, tivemos os adeptos sempre com a gente. Estivemos a perder com a Chéquia, sem merecer, e os adeptos continuaram a apoiar. Essa confiança e energia ajudou-nos a dar a volta ao resultado. Contamos com os nossos adeptos e daremos o melhor para eliminar a Eslovénia. Será um jogo muito difícil para todos nós. Não podemos cometer os erros do jogo particular com eles.

- Portugal caiu para o lado dos tubarões na caminhada até à final. Em 2016, era o oposto, Portugal no lado mais… amigável. Se pudesse escolher, por qual optaria?

- Se pudesse escolher… queria ser campeão outra vez! Sabemos que será uma caminhada difícil, dura, com quatro jogos complicados, mas temos de estar todos juntos.

Cristiano Ronaldo e Pepe, uma longa amizade (Imago)

- Se fosse treinador: o que tem Portugal de fazer diferente do jogo particular com a Eslovénia (0-2) em março?

- Simples: concentração competitiva.

- O selecionador falou que, neste Euro, veríamos uma Seleção em crescendo. Agora já não há margem de erro. É um Portugal já no máximo o que veremos frente à Eslovénia?

- Pergunta difícil… Os 11 que começarem mais os cinco que entrarem vão dar o seu melhor para que Portugal possa passar aos quartos de final.

- Estreou-se em 2008 no Euro da Suíça e Áustria. Como se sente a jogar ainda a este nível, tantos anos depois?

- Sinto-me bem, privilegiado por estar na minha Seleção, a defender as minhas cores e fazer parte de um grande grupo.

- Ronaldo é muito competitivo e ainda não marcou… Isso tem algum impacto no grupo ou o ambiente continua saudável?

- O Cristiano vive de golos, mas… já viram a disponibildade dele em campo para ajudar a Seleção? É incrível! Com 39 anos, é o nosso jogador com mais minutos neste Euro. Está bem e vai estar muito bem para a fase final do Europeu. E sei que ainda vai dar-nos muitas alegrias.

No treino, com o 'quase filho' João Neves (Imago)

- Otávio, seu companheiro no FC Porto disse que vê Pepe como um pai? Na Seleção, já alguém lhe chama pai, como João Neves, por exemplo?

- Não, ainda não me chamou pai, mas quase [risos]. João Neves é muito brincalhão, muito mesmo. Como mais velho, eu tento ajudar todos, é esse o meu perfil e sei que, tanto ele como outros, terão um futuro brilhante.