Um líder é admirado, um chefe é temido

OPINIÃO27.09.201904:00

Fábio Silva

Escalado para o onze inicial do FC Porto na primeira jornada do Grupo D da Taça da Liga, Fábio Silva entrou para a história ao tornar-se no mais jovem titular de sempre do Dragão. Recorde-se que o mesmo jogador, que no ano passado venceu a UEFA Youth League e foi campeão nacional de juniores, já integrava os anais do clube azul-e-branco, ao ser o mais jovem de sempre a jogar nas competições europeias (suplente utilizado na vitória por 2-1 sobre o Young Boys, a contar para a fase de grupos da Liga Europa). Isto tudo depois de ter sido também o mais jovem de sempre do FC Porto a jogar no principal escalão do futebol português (derrota por 2-1 em Barcelos com o Gil Vicente, na primeira jornada da I Liga). Mais admirável ainda: há 17 anos que o FC Porto não alinhava um onze inicial com cinco jogadores feitos em casa. Mas atenção, muita atenção: efemérides e estatísticas não marcam golos, não ganham jogos, não conquistam títulos.

Sérgio Conceição

Que Sérgio Conceição é um magnífico treinador é uma evidência por todos reconhecida. E que tem um feitio irascível também. Mas quando esse temperamento o leva a acções como a de repreender - até em público - os seus próprios jogadores, ele tem mesmo de parar para reflectir. Porque o dilema é tão simples de enunciar como complicado de aplicar: ou ele acaba com esse descontrolo emocional, ou este acabará com ele. Seria bom que, para já, começasse por meditar nas palavras de alguém que teve o mesmo ofício mas com muito mais experiência (e títulos também, já agora): «um líder é admirado, um chefe é temido». Palavra de Dom Vicente del Bosque.

Silas

Ano após ano repete-se um fenómeno curioso, mas sobretudo assaz benéfico para o nosso futebol: a revelação de novos treinadores. A próxima vaga a chegar ao topo já parece visível: Ivo Vieira (mais um madeirense), João Henriques e Silas. Creio que este goza dos atributos necessários e predicados suficientes para ter sucesso no Sporting. Embora a agremiação leonina pareça carecer mais de um taumaturgo do que de um técnico.

‘Doping’, imbecilidade & irresponsabilidade ilimitada  

Nos Jogos Olímpicos de Londres, disputados em Londres, a judoca brasileira Rafaela Silva foi desclassificada por ter aplicado um golpe proibido. Na edição seguinte dos Jogos, realizados em 2016 no Rio de Janeiro, Rafaela conquistou a medalha de ouro. Agora, no passado mês de Agosto, acusou a presença de uma substância proibida, o fenoterol, que tem um efeito broncodilatador. Já se sabia que os atletas dopados são como os prisioneiros: são todos, uns e outros, inocentes. Mas a explicação científica que esta Rafaela apresenta para justificar o sucedido merecia, por si só, já não direi um Nobel que premiasse a capacidade ficcional, mas pelo menos um Óscar que reconhecesse a originalidade dos efeitos especiais. Ouça-se então Rafaela na primeira pessoa, em discurso directo: «Eu tenho o costume de brincar dando o nariz para a criança ficar chupando, como se fosse uma chupeta ou mamadeira. O que pode ter acontecido é que, conforme ela ia chupando o meu nariz, eu ia inalando a substância e mandando para o meu corpo». Espantástico!

Já em Portugal a Comissão de Atletas Olímpicos (CAO) lamentou as insinuações feitas pelo anterior presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), por entender que «lança a suspeita de existir um esquema organizado para ganhar a qualquer custo, deixando entender que as recentes medalhas conquistadas em competições internacionais são já fruto deste esquema» e que tal suspeição não se «compagina com as responsabilidades de quem exerce as mais elevadas funções no combate à dopagem (...) sem fundamentos que a comprovem».  A verdade é que tal personagem se desdobrou em declarações públicas, no mínimo, inquietantes. Eis um exemplo: «Efetivamente houve um roubo de mais de duzentas amostras aos CTT, não foi à ADoP. Os bandidos pensavam ser do Sporting e do Benfica, mas as amostras roubadas não foram destes clubes. Tinha indícios de que estas amostras pudessem ser roubadas. Assim, o que fiz foi mandar colocar as amostras destes clubes disseminadas por várias caixas pequenas e preparar uma caixa grande de amostras, altamente ataviada, ou seja, muito mais selada do que as outras em termos visuais, dando o aspeto visual de que esta caixa teria amostras muito importantes. Mas nesta caixa não iam estas amostras do Sporting e do Benfica, mas outras amostras de diversas modalidades que não têm o impacto e a força do futebol. Assim, se os bandidos quisessem roubar estas amostras do Sporting e do Benfica seriam enganados, tal como foram. Ou seja, as amostras que eles queriam roubar e que seriam as do Sporting e do Benfica, não foram roubadas porque eu arranjei um esquema para os enganar.
- Que indícios eram esses?
- Não vos posso dizer isso.
- Mas desconfia de alguém?
- Obviamente que sim. Mas fica para mim.»
Ficamos todos esclarecidos. Obrigadinho.