Pode ser melhor virar a página

Entre auditorias a dez anos e nome para o museu, Villas-Boas tenta projetar o futuro sem beliscar o passado, mas no que ao banco diz respeito já vai ter de iniciar um novo ciclo

Vítor Bruno ainda ultrapassou um primeiro ciclo de três derrotas, em novembro, mas não resistiu a outro. Já tinha deixado fugir a Taça de Portugal, agora falhou a conquista da Taça da Liga, mas pior ainda foi a incapacidade para colocar o FC Porto no lugar cimeiro da Liga.

Os quatro pontos de atraso para o Sporting são recuperáveis - não só pelo percurso acidentado dos crónicos candidatos ao título, como também pelo calendário dos dragões na segunda volta -, mas o treinador conimbricense chegou a um beco sem saída, mesmo defendendo, até ao último momento, que continuava a ser solução e não problema. O jogo com o Gil Vicente deixou evidente o conflito de ideias na equipa azul e branca, que até iniciou a temporada a praticar futebol promissor, mas que agora parecia disposta a sobreviver à base de jogo exterior e dos (in)consequentes cruzamentos em catadupa à procura do poder físico de Samu. Prescindir novamente de Rodrigo Mora - que tinha ajudado a amenizar a desconfiança dos adeptos enquanto partilhava com os colegas uma ligação especial ao ponta de lança espanhol - também não foi a melhor ideia para um treinador já muito fragilizado.

Mas se a barafunda técnico-tática ainda poderia ter remédio, na eventualidade de um qualquer tratamento de choque, a saída de Vítor Bruno tornou-se inevitável quando ficou à vista de todos que já não tinha o apoio do balneário. Depois dos ensaios com Iván Jaime e Fábio Vieira, o conflito com Pepê teve final amargo para o técnico na tentativa de mostrar pulso firme.

O murro de Samu ao painel das entrevistas rápidas, depois da expulsão de Barcelos, fez prova também de uma equipa com falta de liderança, dentro e fora do campo.

A saída de Vítor Bruno, agora consumada, confirma o erro inicial de André Villas-Boas. Legitimado de forma massiva nas eleições de maio, o sucessor de Pinto da Costa na presidência do FC Porto deveria ter insistido na necessidade de começar algo praticamente do zero no clube. Ao escolher o adjunto de Sérgio Conceição para lhe suceder, o líder dos dragões sabia que estava a carregar numa ferida difícil de sarar.

Entre auditorias a dez anos e o batismo do museu, Villas-Boas tem procurado um difícil equilíbrio entre o respeito pelo passado e a vontade de abraçar um futuro diferente. Pelo menos no que ao banco diz respeito já assumiu que o melhor mesmo é virar a página.