Uma reflexão especial
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OPINIÃO Uma reflexão especial

OPINIÃO03.06.202410:58

Opção de Mourinho merece respeito...e uma reflexão que não deve ficar pelo próprio

Após 20 anos a treinar nas principais Ligas europeias, as denominadas Big Five, com curtos períodos no desemprego, José Mourinho foi para a Turquia. Depois de Chelsea, Inter, Real Madrid, Manchester United, Tottenham e Roma, o técnico português decidiu sentar-se no banco do Fenerbahçe. Uma escolha legítima, que oferece ao técnico português a oportunidade de continuar a lutar por títulos, embora num plano mais periférico, onde continua a ser visto como o Special One e a ser «amado antes de ganhar», como o próprio destacou na apresentação deste domingo.

Parecia dia de jogo, tal o entusiasmo gerado pela chegada do treinador português, que decidiu salvaguardar o direito a esse aparato, conquistado ao longo da carreira de sucesso. Na Arábia Saudita — ou destino equivalente — a receção também seria assim, mas Mourinho optou por um contexto que pode ser financeiramente (um pouco) menos tentador, mas mais relevante do ponto de vista desportivo, que não é o mesmo que mediático.

O primeiro objetivo será garantir mais uma participação na Liga dos Campeões e provar que é da casa mesmo quando há remodelações. E depois tentar incutir espírito vencedor a um Fenerbahçe que não é campeão há dez anos — soma três anos seguidos como vice — e que já só tem mais três títulos nacionais do que o rival Galatasaray, agora bicampeão.

Ir para a Turquia não representa qualquer mancha para o currículo de Mourinho. Pode até enriquecê-lo. A paixão daqueles adeptos pode revelar-se um combustível valioso nesta fase da carreira do treinador português, até porque corresponder à ambição do Fenerbahçe não é desafio menor do que treinar um West Ham.

A reflexão deve ter um ângulo ligeiramente diferente: ao abraçar este desafio com a legítima paixão de quem ama o que faz, José Mourinho deve pensar o que faz com que não seja candidato aos bancos dos crónicos candidatos à conquista das principais ligas europeias. Tem capacidade para voltar a essas lides, mas por agora parece estar a afastar-se gradualmente desse patamar. Não será uma questão de desatualização, antes a insistência numa abordagem demasiado resultadista e num discurso mais conflituoso do que disciplinador.

Mas até por aquilo que o próprio representa, a reflexão de Mourinho deve incentivar uma análise mais alargada da classe que representa, perante o vazio que fica: talvez Paulo Fonseca venha a contrariar a tendência, mas os treinadores portugueses andam afastados das cadeiras mais cobiçadas do futebol europeu. Pelas portas que Mourinho abriu já pouca luz passa. É verdade que outras ficaram escancaradas, por mérito sobretudo de Jorge Jesus — e depois de Abel, por exemplo — mas é preciso voltar a entrar no mercado principal, agora dominado pelos espanhóis, campeões em França, Alemanha e Inglaterra, ou mesmo na Liga Conferência.