Vuelta em Portugal: o povo saiu à rua para mostrar e beber cultura desportiva
João Almeida foi femóneno de popularidade nos três dias em que a Vuelta esteve em Portugal

Vuelta em Portugal: o povo saiu à rua para mostrar e beber cultura desportiva

OPINIÃO20.08.202400:02

Venham mais Vueltas ou organizemos nós eventos mundiais desta dimensão!

A partida da Volta a Espanha em Portugal foi um êxito. Gigantesco fenómeno de popularidade, de que só se encontra precedentes, em organização de eventos desportivos mundiais no nosso país, no Europeu de futebol de 2004, os dias portugueses da Vuelta foram promotores não apenas do ciclismo, mas do desporto em geral. Vários fatores contribuíram para esse sucesso.

O primeiro, a quase coincidência feliz com as recentes conquistas do ciclismo de pista nos Jogos Olímpicos, não apenas pelas medalhas de ouro e a prata que os nossos dois corredores Iúri Leitão e Rui Oliveira conquistaram em Paris, mas pela mistura explosiva de talento e de personalidades tão especiais de ambos, que fascinaram não somente pelo arrebatador desempenho com que triunfaram na competição desportiva mundial mais glorificadora, e também pela alegria, emoção, paixão e humildade com que celebraram com os portugueses a sua glória, fazendo-(n)os sentir parte dessa glória.

O efeito de Iúri-Oliveira e do seu quase desconhecido ciclismo de pista foi levado para a estrada na passagem na Vuelta por Portugal, onde a nossa tradição na modalidade é enorme e há um ídolo em ascensão nos últimos anos, que na ainda curta carreira já roçou o topo, e que tem oportunidade única (pelo menos, privilegiada) de escrever o nome a ouro na história do desporto português, ao lado daqueles dois compatriotas: João Almeida. Se o corredor da UAE Emirates vencer esta Vuelta tornar-se o primeiro do nosso país a fazê-lo numa das três grandes Voltas.

Por isso, a escolha da organização da prova espanhola, de fazer passar o percurso (2.ª etapa) pela região Oeste, aficionada do ciclismo, por Torres Vedras, terra do maior ciclista português, Joaquim Agostinho, e ainda mais meticulosamente, pelas Caldas da Rainha, berço de João Almeida, não terá sido causal, pelo contrário, e resultou em esmagadora afluência de espectadores, entusiásticos, que impressionou os responsáveis da Vuelta. Naquelas cidades, em muitas localidades e até na insuspeita subida de 4.ª categoria do Alto da Batalha, nessa 2.ª etapa, o cenário à beira das estradas parecia os do Tour. Nos últimos anos, em Portugal, só a célebre passagem da Volta a Portugal por Mondim de Basto, antes da subida à Sra. da Graça é-lhe comparável.

Mas não só. A ação de cativação começou em Lisboa, ainda antes da corrida começar, no sábado, na apresentação das equipas, reforçada no dia seguinte, na partida do contrarrelógio, em ambas aproveitando a presença de inúmeros turistas estrangeiros na capital, muitos deles conhecedores e habituados a acolher e a assistir a grandes eventos de ciclismo nos seus países. Esta afinidade e conhecimento desportivos são evidentes no comportamento desse público, na maneira como vive o evento e (até) interage com os protagonistas (os corredores), alguns, os seus ídolos. Nesta partilha de experiências, ao observar e absorver, para nós portugueses há assimilação de cultura desportiva. Venham mais Vueltas. Ou organizemos, nós, eventos mundiais desta dimensão!