Todos convosco, rapazes!
'Sentido de Pertença' é um espaço de opinião quinzenal do adepto do V. Guimarães André Coelho Lima
1- Escrevo estas linhas depois da primeira derrota do meu Vitória, mas antes do, talvez, jogo mais importante da época. Pode parecer um bocado estranho atribuir tanta importância a um jogo, isto é, a uma eliminatória, quando ainda nem em setembro entrámos. Mas é mesmo assim. O Vitória tem três apuramentos consecutivos para as competições europeias, mas nos dois anteriores não logrou atingir a fase de grupos. É por isso muito que está em jogo.
2- Está em jogo o encaixe financeiro imediato de €4M imprescindível para contribuir para o equilíbrio das nossas contas que, além da dimensão inacreditável do passivo que acumulámos, são deficitárias em € 17M/ano até dezembro/2025. A partir dessa data poderemos voltar a receber em condições normais os €7M anuais de receitas televisivas, verba que representa 32% do orçamento e que estamos impedidos de utilizar por ter sido antecipado o seu recebimento pelo período equivalente a cinco épocas desportivas.
Está em jogo colocar o Vitória em posição de poder readquirir o seu prestígio europeu, que nos distinguiu particularmente nas décadas 80 e 90 do século passado. Como histórico do futebol português o Vitória disputou já mais de 100 encontros europeus desde a sua estreia em 1969/70, venceu adversários temíveis e granjeou prestígio e sobretudo reconhecimento internacional. Neste século, só a campanha 2019/20 em que enfrentámos Arsenal, Eintracht Frankfurt e Standard Liège esteve à altura desses pergaminhos. Precisámos urgentemente de poder regressar a essa imagem que está bem presente nos adeptos de futebol por toda a Europa sempre que referimos o Vitória… de Guimarães (se dissermos o Vitória SC ninguém sabe de que clube se trata).
Está em jogo deixarmos de contribuir para o queixume irritantemente inconsequente acerca dos responsáveis pela descida de Portugal no ranking da UEFA. O não apuramento dos clubes portugueses para a fase de grupos da Liga Conferência, desde que existe esta competição, tem sido apontada como a responsável por essa descida de Portugal e ultrapassagem pela Holanda, mas independentemente da segurança aritmética dessa afirmação, todos apontam ser essa circunstância reveladora do desequilíbrio existente no futebol português entre os três habitualmente primeiros e os demais. Todos traçam o diagnóstico, mas ninguém está disponível a discutir o que interessa para que essa deixe de ser uma realidade. A este assunto voltarei noutro momento. Neste momento só nos interessa deixar de contribuir para isso. Por isso intitulei este texto dizendo que “Todos” estaremos com o Vitória.
3- Apesar de preferir voltar este espaço para o futuro, não podia ignorar a primeira derrota sofrida pelo Vitória, este domingo, em casa do AVS. Perdemos, mas fizemos tudo para ganhar. Tal como milhares de vitorianos estive na vizinha Vila das Aves e assisti a um Vitória a encher o campo todo, a fazer uma pressão alta que não deixava o adversário respirar, a produzir um futebol ofensivo constante que podia/devia ter permitido vários golos nos primeiros 20/30mn. Assim não sucedeu, o que acabou por redundar em mais um exemplo de aplicação da velha máxima de que «quem não marca, arrisca-se a sofrer». Não éramos os melhores ontem como não passámos a ser os piores hoje. Há coisas a corrigir, para o que deposito plena confiança em Rui Borges, que já demonstrou saber o que faz. E afinal, o saldo de golos continua a ser 15-1. Continuemos a confiar no excelente trabalho que tem sido feito.