Um capítulo em aberto

OPINIÃO07:30

O livro ‘Azul até ao Fim’ é a despedida amarga de um homem que abraça a morte com naturalidade; mas será que nestas últimas memórias, Pinto da Costa evocou o 'bibota' Fernando Gomes? 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

O livro ‘Azul até ao Fim’, que Pinto da Costa lança domingo, no edifício da Alfândega, não tem o peso histórico da autobiografia ‘Largos Dias Têm 100 Anos’, que versava sobre os 40 anos de dirigismo do antigo líder portista e no qual era possível colher muitos episódios interessantes sobre a sua vida e a do FC Porto. Esta última obra é um adeus, a despedida amarga de um homem que aceita o abraço da morte com naturalidade, ao ponto de apresentar uma capa que muitos consideram ousada e outros o equivalente a um anúncio de uma funerária brasileira sediada em Juazeiro do Norte ou em Piracicaba.

Alguns trechos da obra já conheceram a luz do dia e criaram forte polémica, o que para a editora é uma ótima notícia. A tentação de falar sobre parte do livro sem o ler integralmente é grande, mas seria um erro. Para compreender o fogo implacável aos inimigos e até algum fogo amigo (a Sérgio Conceição, por exemplo) é preciso lê-lo na totalidade, sendo certo, porque o próprio autor o explica, que o gatilho para a escrita foi o cancro na próstata que lhe foi diagnosticado.

Não sei se haverá um capítulo reservado a Fernando Gomes, cuja vida também ela foi ceifada por um cancro, aos 66 anos. O funeral foi num dia com muita chuva, mas ao contrário do que aconteceu com Eusébio ou Manuel Fernandes, em que os respetivos clubes abriram os estádios para os adeptos se despedirem condignamente de duas lendas, o ‘Bibota’ não recebeu essa honra. E merecia-a, porque foi o maior entre os maiores. Talvez haja uma explicação escondida neste ‘Azul até Fim’. Quem sabe?