André Villas-Boas e Vítor Bruno, um divórcio anunciado em janeiro, depois de um mês de dezembro que aparente retoma da equipa
André Villas-Boas e Vítor Bruno, um divórcio anunciado em janeiro, depois de um mês de dezembro que aparente retoma da equipa

Villas-Boas segurou Vítor Bruno: esperar para ver... falhar

OPINIÃO07:30

Apenas dois meses separam o momento em que o presidente segurou o treinador daquele em que o despediu. O problema é que o cenário piorou entretanto. A culpa não pode ser só de um deles...

Não há ano zero que permita ao FC Porto repetir um ciclo de três derrotas consecutivas, nem somar maus resultados e recordes negativos fora de casa ou contra os rivais. Sobretudo, não há ano zero que faça sobrepor auditorias e portais da transparência à falta de atitude e identidade em campo. André Villas-Boas sabia disto - e por isso foi tão categórico a não baixar expectativas e a manter um discurso de exigência (com os riscos que isso tinha e que agora se confirmaram).

Foi precisamente num destes momentos que surgiu a primeira desconfiança no treinador escolhido pelo novo presidente (com as limitações que se conhecem, porque com 8 mil euros na conta não há grande criatividade na decisão). Quando o FC Porto se deslocou à Noruega para defrontar o Bodo/Glimt, no primeiro jogo da Uefa Europa League, não foram só os discursos de AVB e Vítor Bruno que destoaram um do outro: os azuis e brancos pareceram surpreendidos com as dificuldades criadas pela quase desconhecida mas muito competente equipa norueguesa e o que se viu foi tudo menos um candidato a vencer a prova. Alguma coisa tinha falhado...

Estávamos ainda no final de setembro, mas foi o início de novembro que agravou essa sensação. Três derrotas consecutivas (frente a Lazio, Benfica - uma humilhação na Luz! - e Moreirense) deixaram os adeptos em fúria. A tensão ainda decorrente das eleições serviu de atenuante para muitos, mas o universo portista já estava mais do que em alerta. Nessa altura, Villas-Boas segurou o treinador e optou por intervenções junto do plantel (das quais não sou apreciadora, porque a hierarquia existe para algo...). Só que, apesar de um dezembro simpático (com um calendário muito favorável, diga-se), houve nova série de três derrotas seguidas e, apenas dois meses depois, Vítor Bruno está na rua. A segunda decisão mais importante a seguir à contratação também falhou. O que leva a que a terceira - o despedimento - tenha chegado tarde.

É que entre novembro e janeiro muita coisa mudou. Se antes a inexperiência e imaturidade do plantel serviam de desculpa, agora há cisões, desabafos no instagram, jogadores perdidos e aos murros no relvado e alguns eventualmente a querer sair. Se antes parecia que a mensagem do treinador não estava a passar por alguma razão, agora isso é um facto. O presidente esperou mais dois meses para ver e assim deixou a equipa em pior estado. A próxima escolha será fulcral e reveladora: se Villas-Boas tiver passado dois meses sem pensar nela, é mais provável que falhe novamente.