Ultrapassado o ponto de não retorno
André Villas-Boas admite avançar já em abril, IMAGO
Foto: IMAGO

Opinião Ultrapassado o ponto de não retorno

OPINIÃO16.10.202310:03

'Cartas na mesa', a opinião de José Manuel Delgado: «Num contexto de enorme preocupação do portismo pelas contas da SAD, André Villas-Boas apontou publicamente à candidatura presidencial.

As contas apresentadas na última semana pelo FC Porto, as terceiras piores de sempre, que apontam para uma falência técnica, não deixaram indiferente o universo azul e branco. A seis meses de eleições no clube, André Villas-Boas, que em várias ocasiões revelou estar a refletir quanto a uma possível candidatura — mesmo que Pinto da Costa vá a jogo —, teve uma intervenção na última quarta-feira, na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, em que mais do que abriu a porta a lutar pela presidência dos dragões, quando disse: «Há uma série de considerações pessoais e profissionais que tenho de ter em conta. Os meus amigos consideram a decisão mais irracional da minha vida, não compreendem como pode gerar tanta paixão dentro de mim. Mas a realidade é que a minha família inglesa está intimamente ligada à fundação do FC Porto. Coisa que eu só soube mais tarde e que vem reforçar essa sensação de destino.» 

Ora, se na quarta-feira Villas-Boas abriu a porta à candidatura, ontem deixou de ter forma de fechá-la. O antigo treinador do FC Porto colocou nas suas redes sociais, neste momento particularmente delicado em que as más contas da SAD trazem adeptos e sócios mergulhados em preocupações, uma fotografia com as lombadas de vários livros, uns sobre campanhas políticas — Campaign Craft, Get Out The Vote, Political Campaigns e Words That Work —, um outro que parece apontar para a atual situação financeira do FC_Porto — Embrace the Chaos — e há ainda um recente trabalho de George Lakoff, The All New Don’t Think Of An Elephant, que exalta o poder das ideias e recomenda positivismo e proatividade, e finalmente, um clássico, Fahrenheit 451, de 1953,  cuja ação decorre num futuro não especificado, onde o pensamento crítico é proibido e as opiniões individuais são consideradas antissociais. Ou seja, dificilmente poderá haver outra interpretação da soma de todos estes fatores que não passe pela entrada de André Villas-Boas na corrida à sua nova cadeira de sonho.

Até abril de 2024 muita água correrá debaixo das pontes do Douro, e ninguém duvidará de que o núcleo duro de Pinto da Costa, particularmente interessado na manutenção do status quo, terá trunfos para jogar. E também haverá poucas dúvidas de que a Villas-Boas só restará avançar. Porque já ultrapassou o ponto de não retorno...

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