‘Too loose’ para ser verdade, Herr Schmidt
Roger Schmidt está a sentir dificuldades em perceber aquilo que é mérito seu e demérito dos outros, e em Toulouse contribuiu também ele para o desnorte da equipa
Aconteça o que acontecer, Toulouse será certamente um marco nas exibições mais estranhas de um Benfica já de sim extremamente errático esta temporada. O que pretendeu Roger Schmidt na segunda mão do play-off da Liga Europa é transparente ou deveria sê-lo para a maior parte das pessoas, porém não resultou.
É verdade que os encarnados foram bem-sucedidos no essencial, ou seja, na qualificação para os oitavos de final, todavia as suas decisões em nenhum momento pareceram suficientes, bem pelo contrário, para manter a eliminatória sob controlo, tivessem sido tomadas antes do pontapé de saída, ao intervalo ou no decorrer da partida.
Não sou, como sabem, daqueles que atiram pedras sem olhar ao trabalho do alemão na Luz, nem me sinto influenciado em nenhum momento pelo que dizem à minha volta, mesmo com toda a toxicidade que tem sido visível sempre que o seu nome vira tema de conversa, porém o que aconteceu esta quinta-feira desafia a lógica do que tem sido sido hábito por parte do técnico.
Schmidt partiu de uma decisão de gestão no embate com o Vizela, carimbado com um 6-1, em que revolucionou o 11 e fez descansar jogadores, como base para o ataque ao encontro europeu, protegido por uma ideia de superioridade que sempre foi real, mas nem por isso transportada para dentro de campo no Estádio da Luz.
Quis dar continuidade aos bons sinais dados por David Neres e, ao juntá-lo a Rafa e a Di María, embora contrabalançando-o com a ética de trabalho defensivo em que Tengstedt se distingue dos outros pontas de lança, recuperou aquela que parece ter sido a imagem com que partiu para esta temporada, a de uma equipa capaz de reunir os elementos mais criativos em campo ao mesmo tempo. Num jogo em que o controlo e a racionalidade poderiam expor um adversário obrigado a atacar para ganhar e seguir em frente, o treinador do Benfica não se preocupou com as fragilidades que a equipa tem vindo a demonstrar há meses, com um ou outro momento de maior equilíbrio, e qual lutador de sumo bateu com as pernas no chão, à vez, para um choque frontal. Fazendo ainda ouvidos de mercador à ideia de que a Europa, mesmo uma Liga Europa e não uma Liga dos Campeões, é sempre um nível de exigência acima de um jogo da Liga, à exceção talvez de dérbis ou clássicos, também por aí se explica a continuidade de João Mário, que tinha jogado bastante bem no jogo do campeonato, no duplo-pivot, com Neves ao seu lado. Nunca esteve confortável.
A diferença entre os dois conjuntos ficou bem patente no primeiro tempo, quando, mesmo sem jogar bem, os encarnados tiveram momentos para se chegar à frente no marcador. Iludido talvez com essas jogadas, ao intervalo Schmidt respondeu ao 0-0 ao pisar um pouco mais no acelerador, com as entradas de Carreras - Morato estava mal, o espanhol entrou pior e não se admirem se Aursnes voltar em breve a ser lateral-esquerdo - e Arthur Cabral, e o carro, que já se mostrava instável e de difícil controlo, fugiu-lhe definitivamente de frente.
Carreras é jovem, porém a exibição de Toulouse, em que sucumbiu à pressão com várias péssimas decisões e abordagens, vai de certeza marcá-lo e reacender o debate sobre mercado do Benfica no que diz respeito ao pós-Grimaldo. Morato parece ter chegado ao seu limite, depois de ter sido importante na estabilização defensiva, e o espanhol, percebe-se, ainda não está preparado para este nível. Já Arthur Cabral, que sem se perceber bem porquê, agora tem entrado e não começado de início, não parecia bem a solução para um jogo que a equipa não tinha controlado. Valia às águias um João Neves, que se compreenderia sempre se não se sentisse preparado para jogar, a carregar a equipa às costas. E o mesmo se pode dizer de António Silva.
Aursnes e Florentino estavam no banco no momento do pontapé de saída. Não faz sentido. Os maiores equilibradores do conjunto deveriam estar no relvado numa partida em que o equilíbrio é fundamental. O norueguês ainda foi a jogo, o português nem por isso, mesmo quando o momento o reclamava. É incompreensível como uma unidade tão importante na conquista de um título seja agora apenas alguém acessório para o projeto, mesmo quando todos os caminhos para o sucesso do conjunto pareçam passar por ele.
Schmidt, aparementemente, está iludido por uma imagem de ataque avassalador que dificilmente será possível, mesmo com toda a gente disponível. E aparenta sim deixar-se influenciar pelos resultados ou exibições sem as conseguir contextualizar. O alemão tem de perceber o que é mérito seu e demérito dos outros rapidamente. Se não, arrisca-se a falhar. Em França, assinou também ele uma exibição muito pouco segura. Too loose, mesmo.
Faltou o «bom» a um bom SC Braga
Escrevi aqui ontem que um bom SC Braga conseguiria recuperar a desvantagem na eliminatória com o Qarabag. A equipa de Artur Jorge conseguiu-o por duas vezes, uma nos 90 minutos e outra no prolongamento. No entanto, um bom SC Braga não se deixaria morrer na praia depois de uma caminhada tão difícil até aí. Não contra dez elementos e nunca da forma como aconteceu, numa altura em que a concentração deveria ser máxima com o aproximar do final do tempo-extra. Há muito a refletir na Pedreira.
Empate não coloca em causa solidez do leão
O Sporting fez o seu papel e não comprometeu, depois de uma boa vantagem conquistada em terras suíças. O objetivo maior era a qualificação e, embora o leão quisesse obviamente vencer uma segunda vez o Young Boys, o empate justifica-se sobretudo pelo desperdício que de vez em quando ataca a equipa, incluindo um penálti desperdiçado por Gyokeres. Nada que coloque em causa a solidez e a consolidação do leão, que parece ser de longe a equipa portuguesa mais consistente da atualidade.