Um Benfica em regressão
«Lá, onde a coruja dorme», a opinião de Luís Mateus
O Benfica não está bem e Roger Schmidt também não o parece estar. Se mais provas fossem precisas, bastariam as declarações do alemão antes do jogo com a Real Sociedad e, depois, a exibição diante dos bascos (que conseguiu um triunfo categórico e mais do que justo no Estádio da Luz) para se chegar a tal conclusão.
Os problemas estão lá desde a época passada, naquela incapacidade de jogar sob pressão agressiva, não só tática como física (além da mental, que faz obviamente parte do ‘pacote’ de jogar num clube como o da Luz), e uma cada vez mais evidente incapacidade de recuperar a bola, que estranhamente se tem agravado com os meses, ao contrário do que seria lógico. Quem não esperaria nesta altura uma maior coesão, fruto de um trabalho apurado e de dinâmicas mais trabalhadas? Acho que toda a gente, não é verdade?
É verdade que o técnico germânico perdeu jogadores importantes para o ‘processo’, sobretudo Gonçalo Ramos e Grimaldo - Enzo Fernández já foi há demasiados meses -, porém há uma parte da equação que nasce de um recrutamento menos feliz - se as ideias basilares, como as de pressão e contrapressão, não mudam é preciso que as novas peças do ‘puzzle’ também encaixem - e de um passo na direção de uma evolução dado cedo demais, sobretudo no momento com bola, que depois se reflete quando não a tem.
Num terreno ainda algo movediço, Roger Schmidt não só não avançou para a reestruturação do modelo de acordo com os reforços que quis (ou aceitou, o que vai dar no mesmo) como colocou ainda mais peso ofensivo em número, o que desequilibrou e fragilizou o conjunto.
Mais sensato, neste início de temporada, talvez tivesse sido voltar a simplificar, um ‘back to the basics’ que devolvesse alguma da solidez perdida, rejeitando o 'all-in' em termos ofensivos e privilegiando a pausa e o equilíbrio - na lógica do ‘se atacas bem vais defender melhor’-, que tão bom resultado deu em muitos momentos da temporada transacta. Resumindo, Schmidt quis acrescentar coisas com um outro perfil de jogadores, mas perdeu a sustentação que os anteriores lhe davam. E alguns ainda estão no plantel.
Pior do que tudo isto, é perceber que a comunicação de Schmidt é, afinal, pouco coerente em si mesma, e sim influenciada pelo momento, o que também resulta numa imagem de alguém um pouco perdido. Atirar cá para fora que a fasquia de uma época são duas vitórias que mais parecem circunstanciais do que outra coisa, dado o momento menos bom e a inferioridade numérica do maior rival, não só promete virar-se contra ele no imediato, com os zeros repetidos na campanha europeia, como em eventuais embates com o mesmo e outros adversários.
Roger Schmidt está a deixar que a imagem que tão bem criou num único ano se desconstrua, e a abrir claramente o flanco, numa altura em que os resultados, exceção feita à já referida Champions, ainda não eram nenhum drama. O que será se toda a conjuntura mudar? Vai fechar-se ainda mais em si mesmo?
Schmidt falou, no final, de «um adversário em grande forma», de que «falta equilíbrio e referências» e que o Benfica «não jogou em equipa». Tudo certo. Mesmo assim, não compreendo, desde logo, a não resolução de semana para semana de problemas identificados. Depois, a teimosia em achar que um modelo só por si, se for bem trabalhado (o que estará longe de o ser), bate todos os outros.
Por fim, algumas escolhas, como entender, por exemplo, que diante de uma equipa pressionante faz sentido ter alguém, que não sabe jogar assim, constantemente de costas para a baliza, e define mal oito em dez jogadas, na esperança de que faça aquele lance que sai uma vez ou duas por época. Falo de Rafa. Ou achar que Aursnes, que também já mostrou não ser tolerante à pressão, bom definidor no passe ou exímio recuperador de bolas, deva entrar no ‘duplo-pivot’, facilitando a tarefa basca, com Florentino e Chiquinho sentados no banco. Quer-me parecer que o germânico ainda não identificou todos os problemas. Apesar dos avisos. E alguns até serão criados por si.