Bruno Francisco, analista, comenta as explicações do presidente do Sporting à televisão do clube

Varandas sabe muito, até sabe o que é o esternocleidomastóideo

Mas nós, estúpidos ou não, também sabemos o que quer quando fala de árbitros

O presidente do Sporting, depois do empate com o Aves SAD, deu o tiro de partida para que se comece a falar mais de árbitros, no espaço público, que do jogo. Os dados estão lançados. Outros se seguirão, não será preciso esperar muito.

Não é que já se falasse pouco, nem que muitas conversas sobre futebol de dirigentes, treinadores ou adeptos aí acabem. É o nosso futebol, nada de admirar, somos como somos, bem pior do que gostamos de admitir. O assunto estava só adormecido.

Frederico Varandas falou depois de mais um jogo que o Sporting não conseguiu vencer. Já não consegue fazê-lo há cinco. E a última vez que venceu dois seguidos nos 90 minutos ainda Ruben Amorim treinava a equipa. Fica difícil acreditar que a culpa é dos árbitros.

O presidente do Sporting poderá, genuinamente, discordar de decisões de arbitragem e entender que o Sporting está a ser prejudicado em comparação com Benfica e FC Porto. E tem o direito, como qualquer cidadão, de expressar a opinião, dentro dos limites da lei, como qualquer cidadão.

Quando afirma, porém, que o critério de arbitragem em relação aos rivais é diferente já entra em terreno mais pantanoso, sugerindo favorecimentos e, com isso, atacando os fundamentos da integridade do jogo.

Frederico Varandas que reclama uma forma de estar que procura valorizar o futebol português e criar um futebol positivo é o mesmo que já usou da mais fina ironia, própria de quem mais abomina, para dizer que os sportinguistas estão traumatizados com João Pinheiro ou que o Sporting tem muito azar com esse árbitro. Só podem ser estúpidos aqueles que ousam pensar que está a lançar uma suspeição sobre João Pinheiro.

O presidente do Sporting que disse que qualquer árbitro é bem tratado em Alvalade e que ninguém desce ao túnel para intimidá-los é o mesmo que, no túnel do estádio do Famalicão, foi pedir satisfações ao árbitro Luís Godinho, depois de um golo anulado ao Sporting. Pode ter aberto uma exceção por ter sido no Minho.

Frederico Varandas justificou a saída de João Pereira com a falta de recetividade dos jogadores em mudar, os mesmos que também disse serem fabulosos. Reconheceu, em parte, que está refém dos humores dos jogadores. E não conseguiu cumprir a promessa de proteção daquele a quem identificou coragem e muita confiança, para lá de um conhecimento anormal para o jogo. Mantém-se ainda válida a previsão de que João Pereira estará num dos clubes mais poderosos da Europa dentro de quatro ou cinco anos.

O presidente do Sporting, é preciso reconhecer, recolocou a equipa no caminho dos títulos, tem já um lastro muito positivo no equilíbrio de contas e cortou a eito nas relações perigosas com as claques. Neste último caso, teve a coragem que faltou a outros. Percebe-se, também, a justificação para não se ter manifestado, pessoal e institucionalmente, sobre a morte do antigo presidente do FC Porto.

Frederico Varandas sabe muito de futebol, dentro e fora de campo, até sabe o que é o esternocleidomastóideo, mas nós, estúpidos ou não, também sabemos o que quis quando falou de arbitragens. Considerou exagerado ser tratado por santo, mas também não é só uma pessoa normal que luta por títulos.