Vencer o destino
O que aconteceu com os jogadores leoninos após o jogo terminar, ainda no relvado, foi mau e só não distingue quem não quer ver a lamentável realidade
O clássico do dia 11 concentrou atenções nacionais. Os jogos são todos decisivos e só no final se podem acertar contas e classificações. Há jogos que se transformam em momento de maior envolvência, ansiedade e vontade de superação. A equipa de arbitragem deve manter rigor, controlo emocional e comportamento adequado à competição. As rivalidades clubísticas focam-se no incentivo e demonstração de confiança à equipa, do início ao apito final. O nosso clube tem de ser o centro das atenções, o 12.º segundo jogador que desempata e mantém acesa a chama da esperança na vitória. Há jogos à volta dos quais se cria uma atmosfera de rivalidade intensa, que altera comportamentos centrados na tradição, no clubismo e ódios de estimação que causam distúrbios lamentáveis. Perder pontos é um retrocesso que coloca dificuldades, porque nem sempre se conseguem recuperá-los. Antevendo os riscos do clássico e a estratégia de vitimização de quem queria estar mais à frente, a designação do árbitro não se devia ter limitado à qualidade técnica mas também à forte personalidade que nem dá tempo para diálogo com os jogadores.
O início do jogo foi evidente: iria ser muito duro, muito intenso e com riscos de lesões e expulsões. Não foi assim que o presidente do Sporting pretendeu, preferindo a provocação. Há opções que podem causar mais danos aos próprios, ao clube e aos seus adeptos. O que aconteceu com os jogadores leoninos após o jogo terminar, ainda no relvado, foi mau e só não distingue quem não quer ver a lamentável realidade. A questão que se deve colocar: qual a razão para tanta provocação, mau perder e procurar criar cenários de vitimização e quem foram os incendiários iniciais? As relações particulares entre as pessoas são da responsabilidade de cada um. As relações institucionais dos presidentes devem ser exemplares, porque envolvem clubes com dignidade e história valiosa, que têm de ser respeitadas. Esquecer que relações pessoais são diferentes de relações institucionais, nunca deve acontecer. Naquele final lamentável após o jogo, os visitantes deram sinais de ter perdido o equilíbrio emocional e, por isso, ninguém ganhou, o futebol saiu derrotado, sem brilho.
Há dirigentes com formas de intervenção inaceitáveis, com discursos de insinuações, acusações constantes e suspeições. Não trouxeram mais-valias para o futebol e apenas potenciam conflitualidade imparável. Se não mudarem de atitude, não há condições para diálogos que promovam o jogo, antes criam mais riscos e desprestígio ao próprio clube. Em diversos canais televisivos são constantes os programas sobre futebol que, em vez de trazerem ideias para um aperfeiçoamento constante, se limitam a guerras de propaganda e maldizer que acabam por ferir o jornalismo qualificado. Confundir a fama dos líderes com a sua vaidade mediática, a utilização de linguagem polémica e destrutiva, conduz o futebol para um destino injusto, mesmo com o recurso à tecnologia (o VAR em particular). A prepotência e arrogância de alguns dirigentes que se julgam especiais e infalíveis estão a causar mais danos e polémicas do que contributos positivos. Quando presidentes de clubes dão imagem de condutores de guerreiros, estão a construir um caminho destrutivo. As equipas tentam dar sempre o seu máximo, porém há jogos onde tudo corre bem e outros onde nada parece acertar: não esquecer que o futebol, felizmente, é universo da incerteza. Basta surgir um remate feliz, ou uma desatenção, e pode surgir uma vitória ou derrota. O que é mais difícil de aceitar são profissionais da arbitragem, que não consigam manter níveis emocionais devidamente controlados, muitas vezes também pela constante pressão de jogadores que deveriam sair mais cedo para os balneários. Também por isso, situações decisivas podem tornar-se focos conflituosos; a escolha da equipa de arbitragem não se pode limitar à competência técnica mas também à capacidade em gerir situações mais complexas, com imparcialidade e rigor: pontuar quem merece e reforçar competências a quem não esteve bem. Por isso, o futebol conserva a sua magia única que esperamos não sofra com decisões parciais.
Uma escola de árbitros jovens, por todo o país, incluindo alunos do ensino básico e secundário, poderá ser passo decisivo para detetar talentos que podem ajudar a desenvolver o futebol, alimentando a paixão e aprendendo a reduzir focos de tensão que, muitas vezes, acabam em situações lamentáveis, agressões e destruições: isso não é futebol, é vandalismo. Aquele final, com jogo concluído, sofreu um ataque que não merecia. Não precisamos de soldados, precisamos de razão, de lideranças que tenham presente o que o futebol nos traz durante séculos. Quando o líder perde a razão e inflama o território, a destruição de valores e de tolerância abre portas para as confusões oportunistas que disfarçam os resultados. Num estádio não estão tropas de guerra e uma hierarquia bélica, mas somente jogadores, treinadores, staff médico e diretor, a representar o seu clube e nunca a tentarem provocar uma atmosfera bélica para esconder o facto de não ter conseguido obter o resultado pretendido. Quando ganham, esperam e saboreiam o prazer da vitória e do reconhecimento. Quando não conseguem liderar a classificação, vão desencantar lendas, sendo incapazes de acabar o jogo e sair naturalmente para os balneários, sem polémica que disfarce um resultado que não pretendiam.
O Dragão foi palco de visitantes que se perderam emocionalmente por causa de liderança infeliz, ansiosa e em luta em várias frentes: eleições à porta deveriam merecer outra atitude e concentração, para não criar nevoeiros densos para um impossível regresso de D. Sebastião. O estádio do Dragão teve visitantes que não conseguiram manter a classe, a qualidade e o respeito que todos merecem. E, como sabemos, violência gera violência e há sempre quem não pensa, mas pretende ter um momento, mesmo falso, para se sentir protagonista… O futebol carece de muito mais e nunca tantos interesses e adeptos fazem o que lhes dizem, sem pensarem por si próprios. Pelo menos, que fique uma lição que ajude a promover profunda reflexão, pois no passado já aconteceram mortes por fanatismo clubístico, precisamente o oposto do que o futebol deve promover.
Adeptos são essenciais, mas com autonomia, fidelidade ao seu clube, sem cultura de ódios, porquanto todos devem poder escolher livremente as cores que apoiam. Que o futebol se una e não permita mais desenlaces bélicos, com lamentável alienação de alguns jogadores profissionais que não souberam cumprir a sua função principal, após o jogo. Alguns nunca serão exemplos para os mais jovens, a não ser que entendam o que é um jogador que motiva a juventude a querer imitá-lo, sonhando para isso: que enorme responsabilidade social!
«Qual a razão para tanta provocação, mau perder e procurar criar cenários de vitimização?»
DESTAQUE DA JORNADA
O FC Porto-Sporting, no Dragão, poderia ter sido um jogo inesquecível, assim não aconteceu! Os leões, marcando cedo, perderam tempo, fazendo da excessiva agressividade e das simulações cénicas o objetivo para impedir o jogo fluido dos azuis a brancos. Tanta perda de tempo e uma arbitragem complicada pelas atitudes de jogadores habituados a pressionar sem sanção, desvalorizando a autoridade e que precisa de solução urgente. O jogo poderia ter sido uma homenagem ao futebol, mas acabou como caricatura sem talento. Ao clássico, faltou segurança, arte e estabilidade, com os visitantes tentando colocar o árbitro em causa, num hábito que não valoriza o futebol. Uma partida que teve 43’ com a bola viva, é clara quanto ao tipo de jogo (e logo com os dois primeiros classificados). No início de março e para a Taça de Portugal, voltam a encontrar-se, dessa vez em Alvalade: urgente uma profunda análise para não mais se repetirem jogos assim! O facto de não reduzir pontos em relação ao FC Porto, provocou confusões lamentáveis, assim como as declarações do presidente leonino foram mais um infeliz exemplo que deveria ter sido evitado, para prestigiar o futebol.
REMATE FINAL
João Mário, jogador formado no FC Porto, inicialmente mais à frente, na ala direita, com a sua velocidade e capacidade de controlo de bola, recuou (a princípio por necessidade da equipa e depois por opção tática) e ficou responsável por esse corredor direito. Tecnicamente muito bom, muito rápido, posicionando-se sempre com eficácia, é um desequilibrador que constrói lances de perigo para os seus avançados. Defende com eficiência e cria espaços para manter o jogo intenso. De princípio a fim, mantém o mesmo ritmo. Mais um jovem jogador com a raça de jogar à Porto.